EFEMÉRIDE
– Antonio Gades, de seu verdadeiro nome Antonio Esteve Ródenas,
bailarino e coreógrafo espanhol, expressão máxima do flamenco, morreu em Madrid
no dia 20 de Julho de 2004. Nascera em Elda, em 14 de Novembro de 1936.
Oriundo
de uma família humilde, o pai – logo a seguir aio seu nascimento – seguiu para
Madrid para defender, como voluntário, a República Espanhola. Posteriormente,
toda a família se mudou para um bairro periférico da capital. Com onze anos, Antonio
deixou de ir a escola, embora gostasse muito de estudar, e buscou trabalho para
ajudar a família, primeiro como contínuo num estúdio fotográfico e depois nos escritórios
do diário madrileno “ABC”.
O seu
encontro com a dança aconteceu casualmente, quando tinha 15 anos. Uma vizinha tinha-o
aconselhado a inscrever-se na academia de flamenco. Três meses mais tarde, um
agente que procurava bailarinos para uma casa nocturna, contratou-o. Nesta
casa, por sua vez, foi visto por Pilar Lopez que o chamou para a sua companhia.
Foi Pilar quem o “baptizou” com o nome artístico de Antonio Gades e lhe ensinou
que a ética profissional do baile estava acima da estética. Gades reconheceria
sempre Pilar como a inspiradora máxima da sua carreira.
Permaneceu
na companhia de Pilar Lopez durante nove anos e, em 1960, quando da sua
primeira tournée no Japão, já era primeiro bailarino. Com ela, aprimorou-se em
todas as danças folclóricas de Espanha. Também estudou ballet clássico com a
dançarina russa Provayenska, mas o seu meio de expressão mais autêntico seria sempre
o flamenco.
Nesta
época, descobriu o mundo poético de Federico Garcia Lorca, através de edições
clandestinas da sua obra, pois ler-se o poeta andaluz era então proibido pelo
regime franquista.
Após
deixar a companhia de dança de Pilar Lopez, em 1961, fundou o primeiro núcleo
de seu próprio corpo de baile. Trabalhou neste período em Itália, como
coreógrafo e bailarino. Apresentou “O bolero” de Ravel na Ópera de
Roma e, no Scala, de Milão, “Cármen” e “O amor bruxo”.
Foi nesta época que forjou o seu estilo coreográfico personalíssimo.
De
volta a Espanha, dançou no cabaré Los Tartantos, em Barcelona, e tornou-se
coqueluche dos intelectuais catalães (entre eles o pintor Joan Miró), que o
estimularam a apresentar-se na Exposição Universal de Nova Iorque em
1964, onde teve grande sucesso. No mesmo ano, casou-se com a actriz e cantora
Marujita Diaz, de quem se separaria vinte meses depois.
Depois
de uma fracassada produção do ballet “Don Juan” (1965), que o deixou em grandes
dificuldades económicas, Gades dançou com Rudolf Nureyev, no Scala de Milão
(1968). No mesmo ano, casou-se com a bailarina Pilar San Clemente. Em 1971,
separou-se de Pilar, com quem havia tido dois filhos. Em 1973, uniu-se a Pepa
Flores, com quem teve mais três filhos. O casamento oficial teria lugar em Cuba
(1982), sendo padrinhos Fidel Castro e a bailarina cubana Alicia Alonso.
Em
1974, estreou em Roma “Bodas de sangue”, inspirado no drama de Garcia
Lorca, obra-prima que lhe trouxe grande sucesso internacional. Em 1975, estava
em Bolonha quando, ao tomar conhecimento da condenação a morte de cinco
companheiros opositores do regime de Franco, decidiu dissolver a sua companhia
e abandonar a dança.
Só
voltaria a dançar três anos depois, graças ao apoio que recebeu do Ballet
Nacional de Cuba, com o qual havia trabalhado anteriormente como artista
convidado. Vem desta época a sua profunda afeição à Cuba, país que visitou
inúmeras vezes e para onde foram levadas as suas cinzas.
Foi
director do Ballet Nacional de Espanha entre 1978 e 1980, lugar que deixou
para fundar sua própria companhia.
Em
1981, em colaboração com o realizador Carlos Saura, transformou “Bodas de
sangue” em filme. A
colaboração continuou em 1983, com o filme “A história de Cármen”, que
foi premiado no Festival de Cannes. As adaptações cinematográficas
renovaram também o interesse dos espanhóis pelo flamenco.
Em
1986, separou de Pepa Flores. Em 1988, casou-se com Daniela Frey, união que durou
até 1993.
A sua
última produção como coreógrafo foi “Fuenteovejuna”, adaptação da obra
de Lope de Vega, que se estreou na Ópera de Génova em 1994, seguindo
depois em tournée pelo Japão, Itália, França, Cuba e vários países latino
americanos, incluindo o Brasil.
Depois
de uma longa enfermidade junto da sua nova companheira, Eugenia Eiriz, faleceu
aos 67 anos de idade, vitimado por doença oncológica. Gades legou as suas
cinzas a Raul Castro, numa carta escrita na semana anterior à sua morte.
Fidel
Castro condecorou-o em Junho de 2004 com a Ordem José Martí, a mais alta
distinção concedida pelo Conselho de Estado de Cuba, uma homenagem prestada a
pouquíssimos estrangeiros, entre eles Che Guevara.
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