Foi uma personalidade única
no que se refere ao panorama das artes em Portugal, muito devido ao facto de
ter conseguido articular a tradição portuguesa com as inovadoras correntes
europeias do início do século.
Com 70 anos de actividade
profissional, Lino é autor de mais de 700 obras. Também é importante referir
que apesar do seu leque de projectos, ele também foi um homem com uma vasta
obra teórica ou escrita, o que se tornou muito determinante, para os seus
seguidores aos longo de décadas em Portugal.
Raul Lino fez os seus estudos
na Grã-Bretanha e Irlanda, para onde se deslocou com 10 anos de idade, e depois
de 1893 na Alemanha, onde trabalhou no atelier de Albrecht Haupt, com quem
manteve uma amizade duradoura.
O encontro e a amizade que
manteve com o arquitecto alemão foi um dos pontos marcantes da sua formação
estética, arquitectónica e da concepção do cultural. Haupt era apaixonado pela
arquitectura do renascimento e levou a cabo várias viagens de estudo em Itália,
Espanha e Portugal, procurando o contacto directo com as obras, por mais
recônditas que estivessem, desenhando-as e documentando-se abundantemente. Uma
concepção da cultura como elemento vivo, que se pode experimentar no terreno e
participar nela.
Raul Lino regressou a
Portugal em 1897, onde continuou os seus estudos. Desempenhou cargos no Ministério
das Obras Públicas e foi superintendente dos Palácios Nacionais. Foi
membro fundador da Academia Nacional de Belas Artes, sendo seu
presidente no momento da sua morte. No sector da imprensa, foi colaborador
artístico em diversas publicações periódicas, nomeadamente nas revistas: “Atlântida”
(1915-1920), “Homens Livres” (1923), “Ilustração” (desde 1926) e
na “Revista Municipal de Lisboa” (1939-1973).
Ao longo dos seus 70 anos de
artista e arquitecto, defendeu a tradição na concepção das formas, afirmando
que a arte e a arquitectura são elas também um produto do homem e para os
homens, com história, genealogia, características e funcionalidades próprias do
espaço e do tempo em que se inserem e da comunidade para que são produzidas. Foi,
assim, um defensor da tradição versus modernismo ou um modernista da tradição.
Em 4 de Março de 1941, foi
feito comendador da Ordem Militar de Cristo.
Nasceu e foi baptizado na Paróquia
da Lapa, em Lisboa, filho de José Lino da Silva, negociante, e de Maria
Margarida de La Salette Lino, ambos naturais de Lisboa.
Casou em Lisboa, na Igreja
de São Sebastião da Pedreira, em 29 de Abril de 1907, com Alda Decken dos
Santos, então ainda menor, de 19 anos, natural de Lisboa. Viveu numa casa na Avenida António Augusto
de Aguiar, em Lisboa, propriedade da sogra. Do casamento, resultaram duas
filhas: Isolda e Maria Cristina.
Morreu em 1974, na freguesia
da Penha de França, em Lisboa, onde residia, então, na Rua Feio Terenas.
Foi sepultado no Cemitério de São Pedro de Sintra.
No fundo, podemos considerar
Lino como um arquitecto de um paradigma consistente e inovador. Criando espaços
voltados e organizados para pátios interiores, onde existe a criação de sombras
e espaços de transição, em que valoriza os alpendres, uma pouco numa perspectiva
anti/urbana. Designada romanticamente por Raul Lino como espírito do lugar,
muito ao jeito de Frank Lloyd Wright (1876-1959), a sua arquitectura valorizava
a articulação com a paisagem, segundo uma composição orgânica, sábia e
intuitiva, com gosto pelo uso de materiais tradicionais, que apesar de terem um
carácter decorativo são essencialmente funcionais, de acordo com os modos
tradicionais do Arts and Crafts. Elaborou projectos a partir da planta,
com uma interpretação das necessidades dos seus utilizadores com um cuidado de
quem entende a casa como um espaço de vivencia tanto individual como colectiva.
Com uma aspiração de projectar uma obra de arte total, na qual vai envolver o
seu mobiliário e o desenho do jardim.
Ao longo da sua vida,
projectou mais de 700 obras, tais como a Casa dos Patudos, em Alpiarça,
para José Relvas (1904), a Casa do Cipreste, em Sintra (1912), o Cinema
Tivoli, em Lisboa, (1925), o Pavilhão do Brasil na Exposição do
Mundo Português de 1940.
Em 1912 foi-lhe encomendado o
projecto e requalificação das novas instalações do Jardim Zoológico de
Lisboa na Quinta das Laranjeiras, obra de grande destaque que
qualificaria o Zoo como dos mais relevantes da Europa do século XX.
Foi ainda autor de numerosos
textos teóricos sobre a problemática da arquitectura doméstica popular, como A
casa portuguesa (1929), Casas portuguesas (1933) e L’évolution de
l’architecture domestique au Portugal (1937).
Posteriormente, alguns textos
foram reunidos num livro publicado pelo jornal “O Independente” em 2004,
de nome “Não é artista quem quer”.