EFEMÉRIDE
– António José Dias Assunção, actor português, nasceu em Paços de
Ferreira no dia 29 de Agosto de 1945. Morreu em Nova Iorque , em 20 de
Agosto de 1998, vítima de ataque cardíaco.
O
grande público conhecia-o sobretudo através dos personagens que representou em
séries televisivas, onde ficaram célebres o seu divertidíssimo ‘chefe de
polícia’ em “Zé Gato” (1979), o seu ‘frade bonacheirão e comilão’ em “Caldo
de Pedra” ou o seu ingénuo ‘detective Tó’ em “Duarte e Companhia”
(1980/89), figuras que o popularizaram e que ajudaram a criar dele uma imagem
de actor cómico.
Embora
sendo verdade que era um humorista de enorme talento, não é menos verdade que
foi igualmente um grande actor dramático, tendo desempenhado exemplarmente os
mais marcantes papéis criados pelos maiores dramaturgos mundiais, como Bertolt
Brecht, Federico García Lorca, William Shakespeare, Nicolau Gogol, Molière, Gil
Vicente e Samuel Beckett.
Estreou-se
no Teatro Experimental do Porto, aos dezanove anos, com a peça “O
Avançado Centro Morreu ao Amanhecer” de Guzani, seguido de “Desperta e
Canta” de Clifford Odets e de “O Barbeiro de Sevilha” de
Beaumarchais.
Em
1966, foi para Paris, onde cumpriu um exílio de oito anos, escapando assim à Guerra
Colonial. Na capital francesa conheceu o actor e encenador Carlos César,
que havia criado o Teatro Oficina Português, com o qual representou mais
de uma dezena de espectáculos que incomodaram seriamente os governos de Salazar
e de Marcelo Caetano, como “A Excepção e a Regra”, “Felizmente Há
Luar” ou “O Grande Fantoche Lusitano”. A polícia política (PIDE),
omnipresente, fazia os seus relatórios…
Após
a Revolução dos Cravos, que ele saudou intensamente em noites
parisienses que lhe faziam recordar as febris manifestações do Maio de 1968,
regressou a Portugal e envolveu-se na criação do Teatro de Animação de
Setúbal, do qual foi um dos principais animadores durante o período
inicial. Ali, sempre sob a direcção de Carlos César, representou alguns
espectáculos memoráveis, como “A Maratona” de Claude Confortès, “Tartufo”
de Molière ou “O Destino Morreu de Repente” de Alves Redol.
Em
1977, depois da última apresentação da peça “O 10º Turista” de Mendes de
Carvalho, deixou Setúbal e rumou a Lisboa para integrar o Grupo de Teatro de
Campolide, actual Companhia de Teatro de Almada.
Integrando
o elenco da companhia dirigida por Joaquim Benite, onde se manteve durante mais
de vinte anos, António Assunção assinou algumas das mais brilhantes criações de
toda a sua carreira. É inesquecível o seu ‘tanoeiro’ de “1383” de Virgílio
Martinho, como foi também o seu ‘chefe Valadares’ de “A Noite” de José
Saramago, assim como os personagens concebidos para “O Santo Inquérito”
de Dias Gomes, “Dona Rosita, a Solteira” de García Lorca ou “A Vida
do Grande D. Quixote e do Gordo Sancho Pança” de António José da Silva (O
Judeu), entre outros.
Entretanto,
foram surgindo os mais diversos convites para participar em projectos
televisivos, a par de um pequeníssimo conjunto de propostas para cinema.
Coerente com os princípios da justiça, liberdade e igualdade que tomou como
seus desde muito novo, António Assunção fez sempre questão de não ceder naquilo
que considerava ser o essencial, sendo por isso muitas vezes ostracizado por
alguns produtores e realizadores cinematográficos só porque era de esquerda,
convicta e assumidamente de esquerda. Talvez por isso tenha feito muito pouco
cinema.
Apesar
de tudo, ainda conseguiu dar vida e corpo a personagens notáveis em filmes de
Luís Filipe Rocha (“Amor e Dedinhos de Pé”), Fernando Lopes (“Crónica
dos Bons Malandros”), Luís Galvão Teles (“A Vida é Bela”), António
de Macedo (“Os Abismos da Meia Noite”), entre outras produções nacionais
e estrangeiras, como “A Casa dos Espíritos”.
A
viver no lisboeta Bairro Alto, era presença assídua nas últimas tertúlias do
Largo da Misericórdia, onde costumava encontrar-se com o poeta Herberto Hélder
e outros amigos – poetas, actores, jornalistas ou simples cidadãos apreciadores
de um bom copo e dois dedos de conversa.
Um
dia, disse que tinha viagem marcada com a família para Nova Iorque,
aproveitando a pausa nas gravações de mais uma série da RTP. Nos seus
planos estava a ida à Broadway, onde contava assistir a uma das peças em
cena, coisa que só viria a conseguir ao apresentar-se como actor português,
visto a lotação estar esgotada.
Como
é tradição em alguns dos teatros da Broadway, os espectadores tiveram a
oportunidade de subir ao palco no intervalo da peça. António Assunção não
resistiu ao impulso do momento e subiu também até àquelas tábuas que são o
sonho de muitos dos grandes actores norte-americanos. Enquanto se deslumbrava
com o cenário e toda uma parafernália de elementos cénicos, o seu coração
decidiu parar de bater, fazendo-o cair desamparado. Foram activados os serviços
de emergência, tendo chegado pouco depois uma equipa de socorro. Enquanto os
paramédicos faziam tudo para o trazer de volta à vida, o público começou a
bater palmas e a gritar por ele, como que a pedir-lhe um último esforço. Mas de
nada valeu. O actor faleceu naquela noite, a poucos dias de completar cinquenta
e três anos de idade.
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