EFEMÉRIDE - Charles
“Pete” Conrad Jr., astronauta norte-americano, com quatro
missões espaciais e terceiro homem a pisar na Lua, morreu em Ojai no dia 8 de
Julho de 1999. Nascera em Filadélfia, em 2 de Junho de 1930.
Sofria de dislexia desde a
infância, uma condição ainda pouco conhecida na época. Considerado uma criança
esperta e inteligente, Charles nasceu numa família rica, que perdeu quase todas
a fortuna durante a Grande Depressão. O pai acabou por deixar a família.
Ele cursou a Harverford School para o ensino básico, mas a dislexia fez com
que tivesse grandes dificuldades nos estudos e acabou por ser expulso por
repetição de ano.
A mãe recusou-se a admitir que o
filho não tinha capacidades e matriculou-o numa escola mais apropriada para
lidar com o seu problema, a Darrow School, no distrito de Columbia, onde
ele aprendeu uma maneira de lidar melhor com a doença e se formou com louvores,
sendo admitido na Universidade de Princeton, para os estudos superiores
e ainda conseguindo uma bolsa de estudos completa para o Naval Reserve
Officers Training Corps.
O seu contacto com a aviação
começou aos 15 anos, quando trabalhou durante as férias de Verão no Aeroporto
de Paoli, na Pensilvânia, aparando relva, varrendo o chão e fazendo outros
pequenos serviços, tendo horários ocasionais de instrução. Foi aprendendo mais
sobre a mecânica e o funcionamento de aeronaves e dos seus motores. Em seguida,
graduou-se em pequenos trabalhos de manutenção. Aos 16 anos, Conrad dirigiu
quase 60 km, para ajudar um instrutor de voo, cujo avião tinha sido forçado a
fazer uma aterragem de emergência. Consertou o avião sozinho. Depois disso, o
instrutor deu-lhe as lições de voo de que ele precisava para obter o brevet de
piloto. Conseguiu a qualificação, antes mesmo de se formar no ensino médio.
Continuou a voar durante o tempo
na universidade e formou-se em Wngenharia Aeronáutica em 1953. Foi
enviado para treinos na Estação Aeronaval de Pensacola, na Flórida, onde
se qualificou como aviador naval em 1954. Serviu em porta-aviões e como
instrutor de voo de caças da marinha, em bases no Golfo do México.
Em 1957 inscreveu-se e foi aceite
pela reputada Escola de Pilotos de Teste Navais dos Estados Unidos, em
Patuxent River, Maryland, onde conheceu e teve como colegas de classe os seus
futuros companheiros astronautas Walter Schirra e Jim Lovell.
Mo ano seguinte, tornou-se piloto
de testes da marinha. Durante o seu período na escola de pilotos, foi convidado
para fazer parte do primeiro grupo de selecção de astronautas para a
recém-criada NASA – o “Mercury Seven” – e como os demais
candidatos, passou por vários dias do que eles consideraram ser testes médicos
e psicológicos invasivos, humilhantes e desnecessários e, ao contrário dos
demais, ele rebelou-se contra o regime. Ao fim do processo de selecção, foi
recusado com a anotação de «não-adequado para voos de longa duração».
Após este episódio no seu
primeiro contacto com a NASA, Conrad voltou para a Marinha e
serviu no USS Ranger, como piloto de F-4 Phantom. Tempos depois,
a NASA iniciou um segundo processo de selecção de astronautas e Conrad
foi procurado pelo seu amigo Alan Shepard, um veterano do projecto Mercury,
que o reputava como grande piloto naval e de testes, e que o convenceu a
reinscrever-se. Desta vez, Conrad achou os testes médicos menos invasivos e, em
Julho de 1962, passou a fazer parte do corpo de astronautas da agência
espacial. No momento da sua admissão, ele tinha acumulado mais de 6 500 horas
de voo, 5 000 delas em caças a jacto.
Conrad entrou para a equipa de
astronautas da NASA em 1962 e logo foi considerado um dos melhores
pilotos do grupo, o que o levaria a ser seleccionado para integrar o projecto
Gemini, sucessor do Mercury e onde cada nave espacial levaria dois
homens ao espaço.
Foi ao espaço pela primeira vez
em Agosto de 1965, na Gemini V, junto com o comandante Gordon Cooper,
outro veterano do Mercury, e onde estabeleceram o então recorde de
permanência no espaço, num total de oito dias, suplantando em cinco dias o
recorde soviético e chegando ao tempo considerado necessário para uma viagem de
ida-e-volta à Lua.
Em Setembro de 1966, voltou ao
espaço comandando a Gemini XI, que se acoplou em órbita com o foguetão Agena,
em treino para um futuro acoplamento entre o módulo de comando das Apollo
com o módulo lunar. Nesta missão, ele também estabeleceu outro recorde, o de
maior apogeu em órbita terrestre, com um total de 1 369 km.
Em Dezembro de 1966, Conrad foi
designado para comandar a tripulação-reserva do primeiro voo em órbita
terrestre do projecto Apollo completo, incluindo o módulo lunar.
Com os atrasos na finalização do módulo, esta missão tornou-se a Apollo 8,
a primeira a entrar em órbita lunar, sem módulo acoplado. Com isso, ele passou
a comandar a tripulação-reserva da Apollo 9, cuja tripulação principal
faria o voo orbital com o módulo. A prática de Donald Slayton, chefe do Departamento
de Astronautas e responsável pela escalação e rodízio de tripulações, determinava
que a tripulação-reserva de um voo fosse a tripulação titular do voo seguinte.
Não houvesse o atraso anterior e a mudança de tribulações-reservas entre as Apollo
8 e Apollo 9 e Conrad teria sido o primeiro homem a pisar na Lua,
comandando a Apollo 11 no lugar de Neil Armstrong.
Em 14 de Novembro 1969, no
comando da Apollo 12, junto com os astronautas Alan Bean e Richard
Gordon, foi lançado em direcção à Lua e, cinco dias depois, realizou a primeira
alunagem num local pré-determinado pela NASA, a cratera onde havia
descido anos antes a sonda espacial não-tripulada Surveyor 3,
para recolher os seus equipamentos expostos há dois anos às condições lunares,
e trazê-los de volta para estudo na Terra. A sua frase ao pisar na Lua é a mais
divertida da saga espacial. Baixo, com 1,69 de altura, em contraste com a
solenidade de Neil Armstrong no voo anterior, Conrad exclamou: «Este pode
ter sido um pequeno passo para Neil, mas para mim é enorme».
Mais tarde, ele revelaria que
disse aquilo para ganhar uma aposta de 500 dólares com a jornalista italiana
Oriana Fallaci, que acreditava que as palavras ditas pelos astronautas naqueles
momentos não eram próprias, mas parte de um guião pré-escrito pela NASA.
Fallaci nunca pagou a aposta.
Após a saga lunar, Conrad voltou
ao espaço pela quarta vez para comandar a tripulação da Skylab 2, a
primeira estação espacial tripulada em órbita dos Estados Unidos. A estação
lançada antes sem tripulação havia sido danificada quando um escudo contra
micrometeoritos se partiu, levando dois painéis solares com ele e danificando o
restante que não conseguiu abrir. Ele e a sua tripulação consertaram o dano em
duas caminhadas espaciais. Eles também ergueram um “pára-sol” no escudo, de
maneira a proteger a estação da intensa radiação solar, função que era do
escudo perdido. Sem isso, a estação não teria condições de operar. Por este
feito, em 1978 o presidente Jimmy Carter condecorou-o com a Medalha de Honra
Espacial do Congresso.
Conrad aposentou-se da NASA
e da Marinha e foi trabalhar na iniciativa privada, como vice-presidente
de operações da American Television and Communications Company, que
desenvolvia um novo sistema de operações de TV por cabo. Em 1976, aceitou o
convite para trabalhar na McDonnell Douglas, onde chegou ao cargo de
vice-presidente executivo. Em 1996, com o seu espírito de aventura ainda
presente, fez parte da tripulação de um Learjet, que bateu o recorde de
tempo de voo ao redor do mundo (49 h 26 min 8 s).
Menos de três semanas antes das
comemorações do trigésimo aniversário do primeiro pouso na Lua, em Julho de
1999, Conrad que - aos 69 anos - ainda pilotava motocicletas em viagens com
amigos, sofreu um acidente fatal, caindo de uma delas, numa estrada da
Califórnia, e morreu de hemorragia interna seis horas depois. Foi sepultado,
com honras oficiais, no Cemitério Nacional de Arlington, em Washington,
com a presença de vários astronautas da era Apollo.
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