Aquela viagem foi considerada uma das maiores explorações da história da humanidade, não inferior à de Marco Pólo, três séculos antes. Bento de Goes foi soldado na Índia, por volta dos seus vinte anos. Ali levou uma vida boémia até ao momento em que, segundo a lenda, teria tido uma “visão”, numa pequena igreja de aldeia. Decidiu então entrar para a Companhia de Jesus, o que foi concretizado em Goa. Dois anos depois, resolveu abandonar a Companhia e viajou por vários reinos asiáticos. Em 1588, regressou à Casa dos Jesuítas, em Goa, e mudou o seu nome para Bento de Goes.
Em Setembro de 1602, iniciou a grande odisseia, partindo de Goa com um pequeno grupo, para uma viagem de mais de 6 mil quilómetros, a efectuar em mais de três anos. A viagem, como se imagina, não foi fácil, devido aos vários conflitos na região e aos desertos e montanhas que tiveram de atravessar. Além disso, a maior parte do percurso foi feito através de territórios dominados pelos muçulmanos, que nutriam grande animosidade pelos cristãos. No começo de 1606 chegou por fim a Sochaw. Doente e quase sem meios de subsistência, comunicou o facto por carta ao padre Matteo Ricci, residente em Pequim, que lhe enviou o padre João Fernandes, um jesuíta de origem chinesa, para o trazer. No entanto, quando o padre Fernandes chegou junto de Bento de Goes, já este estava moribundo.
Bento de Goes tinha grandes conhecimentos das culturas e costumes asiáticos, dominando várias línguas, entre elas o persa e o turco, tendo registado toda a sua viagem num diário. Este documento seria, no entanto, quase completamente destruído, porque também lá estavam indicadas as quantias que outros lhe deviam... Acabou por ser o padre Ricci quem, juntando cartas, outros documentos e restos do diário de Bento de Goes, escreveu uma narrativa da sua “odisseia”. Ignora-se onde foi sepultado, porventura algures junto da Muralha da China.
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