Filho
de Rolando Pratt, militar de carreira, e de Evelina Genero, filha de Eugenio
Genero, poeta, que Pratt citará em “Corto Maltese na Sibéria”.
Após
uma estadia na Etiópia com a família durante a juventude, a sua vida
desenrola-se sobretudo em redor da cidade de Veneza, onde se passam duas das
suas histórias: “O Anjo da Janela do Oriente” e “Fábula de Veneza”.
No
início da Segunda Guerra Mundial, a família de Pratt encontrava-se na
África Oriental Italiana, onde o pai estava alistado na Polícia Colonial.
Em 1941, com a queda da África Oriental, a família Pratt foi internada num
campo de concentração em Dire Daua, onde o pai viria a falecer em 1942.
Um
ano depois, Pratt regressará a Itália graças à intervenção da Cruz Vermelha
a favor dos prisioneiros. Regressado a Itália, em Cittá di Castello, frequentou
um colégio militar. Em 1943, na sequência do Armistício com a Itália,
adere à República Social Italiana e foi por um breve período membro do Batalhão
Lupo da Decima Flottiglia. Em Outono de 1944, deserta para não ser fuzilado
pelas SS acusado de espião Sul-Africano. Em 1945, junta-se aos anglo-americanos
sendo por estes empregado como intérprete da armada aliada. Ainda em 1945, em
Veneza, começou a organizar espectáculos para as tropas da coligação vencedora.
Mas
rapidamente se impõe a sua vocação de contar histórias semelhantes às que o
acompanharam na infância e juventude: histórias e romances de James Oliver
Curwood, Zane Grey, Kenneth Roberts; e ainda as bandas desenhadas de Lyman
Young (“Cino e Franco”), Will Eisner (“The Spirit”) e sobretudo
Milton Caniff (“Terry e os piratas”).
Em
1945, conhece o desenhador Mario Faustinelli, e inicia-se na BD, integra
o “grupo de Veneza”, com Alberto Ongaro, Damiano e Dino Battaglia, entre
outros, fundando a revista “Albo Uragano” em colaboração com Mario
Faustinelli e Alberto Ongaro. A revista “Albo Uragano” é renomeada “L’Asso
di Picche”, após o primeiro número, e “Asso di Picche Comics” a
partir do 7º, fazendo jus ao seu principal personagem, um herói mascarado com
um fato aderente amarelo. A revista lançou numerosos jovens talentos como Dino Battaglia,
Rinaldo D’Ami, Giorgio Bellavitis, enquanto o personagem Asso di Picche ganhava
sempre maior sucesso, sobretudo na Argentina.
A
sua colaboração na revista “Asso di Picche”, vale-lhe um convite para
trabalhar na Argentina, para onde viaja em 1949, só vindo a regressar treze
anos depois, em 1962.
Após
uma colaboração inicial com a Editorial Abril, Pratt transfere-se para a
Editorial Frontera. Nesses anos, irão surgir algumas importantes séries
da sua carreira como “Junglemen” (com argumento de Ongaro), “Sgt.
Kirk”, “Ernie Pike” e “Ticonderoga”, todas tendo como
guionista Héctor Oesterheld, o mesmo da obra de ficção científica “L’Eternauta”
e mais tarde desaparecido.
O
seu traço começou a fazer escola e começa a leccionar cursos de desenho,
primeiro com Alberto Brecia e depois, no Brasil, na Escola Panamericana de
Arte Directa de Enrique Lipszyc, alternando a actividade didáctica com
frequentes excursões à Amazónia, ao Mato Grosso e outros exóticos paradeiros.
Neste mesmo período, produz “Ann y Dan” (“Anna della giungla”), a
sua primeira história completa. Esta série de quatro histórias, ainda com
grande influência de Oesterheld, é um verdadeiro tributo às aventuras clássicas
lidas nos seus anos de juventude e cuja atmosfera será reproduzida nas duas
histórias completas que se seguem: “Capitan Cormorant” e “Wheeling”.
Esta última é um verdadeiro romance em banda desenhada inspirado nos romances
de Zane Grey e Kenneth Roberts misturando, com metódica precisão, factos
históricos e fantasia, prática que Pratt refinará com Corto Maltese.
Entre
1959 e 1960, Pratt transfere-se para Londres de onde sem sucesso tentou emigrar
para os EUA, acabando por voltar à América do Sul. O seu regresso a Itália em
1962, marca o início de uma prolífera colaboração com “Il Corriere dei
Piccoli” para o qual realiza a conversão para banda desenhada de numerosos
romances juvenis como “A Ilha do Tesouro” e “Raptado” de Robert
Louis Stevenson, com guiões de Mino Milani.
Em
1967, após cinco anos difíceis, conhece Florenzo Ivaldi, um empresário genovês
que adora BD. Decidem lançar uma nova revista mensal, “Sgt. Kirk”,
onde aparecem as primeiras pranchas de “Una Ballata del Mare Salato” (“A
Balada do Mar Salgado”), com um personagem, Corto Maltese, na altura ainda
um personagem secundário. A publicação da revista seria interrompida 30 números
depois, em Dezembro de 1969.
À
semelhança da maior parte das suas aventuras, “A Balada do Mar Salgado”
traz à memória os grandes romances de aventuras de Conrad, Melville, Lewis,
Cooper, Dumas, que tanto sucesso e fama ganharam junto de várias gerações de
leitores. Mas sobretudo, a inspiração de Pratt para esta história vem de um
escritor hoje esquecido, Henry De Vere Stacpoole, autor de “Laguna Blu”.
Esta primeira história foi sucessivamente reproduzida, incluindo nas páginas do
“Corriere dei Piccoli”.
Entre
Abril de 1970 e Abril de 1973, publica 21 episódios, (hoje agrupados nos ciclos
“Sob o Signo do Capricórnio”, “Corto sempre um pouco mais longe”,
“As Célticas” e “As Etiópicas”), a convite de George Rieu, chefe
de redacção da revista francesa “Pif Gadget”. Mais tarde, Pratt
recordaria aqueles anos em que «voltei a folhear Marx e Engels, filósofos
que me entediavam imediatamente. Visitei também Marcuse e alguns outros e
retomei os clássicos das aventuras. E subitamente vejo-me acusado de
infantilismo, hedonismo e fascismo». Em seguida, é despedido pelo editor
que, politicamente próximo do Partido Comunista Francês, o cunhava de Libertário.
«A
palavra evasão, que dá tantas dores de cabeça aos materialistas históricos,
significa escapar de qualquer coisa, aventura é procurar qualquer coisa que
pode ser bela ou perigosa, mas que vale a pena viver.» (Hugo Pratt).
Em
meados dos anos 1970, Pratt estreita uma grande amizade com Lele
Vianello o qual, absorvendo a sua técnica e estilo se torna o seu braço direito,
colaborando graficamente nas suas obras. Em 1974, começa a desenhar “Corto
Maltese na Sibéria” com uma primeira alteração estilística em direcção à
simplificação: «Queria chegar a dizer tudo com uma linha», repetia ele,
e desde então as histórias de Corto Maltese passaram a apresentar-se como
novelas gráficas mais ou menos longas. Algumas delas rapidamente se afirmaram
como clássicos absolutos da banda desenhada, exemplos disso, além do citado,
são “Fábula de Veneza” ou “A casa Dourada de Samarcanda”. A série
termina com “Mú”, desenhado em 1988 e publicado em álbum, em 1992.
Hugo
Pratt era membro da Gran Loggia d’Italia degli Alam, onde foi iniciado
na “Loja Hermes” all’Oriente di Venezia em 19 de Novembro de
1976, tendo-se nela mantido até finais dos anos 1980. A maçonaria é
explicitamente citada na sua “Fábula de Veneza”. Após a sua morte, a Gran
Loggia d’Italia organizou vários convénios públicos sobre a sua personagem
Corto Maltese.
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