EFEMÉRIDE
– José Messias da Cunha, compositor, cantor, escritor, apresentador e
produtor de rádio e televisão, além de jornalista, crítico musical e jurado em
programas de talentos na TV, morreu no Rio de Janeiro em 12 de Junho de 2015.
Nascera em Bom Jardim
de Minas no dia 7 de Outubro de 1928. Foi figura de relevo na cultura artística
brasileira durante várias décadas, desde a era de ouro da rádio e do início da
televisão no país.
Nascido
numa família pobre, mas extremamente musical (o pai e o avô eram regentes de
banda; o tio era trombonista), começou ainda jovem a compor músicas para blocos
de carnaval. Essa verve artística e musical iria acompanhá-lo por toda a vida
nas múltiplas facetas de expressão.
Mudou-se
mais tarde para Barra Mansa, levado por um parente, que o ensinou a ler e a escrever.
Este parente era autodidacta, falando fluentemente Latim, Inglês, Esperanto e sendo
ainda grande conhecedor da gramática Portuguesa. José Messias aprendeu também os
ofícios do circo, em pequenas companhias locais, tendo actuado inclusivamente
como palhaço.
Em
1945, seguiu para o Rio de Janeiro — onde viveria várias décadas — e participou
em vários programas de rádio (entre os quais, “Papel Carbono”). Estudou
no Liceu de Artes e Ofícios, trabalhando ainda no comércio, durante
algum tempo, até ser apresentado ao compositor Herivelto Martins, de quem veio
a ser secretário.
Com
este trabalho e com os relacionamentos no meio artístico de então, as oportunidades
começaram a surgir e José Messias chegou a substituir o Grande Otelo em
vários espectáculos. Continuou a compor músicas de Carnaval e, em 1952,
conseguiu que fosse gravada a “Marcha do Coça Roça”, a sua primeira grande
composição, que veio a ser interpretada por Heleninha Costa. Seguiram-se,
depois, várias outras interpretações de composições suas, por artistas famosos
da época de ouro da rádio brasileira. Por essa altura, colaborou também em
jornais e revistas.
Em
1954, o então ministro do Trabalho João Goulart nomeou-o para o Serviço
de Recreação Operária, porém à disposição da Rádio Mauá, o que lhe
permitiu continuar a desenvolver os seus atributos musicais.
Em
1955, estreou-se como apresentador de auditório na Rádio Mayrink Veiga. Durante
dez anos, acumulou o exercício da função pública com as actividades privadas de
direcção e apresentação de programas, em várias rádios emissoras no Rio de
Janeiro. Identificado com a juventude da época, José Messias renovou o cenário
musical de então, criando – em conjunto com Carlos Imperial e Jair de Taumaturgo
– o marcante movimento de renovação e vanguarda musical que veio a ser a Jovem
Guarda. Vanguardista em cultura musical, lançou no estrelato muitos
cantores, por meio do seu programa “Favoritos da Nova Geração”. Figuram
entre os mais conhecidos e famosos os artistas Clara Nunes, Roberto Carlos e
Wanderley Cardoso. Ainda em 1955, compôs o samba “A mão que afaga”,
gravado na Continental pelos Vocalistas Tropicais.
Em
1956, estreou-se em discos com a Gravadora Mocambo, gravando, de sua
autoria e de Carlos Brandão, a batucada “Macumbô” e o samba “Deus e a
natureza”.
Seguiram-se
vários discos em diversas editoras, entre os quais o samba “O sono de
Dolores” (1959) em homenagem a Dolores Duran, que acabara de falecer.
No
começo dos anos 1960, foi um dos radialistas que mais apoiou o movimento
ligado ao rock, prestigiando os artistas ligados à Jovem Guarda.
Actuou
nas televisões Tupi, Continental, Rio e Excelsior.
Na TV Tupi, participou no programa “A Grande Chance”. No SBT
de São Paulo, participou, desde o ano 2000, no “Programa Raul Gil”, tendo
também actuações muito frequentes nas diferentes emissoras cariocas,
especialmente na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Em 2002, produziu o
CD “Selecção Nota 10 De José Messias” na Warner.
Compositor
desde a juventude, José Messias era sócio honorário da Sociedade Brasileira
de Autores, Compositores e Escritores de Música. Foi autor de mais de
duzentas composições, algumas delas tendo sido gravadas por grandes nomes da música
popular brasileira, como Ângela Maria, Caetano Veloso, Clara Nunes, Marisa
Monte e Roberto Carlos, entre muitos outros.
Na
década de 1970, enquanto ainda trabalhava na rádio, ingressou nas duas
principais emissoras de televisão cariocas, a TV Tupi e a TV Rio.
Pouco depois, fez parte do júri musical mais importante da televisão brasileira
de então, no famoso programa “A Grande Chance”.
Em
1972, transferiu-se para a TV Bandeirantes e para o Sistema
Brasileiro de Televisão (SBT), produzindo e dirigindo o “Clube
dos Artistas”.
No início
dos anos 1980, adquiriu emissoras de rádio da Região dos Lagos e do “Jornal
de Negócios”, assumindo, em 1990, a superintendência do Sistema Serramar
de Comunicações, que então congregava cinco emissoras. Em 1998, foi nomeado
para a Secretaria de Cultura, Educação, Desporto e Lazer de Saquarema.
Em
2002, tornou-se jurado no “Programa Raul Gil”. Além da função de jurado
ilustre nos vários programas de talentos apresentados por Raul Gil, em sucessivos
canais de televisão, José Messias dedicou-se também a recordar momentos
marcantes da rádio e da televisão brasileiras.
José
Messias da Cunha foi membro da Academia Nacional de Letras e Artes. Lançou
o seu primeiro livro, “Sob a Luz das Estrelas: Somos uma Soma de Pessoas”.
Na obra, ele apresenta a história da sua vida e carreira, bem como as memórias
da Rádio e da Televisão no Brasil, das quais foi co-protagonista.
Morreu
aos 86 anos, devido a uma assepsia abdominal. Estava internado há dez dias no Hospital
Italiano, no Grajaú, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi sepultado no Cemitério
de Saquarema, no Rio.
José
Messias era Cidadão Benemérito da Cidade do Rio de Janeiro, detentor da Medalha
Tiradentes e recebeu o Prémio Noel Rosa do Sindicato dos
Compositores Brasileiros.
Sem comentários:
Enviar um comentário