EFEMÉRIDE
– Mário Emílio de Morais Sacramento, médico, escritor e político português,
morreu no Porto em 27 de Março de 1969. Nascera em Ílhavo no dia 7 de Julho
de 1920. Destacou-se como uma importante figura do movimento de oposição ao
regime do Estado Novo.
Fez
os estudos secundários no Liceu de Aveiro, onde foi activista
estudantil, razão pela qual chegou a estar preso. Matriculou-se em Medicina
na Universidade de Coimbra, mas apenas concluiu os seus estudos depois
de ter frequentado as escolas médicas do Porto e de Lisboa (onde se licenciou
em 1946). Obteve em Paris uma especialização em gastrenterologia (1961).
Desde
muito cedo se interessou pela escrita, colaborando em diversos periódicos,
entre os quais “O Diabo”, “o Sol Nascente”, “Vértice”, “Diário
de Lisboa” e “Mundo Literário” (1946/48).
Observador
interessado do panorama literário português, Mário Sacramento publicou diversos
ensaios sobre a obra de escritores como Eça de Queiroz, Cesário Verde, Fernando
Namora e Fernando Pessoa. A qualidade dos seus trabalhos trouxe-lhe a admiração
da intelectualidade portuguesa da época.
Ainda
estudante, Mário Sacramento integrou-se na tradição do republicanismo
democrático português, aderindo ao movimento de oposição a Salazar. Neste
contexto de resistência à ditadura, militou no Partido Comunista Português,
ao tempo o melhor estruturado dos movimentos oposicionistas em Portugal.
Foi
membro da comissão central da organização de juventude do Movimento de
Unidade Democrática (MUD Juvenil). Nessas funções, ganhou grande
notoriedade, transformando-se numas das figuras de referência da resistência ao
corporativismo salazarista.
A
sua actividade de crítica literária guindou-o ao papel de principal teórico do movimento
neo-realista em
Portugal. Participou em múltiplas conferências sobre
literatura e publicou uma extensa obra de crítica e de análise literária, que
inclui ensaios marcantes, entre os quais “Eça de Queirós, uma Estética da
Ironia” (1945, Prémio Oliveira Martins), “Fernando Pessoa, Poeta
da Hora Absurda” (1959), “Fernando Namora, a Obra e o Homem” (1967)
e “Há uma Estética Neo-Realista?” (1968).
Foi
secretário-geral e principal obreiro da comissão promotora do Primeiro
Congresso Republicano, um fórum da oposição democrática que se reuniu em
Aveiro no ano de 1957. Liderou a organização do Segundo Congresso
Republicano, também realizado em Aveiro, embora tenha falecido pouco antes
da sua realização. Uma parte importante das suas obras de ensaio está reunida
nos três volumes, parcialmente póstumos, de “Ensaios de Domingo” (1959,
1974 e 1990).
O
seu pensamento político e filosófico está compilado no volume “Frátria,
Diálogo com os Católicos” (1971), obra que inclui o debate que travou –
entre 1967 e 1969 – com Mário da Rocha sobre o papel dos católicos e do movimento
eclesial na evolução política portuguesa.
Mário
Sacramento foi cinco vezes detido pela PIDE (policia política), a
primeira das quais em 1938 e a última em 1962.
O
seu nome é lembrado numa das mais importantes artérias de Aveiro, tendo sido
dado também o seu nome a uma escola secundária na mesma cidade. Uma curiosa
frase que ele nos legou: «Façam o mundo melhor, ouviram? Não me obriguem a
voltar cá!».
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