EFEMÉRIDE - Eduardo
de Oliveira Coutinho, jornalista, guionista, realizador e produtor de cinema
brasileiro, morreu no Rio de Janeiro em 2 de Fevereiro de 2014. Nascera em São
Paulo, em 11 de Maio de 1933. É
considerado um dos maiores documentaristas da história do cinema do Brasil.
A sua obra-prima é “Cabra
Marcado para Morrer”, que marcou a sua carreira como o principal
documentarista do Brasil. Entre outros trabalhos destacados da sua carreira,
estão os documentários “Santo Forte”, “Edifício Master”, “Peões”,
“Jogo de Cena” e “As Canções”.
Eduardo Coutinho estudou no Colégio
São Luís. Aos 19 anos, ingressou na Universidade de São Paulo para
cursar Direito, mas não concluiu a licenciatura. Teve o seu primeiro
contacto com o cinema em 1954, num seminário promovido pelo MASP e
dirigido por Marcos Marguliès. Também naquele ano, começou a trabalhar como
revisor e copidesque na revista “Visão”, função que exerceu até 1957.
Dirigiu a peça infantil “Pluft, o Fantasminha”, escrita por Maria Clara
Machado. Após ter conquistado um prémio em dinheiro num concurso de televisão,
respondendo a perguntas sobre Charles Chaplin, mudou-se para Paris, ainda em
1957, a fim de estudar direcção e montagem de filmes no IDHEC, onde
realizou os seus primeiros documentários.
Regressou ao Brasil em 1960 e
ingressou no Centro Popular de Cultura da União Nacional dos
Estudantes. Trabalhou na montagem da peça “Mutirão em Nosso Sol”,
apresentada no I Congresso dos Trabalhadores Agrícolas que se realizou
em Belo Horizonte, em 1962.
Ao mesmo tempo, entrou em contacto
com nomes do Cinema Novo, como Leon Hirszman e Joaquim Pedro de Andrade,
e foi o gerente de produção da longa-metragem “Cinco Vezes Favela”,
primeiro filme produzido pelo CPC e um marco do movimento.
Aceitou o convite para viajar com
o UNE Volante para o Nordeste. Nessa viagem, filmou o comício de
Elizabeth Teixeira, viúva do líder das Ligas Camponesas, João Pedro
Teixeira, na cidade de Sapé, e esse material originou o argumento da primeira
versão do filme “Cabra Marcado para Morrer”. O filme chegou a ter duas
semanas de filmagens, mas - com o Golpe Militar de 1964 - parte da equipa
foi presa sob a alegação de comunismo e os restantes dispersaram-se,
interrompendo a realização do filme durante quase duas décadas.
Ainda na década de 1960,
Coutinho constituiu, com Leon Hirszman e Marcos Faria, a produtora Saga
Filmes, sendo guionista de vários filmes.
No início da década de 1970,
voltou ao jornalismo, como modo de ganhar a vida e actuou como revisor e
crítico de cinema, no “Jornal do Brasil”. Paralelamente, manteve-se no
cinema, embora este não fosse o seu principal meio de sobrevivência. Dirigiu
uma adaptação de Shakespeare para o cangaço brasileiro, em que o personagem
Falstaff se tornou o Faustão (1971). Também continuou a assinar guiões de
produções nacionais, como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” de Bruno
Barreto (1976).
Em 1975, aceitou um convite para
integrar a equipa do programa “Globo Repórter”, da Rede Globo,
atraído não só pela estabilidade financeira que a televisão oferecia naquele
tempo, mas também pela oportunidade de trabalhar a linguagem documental com
maior liberdade editorial, visto que o país ainda vivia sob censura do governo
militar. Com programas rodados em 16 mm, acabou por desenvolver a sua vocação
de documentarista em filmes para a TV.
Em 1981, reencontrou os negativos
de “Cabra Marcado para Morrer”, que haviam sido escondidos da polícia
por um membro da equipa, e resolveu retomar o projecto. Decidiu, então, mudar a
concepção original de filme de ficção para um documentário sobre a interrupção
das suas filmagens e sobre a vida real das pessoas que seriam os actores da
longa-metragem. Graças à estabilidade financeira conseguida com o “Globo
Repórter”, pôde financiar o filme com os seus próprios recursos e, durante
três anos, aproveitou as viagens de trabalho ao Nordeste para localizar os actores
da versão de 1964 e gravar entrevistas com os mesmos. O filme foi finalizado e
lançado em 1984, sendo vencedor de 12 prémios em festivais internacionais,
entre os quais, o Prémio da Crítica Internacional do Festival de Berlim
e Melhor Filme no Festival du Réel.
Após o sucesso de “Cabra
marcado para morrer”, Coutinho pediu a demissão do “Globo Repórter”,
para se dedicar exclusivamente ao cinema. Ao longo dos 15 anos seguintes, teve
muitas dificuldades para sobreviver apenas de cinema, tendo assim dirigido ou
escrito guiões de vídeos institucionais. Dirigiu para o CECIP - Centro de
Criação da Imagem Popular (com temas ligados a cidadania e educação) e
escreveu guiões para séries documentais da Rede Manchete (como “90
Anos de Cinema Brasileiro” e “Caminhos da Sobrevivência”, este
último sobre a poluição em São Paulo).
Com as dificuldades de
financiamento impostas à produção cinematográfica, ao longo daquele período,
Coutinho realizou documentários de curta ou média-metragem, de pouca
repercussão. Ainda realizou, em 1994, “Os Romeiros de Padre Cícero”,
documentário financiado pela TV alemã ZDF Arte.
Em 1997, teve a ideia de fazer um
filme sobre religião e pediu ajuda a José Carlo Avellar, então director-presidente
da RioFilme, para financiar o documentário. Com custo de 300 mil reais, quase
dois anos de trabalho e produção do Centro de Criação da Imagem Popular,
Coutinho lançou “Santo Forte” em 1999.
A partir dali a sua carreira
renasceu mais uma vez e passou a trabalhar com colaboradores regularmente,
conseguindo manter uma produção constante de filmes, graças à parceria com a
produtora VideoFilmes, do também documentarista João Moreira Salles, que
desenvolveu com ele fortes laços de amizade, ajudando-o a viabilizar e
envolvendo-se na elaboração dos seus sete documentários seguintes, realizados
entre 2000 e 2011.
Durante estes onze anos, foi
premiado numerosas vezes. Em 2013, ao completar 80 anos de idade, foi
homenageado na Festa Literária Internacional de Paraty e na Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo.
Em Fevereiro de 2014, estava a
finalizar um documentário, no qual entrevistava adolescentes da rede pública escolar
do Rio de Janeiro. Foi morto à facada, no seu apartamento, pelo próprio filho,
que sofria de esquizofrenia. No mesmo ano do seu falecimento, foi homenageado
na cerimónia de entrega dos Oscars.
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