EFEMÉRIDE - Ricardo Costa,
realizador e produtor de cinema português, nasceu em Peniche no dia 25 de
Janeiro de 1940.
A maior parte dos filmes que realizou são na área do documentário, associado a um estilo ficcional (docuficção e etnoficção). A sua primeira longa-metragem foi “Avieiros”, obra que se insere, como documentário, na linha do Novo Cinema português. Utilizou técnicas do cinema directo, não apenas enquanto ferramenta na prática da etnografia de salvaguarda, mas também como instrumento que lhe permitia compor uma narrativa poética, sóbria e musical, podendo interessar tanto a cinéfilos como a um público mais vasto.
Filmada no limiar do documentário e da ficção, “Brumas” é a sua penúltima longa-metragem (60º Festival de Veneza, 2003), apresentada em Nova Iorque no Cinema QUAD, em Março de 2011. Foi o primeiro filme de uma trilogia sobre a errância. “Derivas”, o segundo, é «um retrato de Lisboa traçado pelas andanças de dois veneráveis irmãos desfasados que vagueiam pela cidade» e ao mesmo tempo o espelho de uma geração. Teve ante-estreia em Portugal em 2016. O último filme desta trilogia, “Arribas”, em pós-produção, é um retorno do protagonista aos locais de Brumas, sua terra natal, e uma viagem no tempo. Aí se confronta com situações surpreendentes e com personagens inquietantes.
Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa até 1967, onde defendeu uma tese sobre os romances de Kafka (“Franz Kafka, Uma Escrita Invertida” - 1969). Leccionou no ensino secundário e tornou-se editor de textos sociológicos e de obras de vanguarda, de literatura, de teatro e de cinema. Com o 25 de Abril em 1974, ao mesmo tempo que colaborou com o redactor Horst Hano da cadeia de televisão alemã ARD e com a norte-americana CBS na cobertura dos acontecimentos, iniciou-se como realizador e produtor. Fez parte da cooperativa Grupo Zero, com João César Monteiro, Jorge Silva Melo, Alberto Seixas Santos, Margarida Gil, Solveig Nordlund e Acácio de Almeida. Tornou-se depois produtor independente com a Diafilme, onde produziu muitos dos seus filmes e alguns de outros realizadores. Organizou projecções e ciclos de cinema em Paris, na Cinemateca Francesa e no Museu do Homem.
“Mau Tempo, Marés e Mudança”, a segunda longa-metragem de Ricardo Costa, é - com “Gente da Praia da Vieira” (1976), de António Campos, e “Trás-os-Montes”, de António Reis e de Margarida Cordeiro - uma das primeiras docuficções do cinema português.
De algum modo movidos pela ideia que explica a máxima do sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss («Há mais poesia num grão de realidade do que no cérebro dos poetas»), alguns cineastas portugueses, em particular no pós-25 de Abril, percorrem o país de ponta a ponta, câmara nas mãos, praticando a sua etnografia de salvaguarda. Com apoios oficiais ou em co-produções com a RTP (Rádio Televisão Portuguesa), muitos apostaram no cinema militante fazendo filmes marcantes, não despojados de encanto. Filmes feitos com baixos orçamentos, mas em total liberdade. O “cinema de intervenção”, género em que quase toda essa produção se encaixa, reinaria por alguns anos e deixaria obras marcantes ou mesmo notáveis, muitas delas entretanto esquecidas.
Tenaz na sua independência, mais empenhado na expressão da verdade do que na verosimilhança, Ricardo Costa, que se identifica mais com essa simples ideia do que com o propósito de mudar o mundo, cultiva um estilo em que o real se transfigura em expressão poética, em retrato, em ponto de interrogação sobre um tempo que escapa ao tempo, sem se cingir ao lugar em que, filmada, a tal realidade se manifesta. A mise-en-scène, a vertente ficcional, será na sua obra uma tentação permanente. Nesta perspectiva, seguiu a tradição da antropologia visual, iniciada no cinema português por Leitão de Barros, e praticada por Manoel de Oliveira e por António Campos.
A maior parte dos filmes que realizou são na área do documentário, associado a um estilo ficcional (docuficção e etnoficção). A sua primeira longa-metragem foi “Avieiros”, obra que se insere, como documentário, na linha do Novo Cinema português. Utilizou técnicas do cinema directo, não apenas enquanto ferramenta na prática da etnografia de salvaguarda, mas também como instrumento que lhe permitia compor uma narrativa poética, sóbria e musical, podendo interessar tanto a cinéfilos como a um público mais vasto.
Filmada no limiar do documentário e da ficção, “Brumas” é a sua penúltima longa-metragem (60º Festival de Veneza, 2003), apresentada em Nova Iorque no Cinema QUAD, em Março de 2011. Foi o primeiro filme de uma trilogia sobre a errância. “Derivas”, o segundo, é «um retrato de Lisboa traçado pelas andanças de dois veneráveis irmãos desfasados que vagueiam pela cidade» e ao mesmo tempo o espelho de uma geração. Teve ante-estreia em Portugal em 2016. O último filme desta trilogia, “Arribas”, em pós-produção, é um retorno do protagonista aos locais de Brumas, sua terra natal, e uma viagem no tempo. Aí se confronta com situações surpreendentes e com personagens inquietantes.
Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa até 1967, onde defendeu uma tese sobre os romances de Kafka (“Franz Kafka, Uma Escrita Invertida” - 1969). Leccionou no ensino secundário e tornou-se editor de textos sociológicos e de obras de vanguarda, de literatura, de teatro e de cinema. Com o 25 de Abril em 1974, ao mesmo tempo que colaborou com o redactor Horst Hano da cadeia de televisão alemã ARD e com a norte-americana CBS na cobertura dos acontecimentos, iniciou-se como realizador e produtor. Fez parte da cooperativa Grupo Zero, com João César Monteiro, Jorge Silva Melo, Alberto Seixas Santos, Margarida Gil, Solveig Nordlund e Acácio de Almeida. Tornou-se depois produtor independente com a Diafilme, onde produziu muitos dos seus filmes e alguns de outros realizadores. Organizou projecções e ciclos de cinema em Paris, na Cinemateca Francesa e no Museu do Homem.
“Mau Tempo, Marés e Mudança”, a segunda longa-metragem de Ricardo Costa, é - com “Gente da Praia da Vieira” (1976), de António Campos, e “Trás-os-Montes”, de António Reis e de Margarida Cordeiro - uma das primeiras docuficções do cinema português.
De algum modo movidos pela ideia que explica a máxima do sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss («Há mais poesia num grão de realidade do que no cérebro dos poetas»), alguns cineastas portugueses, em particular no pós-25 de Abril, percorrem o país de ponta a ponta, câmara nas mãos, praticando a sua etnografia de salvaguarda. Com apoios oficiais ou em co-produções com a RTP (Rádio Televisão Portuguesa), muitos apostaram no cinema militante fazendo filmes marcantes, não despojados de encanto. Filmes feitos com baixos orçamentos, mas em total liberdade. O “cinema de intervenção”, género em que quase toda essa produção se encaixa, reinaria por alguns anos e deixaria obras marcantes ou mesmo notáveis, muitas delas entretanto esquecidas.
Tenaz na sua independência, mais empenhado na expressão da verdade do que na verosimilhança, Ricardo Costa, que se identifica mais com essa simples ideia do que com o propósito de mudar o mundo, cultiva um estilo em que o real se transfigura em expressão poética, em retrato, em ponto de interrogação sobre um tempo que escapa ao tempo, sem se cingir ao lugar em que, filmada, a tal realidade se manifesta. A mise-en-scène, a vertente ficcional, será na sua obra uma tentação permanente. Nesta perspectiva, seguiu a tradição da antropologia visual, iniciada no cinema português por Leitão de Barros, e praticada por Manoel de Oliveira e por António Campos.
Sem comentários:
Enviar um comentário