EFEMÉRIDE - Diogo Pinto
de Freitas do Amaral, professor universitário, jurisconsulto, político,
diplomata e escritor português, nasceu na Póvoa de Varzim em 21 de Julho de
1941. Morreu em Cascais no dia 3 de Outubro de 2019.
Freitas do Amaral finalizou os
estudos secundários no Liceu Pedro Nunes e ingressou aos 18 anos na Faculdade
de Direito da Universidade de Lisboa, onde - em 1963 - se licenciou em Direito.
Quando era estudante finalista da
licenciatura, presidiu à Mesa da RGA (Reunião Geral de Alunos) da
Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, entre 1961 e
1962. Também colaborou na revista “Quadrante” (1958/1962), publicada
pela AAFDL.
Discípulo de Marcelo Caetano,
viria a dedicar-se à carreira académica na mesma Faculdade, especializando-se
em Direito Administrativo. Em 1964, concluiu o Curso Complementar de
Ciências Político-Económicas, com a dissertação “A utilização do domínio
público pelos particulares”. Em 1967, obteve o doutoramento em Ciências
Jurídico-Políticas, com a tese “A execução das sentenças dos tribunais
administrativos”.
Prestou provas de agregação com
um estudo intitulado “Conceito e Natureza do Recurso Hierárquico”
(1983).
Chegou a professor catedrático em
1984 e cumpriu igualmente cinco mandatos como presidente do Conselho
Científico da Faculdade de Direito de Lisboa.
Em 1977, iniciou a sua
colaboração com a Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa.
Em 1998, depois de ter estado
entre os fundadores da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa,
abandonou a Clássica, dedicando-se exclusivamente ao ensino na Nova,
onde também presidiu à Comissão Instaladora, até 1999. No dia 22 de Maio
de 2007, deu nesta Faculdade a sua última aula, com o tema “Alterações do
Direito Administrativo nos últimos 50 anos”.
A partir de 2011, regeu - na Faculdade
de Direito da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias - a
disciplina de Direito Público da Economia, coordenando também o Centro
Português de Estudos Lusófonos.
Autor de um Curso de Direito
Administrativo, com diversas edições desde 1986, Freitas do Amaral é
considerado, um dos principais doutrinários do Direito Administrativo da
Escola de Lisboa, estando à cabeça de uma nova geração de cultores dessa
disciplina, posteriores à Escola de Marcello Caetano, em que se
encontram nomes como Maria da Glória Garcia, Luís Fábrica, Vasco Pereira da
Silva, Maria João Estorninho, Paulo Otero e Carla Amado Gomes.
Defensor de uma Democracia cristã
de matriz europeia para Portugal, Diogo Freitas do Amaral foi um dos fundadores
do Partido do Centro Democrático Social, e seu primeiro líder, eleito no
congresso fundador do CDS, após o 25 de Abril de 1974. Presidiu à
Comissão Política Nacional até 1982 e, de novo, entre 1988 e 1991.
Pelo CDS, foi deputado à Assembleia
Constituinte, eleito em 1975. Nesse período, o CDS foi o único
partido a votar no Parlamento contra a aprovação da Constituição da
República Portuguesa de 1976, dado o pendor socializante da sua versão
originária. Seria depois deputado à Assembleia da República entre 1976 e
1983 e, novamente, de 1991 a 1993.
Foi também membro do Conselho
de Estado, de 1974 a 1975.
Em 1979, constituiu com Francisco
Sá Carneiro, líder do Partido Social Democrata, e Gonçalo Ribeiro Teles,
líder do Partido Popular Monárquico, a coligação Aliança Democrática.
A esta formação viria a juntar-se José Medeiros Ferreira, António Barreto e
Francisco Sousa Tavares, do Movimento dos Reformadores, dissidentes do Partido
Socialista, em defesa de uma solução governativa com autoridade e
estabilidade.
A AD viria a ganhar com
maioria absoluta as eleições legislativas de 1979, a primeira maioria absoluta
da Democracia portuguesa, bem como as legislativas de 1980.
Na sequência daquele resultado,
Freitas do Amaral fez parte do VI Governo Constitucional, como vice-primeiro-ministro
e ministro dos Negócios Estrangeiros, desde Janeiro até Dezembro de
1980. Após a tragédia de Camarate, que vitimou o primeiro-ministro Francisco Sá
Carneiro e os que o acompanhavam, coube a Freitas do Amaral anunciar na
televisão e assumiu funções como primeiro-ministro interino do mesmo Governo.
Sob a chefia de Francisco Pinto Balsemão, que sucedeu a Sá Carneiro no cargo de
primeiro-ministro, integrou - meses mais tarde - o VIII Governo
Constitucional, como vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa
Nacional, de 1981 a 1983.
A revisão constitucional de 1982,
conseguida através de um consenso com o PS de Mário Soares - o que
resultou numa divisão interna dos socialistas, entre a facção de Soares e uma
outra, mais próxima do general Ramalho Eanes, liderada por Salgado Zenha - foi
um dos maiores feitos políticos do governo da Aliança Democrática, nessa
altura já chefiado por Francisco Pinto Balsemão. A revisão constitucional de
1982 procurou diminuir a carga ideológica da Constituição, flexibilizar o
sistema económico e redefinir as estruturas do exercício do poder político,
tendo extinto o Conselho da Revolução e criado um novo sistema de
fiscalização da constitucionalidade, da competência de um Tribunal
Constitucional, então criado.
Entre 1981 e 1983, foi igualmente
presidente da União Europeia das Democracias Cristãs. Em 1992,
afastou-se do CDS, anunciando a sua retirada da política activa.
Foi até hoje o único português presidente
da Assembleia Geral das Nações Unidas, o que sucedeu na 50ª Sessão desta
organização internacional, em 1995/1996.
Candidato a presidente da
República nas eleições de 1986, obteve o apoio do PSD e do CDS,
atingindo 48,8% dos votos na segunda volta, próximos, mas insuficientes para a
vitória, que coube a Mário Soares.
Embora se declarasse
independente, a sua escolha como ministro dos Negócios Estrangeiros do XVII
Governo, formado pelo Partido Socialista de José Sócrates, causou
polémica, em Março de 2005. Nesse mesmo ano, afastou-se e demitiu-se de membro
do Partido Popular Europeu, que considerou a sua militância incompatível
com a sua condição de ministro num governo socialista. Por motivos de saúde,
alegando cansaço, abandonou o cargo governativo em Junho de 2006.
Freitas do Amaral viria a falecer
no Hospital da CUF, em Cascais, aos 78 anos, devido a um cancro ósseo. O
funeral ocorreu no Mosteiro dos Jerónimos, de onde seguiu para o Cemitério
da Guia, em Cascais, onde foi sepultado.
Foi também comentador televisivo
esporádico, nomeadamente na SIC Notícias. Escreveu duas biografias, uma
do rei D. Afonso Henriques e outra do rei D. Afonso III de Portugal, e uma peça
de teatro sobre Viriato.
Era detentor de várias distinções
e condecorações nacionais e estrangeiras. Estava casado com Maria José Salgado
Sarmento de Matos, desde 1965. Tiveram
dois filhos e duas filhas.
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