
Fez estudos no Seminário Patriarcal e, aos 14 anos, foi admitido na Irmandade de Santa Cecília como cantor da Capela Real da Bemposta. Aos vinte anos tomou o lugar do seu pai, que entretanto morrera.
Em 1801 decidiu ir para Paris, onde encontrou um bom ambiente para desenvolver a sua vocação musical, tendo convivido com vários exilados adeptos das novas correntes filosóficas e políticas, que se reuniam à volta do poeta Filinto Elísio. Iniciou então a carreira de pianista, ao mesmo tempo que apresentava as suas primeiras composições. Data dessa época, a “Grande Sonata para Piano” dedicada a “Sua Alteza Real, a Princesa de Portugal”.
As suas obras eram muito apreciadas pelos parisienses. Em 1804 atingira já uma fama notável, apresentando-se, entre outros locais, na Salle Olympique como pianista e compositor.
Entretanto, em Portugal, as tropas de Napoleão sofriam pesadas derrotas infligidas pelo exército luso-inglês e a sua situação em França começou a tornar-se delicada. Partiu para Londres em 1810, onde foi muito bem recebido pela comunidade portuguesa. Algumas famílias da aristocracia inglesa contrataram-no como professor de piano.
Publicou a maior parte das suas obras na editora do também músico Clementi, seu amigo desde os tempos de Paris.
Em 1813 o embaixador de Portugal em Londres realizou um grande festival para uma dupla celebração: o aniversário daquele que viria a ser o rei D. João VI e a expulsão do exército francês do território nacional. Influenciado pela euforia do momento, João Domingos Bomtempo compôs uma cantata intitulada “Hino Lusitano”. No festival apresentou-se perante uma audiência de personalidades, que incluía a quase totalidade do Conselho de Ministros britânico.
Em 1815 regressou a Portugal e uma das ideias que trazia em mente era fundar uma sociedade de concertos ao estilo da “Philharmonic Society” londrina. O ambiente que se vivia em Portugal não era no entanto dos melhores, o que o obrigou a regressar a Londres, onde continuou a publicar inúmeras composições.
Em 1816 passou por Paris, vindo a Lisboa quando da morte de D. Maria I no Brasil. Em 1817 o General Gomes Freyre foi enforcado no Forte de S. Julião da Barra e este ambiente de repressão levou-o de novo a Paris onde, no entanto, a crispação política já não era também muito propícia às artes. De regresso a Portugal, dedicou-se à composição da que é considerada a sua obra-prima, o “Requiem” dedicado a Camões, que é talvez o requiem mais importante composto entre o de Mozart (1791) e o de Berlioz (1837).
João Domingos Bomtempo voltou a sair do país para, em Março de 1821, apenas alguns meses depois da Revolução de 1820, oferecer ao Soberano Congresso, uma nova missa de homenagem à regeneração política portuguesa. Esta missa foi cantada na Igreja de S. Domingos no dia 28 de Março, seguida de um Te Deum. Alcançou a estima de D. João VI e dirigiu as exéquias fúnebres de D. Maria I quando os seus restos mortais chegaram a Lisboa. Conseguiu obter finalmente as condições que lhe permitiram fundar em 1822 a ambicionada Sociedade Filarmónica. No entanto, a política interpôs-se uma vez mais no seu caminho, quando a reacção miguelista lhe proibiu a realização de concertos. Este foi um período difícil na sua vida, em que até a integridade física esteve seriamente ameaçada. Acabou por se refugiar no Consulado da Rússia, onde se manteve durante cinco anos, até à chegada a Lisboa das forças liberais de D. Pedro.
Com o Constitucionalismo, J. D. Bomtempo pôde enfim retomar a sua actividade artística e foi nomeado professor da rainha D. Maria II. Em 1835 compôs, por ocasião do primeiro aniversário da morte de D. Pedro IV, uma “Segunda Sinfonia” e um “Libera Me”. Em 1836 foi criado o Conservatório Geral de Arte Dramática, sendo entregue a Bomtempo a Direcção da sua Escola de Música, mantendo-se como chefe da Orquestra da Corte e acumulando também com as funções de professor de piano.
Do seu espólio musical fazem parte sonatas, concertos para piano, sinfonias, várias obras corais e uma ópera inacabada.
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