EFEMÉRIDE - Ana Vieira,
artista plástica portuguesa, morreu em Lisboa no dia 29 de Fevereiro de 2016.
Nascera em Coimbra, em 2 de Agosto de 1940.
Afirmando-se a partir do final da
década de 1960, destacou-se no cruzamento das diversas disciplinas
artísticas, criando um corpo de trabalho original e inspirador no conjunto da
arte portuguesa contemporânea.
Passou a infância na ilha de S.
Miguel, nos Açores. Frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa,
terminando o curso de Pintura em 1965. Foi casada com o pintor Eduardo
Nery, mãe de Paula Nery e do arquitecto Miguel Nery. Ana Vieira viveu e trabalhou em Lisboa.
Expôs desde 1965, mas a sua
primeira mostra individual só acontece em 1968. Intitulada “Imagens Ausentes”,
esta mostra deixou claro o interesse de Ana Vieira em superar a dimensão
estritamente pictórica do trabalho criativo, investindo em suportes desviantes,
em relação ao modelo do quadro pintado. Sintonizado com as tendências conceptuais
emergentes, o seu trabalho manifestou-se, desde esse primeiro momento, pela
revelação de uma proposta pós-pictural aberta à linguagem dos objectos comuns,
tomando como modo preferencial a instalação, para o que iria utilizar uma
grande diversidade de materiais e dispositivos, como biombos e elementos em
madeira, peças de mobiliário, tecido, vidro espelhado...
“Sala de Jantar”, de 1971,
pertencente à colecção do CAMJAP, insere-se nesse quadro de transgressão
das categorias tradicionais (pintura e escultura). Esta obra veio reiterar a
sensibilidade da artista para a criação de simulacros, através dos quais
analisava as redes de sociabilidade, afecto e memória, que se estabelecem no
espaço doméstico.
A grande simplicidade das suas
obras pode lembrar as sombras de Lourdes Castro ou os espelhos de Michelangelo
Pistoletto, mas a sua visão distingue-se claramente de ambos. A percepção
visual dos espaços é condicionada por um jogo de transparências, véus, telas,
redes e tramas que os envolvem: o observador acaba na posição de voyeur,
tentando, por frinchas e buracos, perceber o interior dos ambientes. A maior
parte das suas obras não se vêem, espreitam-se…
As referências à casa – das
paredes que a encerram às portas e janelas –, são recorrentes na sua obra. Ela
cria ambientes: constrói lugares habitados ou desabitados, hospitaleiros ou
hostis, ocultos ou desvelados, silenciosos ou plenos de sons que exigem
descodificação. Propõe, impertinentemente, corredores mutantes que
atravessamos, espaços inquietos e inquietantes que nos expulsam, portas
entreabertas que a um tempo mostram e velam, objectos reais ao lado de outros
simulados. Levanta paredes que questionam: a segurança e as certezas do abrigo,
a distância e a proximidade, a diferença entre o espaço público e o privado, o
interior e o exterior.
Ana Vieira realizou outras
experiências, diversificadas, na área da cenografia, como a produção de
cenários e figurinos para o teatro (peças de Adolfo Gutkin, Bertolt Brecht e
Jean-Paul Sartre).
Em 1977, Ana Vieira foi uma das
participantes na exposição “Alternativa Zero”. Em 1991, recebeu o prémio
da AICA/SEC. O Museu de Serralves, no Porto, dedicou-lhe a sua primeira
exposição antológica em 1998. Em 2010/2011, o Centro de Arte Moderna José de
Azeredo Perdigão, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, em
colaboração com o Museu Carlos Machado, Ponta Delgada, apresentou a
maior retrospectiva da carreira da artista.
Faleceu aos 75 anos de idade, num
hospital de Lisboa, vítima de cancro.
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