EFEMÉRIDE - Franklin
Vilas Boas, artista plástico popular, nasceu em Esposende no dia 1 de Março de
1919. Morreu na mesma cidade em 23 de Abril de 1968. Dedicou grande parte
da sua vida à escultura: representações humanas, ícones religiosos e figuras
zoomórficas de natureza fantástica. É considerado um dos maiores e mais
originais representantes da arte popular portuguesa, utilizando como matéria
privilegiada de expressão a madeira.
O pai fora emigrante no Brasil
durante alguns anos. A mãe trabalhava regularmente na cidade do Porto, como
criada-de-servir. Eram gente pobre.
Educado pelo pai, que não hesita
em aplicar na formação do filho uma pedagogia dura e muitas vezes violenta,
Franklin, analfabeto, aprendeu o ofício da alvenaria, esculpindo a pedra. Mas,
seja por que motivo for, por não gostar desse material ou por ter um braço
defeituoso, Franklin preferia trabalhar com madeira.
Com um modo de ser conflituoso,
por certo devido à influência paterna, Franklin ganhou a vida, durante uma boa
parte dos anos 1950, trabalhando numa bomba de gasolina e vendendo aos
clientes umas caixinhas de papelão primorosamente decoradas. Começou a ser notado
por certos coleccionadores, que descobrem a sua obra. Chama-lhes “doutores” e
inibe-se de demonstrar - perante eles - o seu mau feitio, agravado por algum
excesso de bebida.
O grande evento que lhe concede o
estatuto de “artista” foi um artigo do “Diário Popular”, em 1966. A
propósito da reviravolta, ele confessou: «Foi de repente. Foi como se alguém
me tivesse tocado no coração e na cabeça. Foi de um dia para o outro, da noite
para o dia. Eu julgo que foi a inteligência que começou a subir para o cérebro».
Tendo decididamente recusado a
pedra, iniciou a sua experimentação artística com o chumbo (estátua de António
Correia d’Oliveira, exposta na Praça do Município de Esposende). Depois,
explorou o marfim e acabou por se fixar na madeira. Aos domingos, engraxava
sapatos para ganhar a vida. Nas horas de lazer, entretinha-se a esculpir à
navalha as «canhotas», as raízes que as enchentes do rio Cávado lançavam
na praia, retirando-lhes o que lhe parecia «estar a mais». Parte da obra
criada, em vez de vendida, era trocada por géneros.
Um arquitecto de Lisboa, que se
apercebeu da qualidade do seu trabalho, fez-lhe algumas encomendas e Franklin
começa a ser conhecido nos meios cultos da capital.
Franklin deslocou-se a Lisboa,
para participar em exposições de artesanato (Lisboa e Estoril), onde vendeu
obras suas.
Foi inaugurada em 30 de Março de
1968 (mantendo-se até 17 de Abril), no Centro Académico de Famalicão,
uma exposição intitulada “Quintino e Franklin Vilas Boas”. No catálogo
dessa exposição, Ernesto de Sousa sublinha a necessidade de manter vivo o
interesse pelo trabalho dos dois artistas. Franklin congratula-se por conseguir
vender uma quantidade importante dos seus trabalhos. A exposição foi referida
pelo jornal “A Capital” de 17 de Abril.
Franklin Vilas Boas sucumbiu dias
depois do encerramento da exposição, quando foi atropelado na sua motorizada
pelo automóvel de um comerciante do Porto.
Uma grande exposição sobre a obra
de Franklin Vilas Boas, intitulada “Onde mora o Franklin? Um escultor do
acaso”, foi organizada em Lisboa pelo Museu Nacional de Etnologia,
em Dezembro de 1994. A exposição reuniu obras do autor pertencentes a
quarenta e dois coleccionadores privados.
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