Deputada à Assembleia da
República (1980/1991), interveio politicamente ao nível da cultura e do
património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. Autora
da letra do “Hino dos Açores”. Juntamente com José Saramago (Prémio
Nobel de Literatura, 1998), Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e
Urbano Tavares Rodrigues, foi - em 1992 -um dos fundadores da Frente
Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Tem uma biblioteca com o
seu nome em Lisboa, em Carnide.
A obra de Natália Correia
estende-se por géneros variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio.
Colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras.
Durante as décadas de 1950 e 1960, na sua casa reunia-se uma das
mais vibrantes tertúlias de Lisboa, onde compareciam as mais destacadas figuras
das artes, das letras e da política (oposicionista) portuguesas e também
internacionais. A partir de 1971, essas reuniões passaram a ter lugar no bar Botequim.
Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e
polémica, que se reflecte na sua escrita. A sua obra está traduzida em várias
línguas.
Nascida na ilha de São Miguel,
quando tinha apenas 11 anos o pai emigra para o Brasil, ficando Natália Correia
com a mãe e a irmã em Lisboa, cidade onde fez estudos liceais, no Liceu D.
Filipa de Lencastre. Iniciou-se na literatura com a publicação de uma obra
destinada ao público infanto-juvenil, mas rapidamente se afirmou como poetisa
(como ela gostava de ser chamada).
Notabilizada através de diversas
vertentes da escrita, já que foi poeta, dramaturga, romancista, ensaísta,
tradutora, jornalista, guionista e editora, tornou-se conhecida na imprensa
escrita e, mais tarde, nos anos 1080, na televisão, com o programa “Mátria”,
onde advogou uma forma especial de feminismo (afastado do conceito
politicamente correcto do movimento), o matricismo, identificador da
mulher como arquétipo da liberdade erótica e passional e fonte matricial da
humanidade; mais tarde, à noção de Pátria e de Mátria acrescenta
a de Frátria.
Foi igualmente coordenadora da Editora
Arcádia, uma das principais editoras livreiras portuguesas do seu tempo.
Dotada de invulgar talento
oratório e grande coragem combativa, tomou parte activa nos movimentos de
oposição ao Estado Novo, tendo participado no MUD (Movimento
de Unidade Democrática, 1945), no apoio às candidaturas para a Presidência
da República do general Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958)
e na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, 1969),
liderada por Mário Soares.
Foi condenada a três anos de
prisão, com pena suspensa, pela publicação da “Antologia da Poesia
Portuguesa Erótica e Satírica”, considerada ofensiva dos costumes (1966) e
processada por ter tido a responsabilidade editorial das “Novas Cartas
Portuguesas” de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa
Horta; processo que ficaria conhecido como ‘Três Marias’.
A sua intervenção política
pública levou-a ao Parlamento, no período subsequente ao 25 de Abril
de 1974, eleita em 1980 nas listas do PSD, motivada pela pessoa de
Francisco Sá Carneiro, de quem era amiga, tal como de Snu Abecassis. Passaria,
no entanto, a deputada independente durante a legislatura quando se chocou com
as posições conservadoras em matérias de costumes do PSD, saindo do
partido, afirmando ter acreditado num projecto reformista, mas tendo-se
deparado com conservadorismo. Foi autora de polémicas intervenções
parlamentares e ficou célebre, durante um debate sobre o aborto, em 11 de Novembro
de 1982, pelo poema satírico que fez contra João Morgado, deputado do CDS,
que afirmara que «o acto sexual é para ter filhos». O poema foi
publicado dias depois pelo “Diário de Lisboa”.
Fundou em 1971, com Isabel
Meireles, o bar Botequim, onde durante as décadas de 1970 e 1980
se reuniu grande parte da intelectualidade portuguesa. Foi amiga de António
Sérgio (esteve associada ao Movimento da Filosofia Portuguesa), David
Mourão-Ferreira («a irmã que nunca tive»), José-Augusto França («a
mais linda mulher de Lisboa»), Luiz Pacheco («esta hierofântide do século XX»), Almada Negreiros, D.
Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança («confidente íntima»), Mário
Cesariny («era muito mais linda que a mais bela estátua feminina do Miguel
Ângelo»), Ary dos Santos («beleza sem costura»), Amália Rodrigues e
Fernando Dacosta, entre muitos outros. Foi uma entusiasmada e grande
impulsionadora pelo aparecimento dos espectáculos de café-concerto em Portugal.
Na sua casa, foi anfitriã de escritores famosos como Henry Miller, Graham
Greene ou Ionesco.
Em 13 de Julho de 1981, foi feita
grande-oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. Natália Correia
recebeu, em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa
de Escritores pelo livro “Sonetos Românticos”.
No mesmo ano, em 26 de Novembro,
foi feita grande-oficial da Ordem da Liberdade.
Em 1985, deu apoio ao Partido
Renovador Democrático de Ramalho Eanes, onde acreditou ver uma alternativa
de reformismo progressista para o país. Voltou então a ser deputada, por este
partido, em 1987/1991.
Natália Correia casou-se quatro
vezes. Após dois primeiros curtos casamentos, casou em Lisboa a 31 de Julho de
1953 com Alfredo Luís Machado (1904/1989), gerente e dono do Hotel do
Império, a sua grande paixão, bem mais velho do que ela e já viúvo,
casamento este que durou até à morte dele, em 17 de Fevereiro de 1989. São
notáveis as cartas de amor da ainda jovem Natália para Alfredo Luís Machado. Em
1990, tinha Natália 67 anos de idade, casou com Dórdio Guimarães, seu admirador
desde sempre, cineasta e filho de Manuel Guimarães.
Na madrugada de 16 de Março de
1993, falece, subitamente, com um ataque cardíaco, em sua casa, depois de
regressada do Botequim. A sua morte precoce deixou um vazio na cultura
portuguesa muito difícil de preencher. Legou a maioria dos seus bens à Região
Autónoma dos Açores, que lhe dedicou uma exposição permanente na nova Biblioteca
Pública de Ponta Delgada, instituição que tem à sua guarda parte do seu
espólio literário (que partilha com a Biblioteca Nacional de Lisboa)
constante de muitos volumes éditos, inéditos, documentos biográficos,
iconografia e correspondência, incluindo múltiplas obras de arte e a biblioteca
privada.
Foi sepultada originalmente no Cemitério
dos Prazeres, em Lisboa, e posteriormente trasladada para a ilha de São
Miguel, nos Açores, em Outubro de 2015.
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