De
nacionalidade portuguesa, sendo a quarta filha de António Manuel Salvado,
comerciante português oriundo de Medelim (Castelo Branco) e radicado em Macau,
e de Áurea Angelina da Cunha Salvado, uma macaense natural de Macau.
Estudou
no Liceu de Macau e, no dia 1 de Novembro de 1931, casou com Luís Gaspar
Alves, em Cantão. O casal foi viver para Xangai, que era na altura uma grande e
distante cidade cosmopolita. Porém, mais tarde, eles acabaram por se divorciar.
Em
1937, já em fase de separação com Luís Alves, ela refugiou-se em Hong Kong com
os seus filhos José Maria Salvado Alves e Rui Cândido Augusto Alves, porque
Xangai foi invadido pelos japoneses.
No
entanto, em Dezembro de 1941, Hong Kong foi também ocupada pelos japoneses,
começando assim um período sombrio para esta colónia britânica, que só terminou
com a rendição do Japão em Agosto de 1945. Durante este difícil período, ela
foi directora duma escola portuguesa em Hong Kong e tradutora de notícias do
inglês para o português para o jornal “A Voz de Macau”.
Com
o fim da Segunda Guerra Mundial, Deolinda da Conceição regressou a Macau
com os seus dois filhos. Lá, ela tornou-se secretária da direcção e jornalista
do diário “Notícias de Macau”, fundado em Agosto de 1947, e professora
de Inglês e Estenografia na Escola Comercial Pedro Nolasco.
No dia 29 de Maio de 1948, casou em segundas núpcias com António Maria da
Conceição, que era seu colega de trabalho e se tornou depois director do “Notícias
de Macau”. Ela escrevia no jornal crónicas, artigos de crítica literária e
artística, ensaios, contos e uma “página feminina” que foi muito
apreciada.
Em
1956, ela visitou Portugal pela primeira vez, num paquete, juntamente com o seu
novo marido e o seu filho António Maria da Conceição Júnior, que nasceu em
1951. Permaneceu seis meses em Lisboa, onde conseguiu convencer a prestigiada Livraria
Francisco Franco a publicar o seu único livro, a “Cheong Sam - a Cabaia”.
Porém,
Deolinda foi diagnosticada com uma doença incurável e, contra o tempo, tentou
conhecer mais e melhor Portugal, a sua pátria.
Em
1957, ela regressou a Macau com o seu marido e o seu filho António. Foi
imediatamente hospitalizada em Hong Kong, onde faleceu, com apenas 43 anos.
“Cheong-Sam
- a Cabaia”, o seu único livro, foi publicado pela primeira vez em Lisboa
em 1956 e é composto por 27 contos, na sua maioria já publicados anteriormente
no “Notícias de Macau”. Todos estes contos tratam principalmente da
posição e condição das mulheres na China e em Macau. Mais concretamente, retratam
a luta das mulheres chinesas educadas e ocidentalizadas pela sua emancipação
numa sociedade profundamente tradicional e patriarcal. Contam também a vida das
mulheres e homens chineses que sucumbiam ou lutavam contra a opressão, a
pobreza extrema e as milenares superstições. Reflectem também sobre os perigos
do materialismo e os inúmeros preconceitos que a mulher chinesa sofria.
Os
seus contos retratam também os efeitos da Segunda Guerra Mundial, que a
própria autora experimentou. Denunciam também as inúmeras injustiças sociais,
nomeadamente os casos de chineses de Macau que eram discriminados pela
comunidade portuguesa e macaense.
Neste
livro, também há contos de amor, na sua maioria com um fim trágico, resultante
de barreiras socioecónomicas ou raciais intransponíveis. Como mestiça
luso-descendente ou macaense, Deolinda da Conceição sabia bem a força e os
efeitos nefastos destas barreiras, nomeadamente as raciais.
Mas,
nem todo o livro é tragédia e tristeza, tendo também algumas passagens onde
várias personagens revelam solidariedade humana e renúncia da condição e classe
social que a sociedade lhes deram. Para Deolinda, estes sentimentos nobres
humanizam as relações sociais, tornando a sociedade mais livre e feliz.
Na
altura e depois da sua publicação, o livro recebeu elogios de diversos
escritores e críticos de Portugal e de Macau.
Em
1979, o seu filho António conseguiu convencer o Governo de Macau a reeditar a “Cheong-Sam
- a Cabaia”. Em 1987, o Instituto Cultural de Macau publicou uma
nova edição deste livro e no ano seguinte publicou a sua versão chinesa. Em
2007, o Instituto Internacional de Macau patrocinou uma nova edição da “Cheong
Sam - A Cabaia”, cujo lançamento coincidiu com o 3° Encontro das
Comunidades Macaenses.
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