EFEMÉRIDE
– José António Simões Raposo, professor e pedagogo, morreu em Lisboa no dia
18 de Junho de 1900. Nascera em Lagoaça, Freixo de Espada à Cinta, em 29 de
Abril de 1840.
Aos
23 anos de idade, foi admitido como “aluno pensionista” (em internato) na Escola
Normal Primária de Lisboa, cuja instituição masculina funcionava em Marvila. Frequentou
esta escola nos anos 1863 e 1864, obtendo aprovação com distinção, completando
as habilitações para as funções de professor de segundo grau em 1865. Terminado
o curso, fixou-se em Lisboa e, a partir de 1866, empregou-se como professor na Casa
Pia de Lisboa.
Na Casa
Pia, foi nomeado para o cargo de “Provisor de Estudos”, encarregado da
organização, direcção e inspecção dos estudos na instituição, executando então
uma importante reformulação do currículo e dos métodos de ensino ali seguidos. Cuidadoso
na avaliação das medidas que introduzia no ensino, elaborou relatórios
circunstanciados sobre a organização de estudos e sobre os diferentes trabalhos
escolares e seus resultados. Uma das inovações introduzidas por Simões Raposo
foi a progressão de estudos por classes graduadas, então novidade em Portugal,
que se alargaria progressivamente a todo o sistema de ensino português.
Simões
Raposo pertenceu à primeira geração de professores normalistas, cabendo-lhe
contribuir para a formação de novos professores e, a partir de 1870, passou a
desempenhar funções nas Escolas Normais de Lisboa, masculina e feminina,
participando activamente na formação docente. Na Escola Normal do sexo
feminino, no Calvário, foi professor de Pedagogia e Métodos e na Escola
Normal masculina desempenhou funções de professor de Pedagogia. Na
acção docente, defendia o ensino pelo Método de Froebel, do alemão
Friedrich Fröbel, fundador do primeiro jardim-de-infância.
Em
1877, foi nomeado subdirector da Casa Pia, cargo que acumulou com a sua
actividade docente e com as múltiplas iniciativas cívicas em que se envolvia.
As funções directivas na Casa Pia permitiram-lhe executar ali um
importante conjunto de reformas, que serviram como demonstração prática da
metodologia educativa que defendia.
Em
Outubro de 1880, foi nomeado inspector do Ensino Primário da 1ª Circunscrição,
então com sede na cidade do Porto. Nessas funções teve um papel decisivo na
dinamização das “conferências pedagógicas” e na acção em prol do ensino normal.
Manteve funções inspectivas até ao fim da sua vida, sendo também membro da Comissão
Inspectora das Escolas Normais de Lisboa, funções em que teve um papel
determinante na defesa da qualidade do ensino normal e na preservação das Escolas
Normais enquanto entidades formadoras para o magistério primário.
Para
além das suas funções profissionais, Simões Raposo manteve uma intensa
actividade cívica e política, sendo membro de múltiplas instituições e
participando activamente na vida política de Lisboa. Nesse âmbito, foi vereador
da Câmara Municipal de Belém com o pelouro da instrução pública,
presidente do Grémio Popular de Lisboa, sócio fundador da Associação
dos Jornalistas e Escritores Portugueses e um dos sócios fundadores
da Sociedade de Geografia de Lisboa, sendo secretário da secção de
ensino geográfico da instituição. Também desenvolveu intensa actividade como
conferencista, na Sociedade de Geografia de Lisboa e em diversas
instituições de que era membro, e fez parte da Comissão de Imprensa que
se encarregou de promover o Tricentenário de Camões.
Sendo
uma personalidade prestigiada em Portugal e no estrangeiro e gozando de
aceitação generalizada entre educadores e políticos, fez parte de diversas
comissões encarregues de estudar assuntos pedagógicos e foi escolhido pelo
Governo para representar Portugal em vários eventos internacionais. Nesse
contexto, foi enviado à Exposição Universal de Viena, em 1873, e à Exposição
Universal de Paris de 1878. A sua participação nesta última exposição, para
onde levou trabalhos executados pelos alunos da Casa Pia de Lisboa,
valeu-lhe a concessão do grau de Oficial da Academia Francesa, em
resultado da qualidade dos trabalhos apresentados, que mereceram ser arquivados
e guardados no Museu Pedagógico de Paris.
Também
participou como delegado português no Congresso Internacional Pedagógico,
realizado no ano de 1880 em Bruxelas, aproveitando a deslocação para visitar Escolas
Normais na Bélgica, França, Suíça e Espanha. Em 1882, representou Portugal
no Congresso Pedagógico de Madrid, onde proferiu conferências em
castelhano e foi feito sócio honorário da Associação Geral do Professorado
Espanhol. Em 1892, participou como conferente no Congresso Pedagógico
Hispano-Português-Americano proferindo uma conferência a convite de
Bernardino Machado, vice-presidente da comissão organizadora.
Uma
das comissões mais importantes de que fez parte foi a destinada a organizar e
propor os projectos de regulamentos e programas do ensino primário.
Nos
últimos anos de vida, dirigiu a Escola Normal Primária de Lisboa,
acumulando a direcção das escolas masculina e feminina, num prelúdio daquilo
que seria a fusão das instituições em 1919. Simões Raposo deixou um importante
legado na consolidação do sistema de ensino, em particular na Casa Pia de
Lisboa, no fortalecimento do ensino normal e no associativismo docente.
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