domingo, 30 de janeiro de 2022

30 DE JANEIRO - CLARA PINTO CORREIA

EFEMÉRIDE - Maria Clara Amado Pinto Correia, bióloga, escritora, historiadora da ciência e professora universitária portuguesa, nasceu em Lisboa no dia 30 de Janeiro de 1960.

Filha de José Manuel Pinto Correia, grande-oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada a título póstumo a 10 de Junho de 1991, e de sua mulher Maria Adelaide da Cunha e Vasconcelos de Carvalho Amado. É irmã da jornalista Margarida Pinto Correia.

Viveu vários anos da sua infância em Angola, onde o pai, o professor de Medicina José Pinto Correia, foi obrigado a cumprir serviço militar como médico durante a guerra colonial (Guerra do Ultramar). Aí lhe nasceu a paixão pela Biologia. Foi uma excelente aluna, primeiro frequentou o Liceu Francês Charles Lepierre, depois o Liceu Rainha D. Leonor.

Como escritora, é autora de uma vasta obra, que iniciou em 1983. O seu mais conhecido romance é “Adeus, princesa”, que publicou aos 25 anos de idade, no qual retrata a alma da juventude do Alentejo no final da tentativa de Reforma agrária. Tem meia de uma centena de títulos publicados, incluindo ficção, literatura infantil, ensaios, biografia, crónicas de opinião, divulgação científica e estudos de História da ciência.

Motivada pelo sonho de um dia vir a ser Park Ranger numa reserva africana (nas revistas que o pai assinava, nomeadamente a “National Geographic”, fascinavam-na (particularmente as fotos de Jane Goodall com os chimpanzés), Clara Pinto Correia foi estudar Biologia para a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Aí terminou a licenciatura em 1984. No ano seguinte, integrou o corpo docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa como assistente estagiária de Biologia celular e Histologia e Embriologia e, simultaneamente, como doutoranda no Laboratório de Biologia Celular do Instituto Gulbenkian de Ciência, em ambos os casos sob orientação do professor J. David-Ferreira. Deixou-se se ficar aí até 1989, ano em que foi para o Estados Unidos como visiting scientist do laboratório de Sabina Sobel, na Universidade de Nova Iorque em Buffalo para execução do projecto de doutoramento.

Em Outubro de 1992 foi-lhe conferido, com distinção e louvor por unanimidade, o grau de Doutor em Biologia Celular pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. Regressa aos EUA, entõ como postdoctoral fellow no laboratório de James Robl, no Department of Veterinary and Animal Sciences da University of Massachusetts at Amherst, para desenvolver um projecto de investigação relacionado com as interacções núcleo-citoplasmáticas na clonagem de embriões de mamíferos. Em 1994, trocou o trabalho de bancada por um contrato de dois anos para fazer uma especialização em História das Ciências no Department of History of Science da Harvard University, e escrever um livro sobre História das Teorias da Reprodução, em ambos os casos sob orientação de Stephen Jay Gould e supervisão de Everett Mendelshon. Publicado o livro “The Ovary of Eve - Egg & Sperm & Preformation”, em 1996 regressou a Portugal para criar na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias a licenciatura em Biologia e o mestrado em Biologia do Desenvolvimento. Paralelamente, foi contratada como «research associate» de Stephen Jay Gould no Museum of Comparative Zoology da Harvard University, cargo que manteve até 2002, e como «adjunt professor» no Department of Veterinary and Animal Sciences da University of Massachusetts at Amherst, que manteve até 2001. Em 2004 prestou provas de agregação em História e Filosofia das Ciências na Universidade de Lisboa.

Actualmente é professora catedrática da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, onde dirige a licenciatura em Biologia e o mestrado em Biologia do Desenvolvimento. Lecciona em ambos os cursos os módulos associados à história do pensamento biológico e à história das teorias da reprodução. É também «research associate» de John Murdoch no Department of History of Science da Harvard University e investigadora do Centro de Estudos de História das Ciências Naturais e da Saúde do Instituto Rocha Cabral.

No laboratório do prof. James Robl na University of Massachusetts, que trabalhava com o objectivo de clonar bovinos transgénicos em grande número, Clara Pinto Correia introduziu novas técnicas de localização de estruturas intracelulares por imunofluorescência que tinha aprendido durante os seus trabalhos de doutoramento. Era consensual entre todos os cientistas, pois era isso que ensinavam os livros de biologia celular e do desenvolvimento, que o centrossoma que preside à organização do primeiro ciclo celular era de origem materna. Até então, o modelo usado era única e exclusivamente o rato e a extrapolação parecia natural. Acontece que Clara Pinto Correia, depois de usar como modelo o coelho, descobriu que o centrossoma que preside à organização do primeiro ciclo celular era de origem paterna. Usando como modelo o bovino, obteve os mesmos resultados. Entretanto, outros grupos de investigação internacionais à medida que ensaiavam outros modelos chegavam à mesma conclusão. Os livros foram mesmo reescritos.

O interesse de Clara Pinto Correia pela História da Biologia vem dos tempos de estudante. Porém, terá sido Stephen Jay Gould o seu guru intelectual, que a levou pelos caminhos da história das ciências. Foi com ele que Clara Pinto Correia fez a sua primeira grande investigação sobre história das teorias da reprodução, na Harvard University que viria a culminar na edição do livro “The Ovary of Eve - Egg & Sperm & Preformation”. Esta investigação levou-a a fazer a sua segunda grande descoberta, sobre a história da preformação. Tudo começou com o pressuposto de que os preformacionistas do século XVII tinham desenhado pessoas pequeninas enroscadas dentro do núcleo do espermatozóide. E estas pessoas tinham até um nome. Eram os “homúnculos”. Porém, quando Clara Pinto Correia começou a investigar as fontes, nomeadamente o precioso Traité de Dioptriquede Nicholas Hartsoeker (1694), não encontrou o termo em lado algum. A investigadora acabaria por concluir que o termo “homúnculo” nunca foi usado pelos preformacionista dos séculos XVII e XVIII, mas trata-se antes de uma invenção da literatura secundária dos anos 1930. Esta descoberta, modesta na sua grandiosidade pois não salvou vidas nem deu a paz ao mundo, acabaria por obrigar a uma revisão dos livros de texto. Um deles foi o conhecido “Developmental Biology” de Scott Gilbert que, na sua 4ª edição. apresentava o famoso espermatozóide de Hartsoeker com o seu “homúnculo” em posição fetal, mas que na edição seguinte já tinha segregado o termo “homúnculo”.

Actualmente, Clara Pinto Correia é investigadora responsável pelo projecto MAPA MUNDI - O impacto das viagens imaginárias na organização do pensamento ocidental (séc. XIV-XVIII), a decorrer no Centro de Estudos de História das Ciências Naturais e da Saúde do Instituto Rocha Cabral. Este projecto visa proceder a uma análise interdisciplinar (Ciências naturais/Estudos do género/Psicologia/Tradição oral portuguesa/Cartografia) de quatro grandes clássicos europeus da narrativa de viagens, como “As viagens de John Mandeville”, “O Livro do Infante D. Pedro” de Gil de Santisteban, a “Terra Austral Conhecida” de Gabriel de Foigny, e o Suplemento à viagem de Bougainville” de Denis Diderot.

NB - Apresentou programas de ciência e cultura na rádio e televisão, nomeadamente: “Música para camaleões” (Rádio Comercial, 1986)), “Rumo à lua” (RTP 2, 1996), “Morfina” (CNL, 1999), “Morfina” (CNL, 2000) e “Travessa do cotovelo” (RTP 2, 2001)).

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