Filho dum engenheiro civil e de
sua mulher uma doméstica, Rodrigo era o mais velho de quatro irmãos, com
diferenças de dois a três anos. Morou no Bairro das Estacas, em Lisboa.
Até à 3ª classe, andou no Colégio Moderno, mas fez o 4º ano na escola
oficial, no Bairro de São Miguel e a preparatória na escola Eugénio
dos Santos.
Foi co-fundador dos Sétima
Legião em 1982 e, em 1985, em conjunto com Pedro Ayres Magalhães e Gabriel
Gomes criou, dos Madredeus.
É autor da banda sonora de um
filme de Manuel Mozos. Lança o seu primeiro álbum a solo em 1993 e são suspensas as actividades do grupo Sétima Legião.
Em 1994, abandonou os Madredeus. A solo, lançou as obras “Mysterium”
(1995, EP) e o álbum “Theatrum” (1996).
Começou a explorar a combinação
das suas composições clássicas-modernas com formas de canção e instrumentação
mais tradicionais, com a presença de cantores como Lula Pena ou Adriana
Calcanhotto no CD “Alma Mater” e correspondente digressão.
Entre os seus convidados constam
ainda Sónia Tavares e Nuno Gonçalves dos The Gift, e Rui Reininho dos GNR,
que participou na gravação do seu álbum ao vivo intitulado “Pasión”.
O disco “Alma Mater” e o
próprio músico receberam dois importantes títulos de reconhecimento público, o
de Disco do Ano (Prémios DN+) e o de Artista do Ano (Prémios
Blitz).
Em 2004, editou o CD “Cinema”,
considerado pelo editor da revista americana “Billboard” um dos melhores
discos editados nesse ano. Neste trabalho, participaram convidados como Rosa
Passos, Beth Gibbons e Ryuichi Sakamoto, entre outros.
Em 2006, foi lançado um olhar
retrospectivo sobre a sua carreira, com o disco “O Mundo” (1993/2006),
acrescentando seis canções inéditas.
Em 2007, compôs a banda sonora
original da série documental “Portugal, Um Retrato Social”, dirigida por
António Barreto para a RTP. Baseada nos 18 temas do disco, surge a
digressão nacional “Os Portugueses”.
Dividiu com Sérgio Godinho a
responsabilidade da banda sonora da série de televisão “Equador”, que
contém temas originais e temas pertencentes a trabalhos anteriores (“Alma
Mater”, “O Mundo” (1993/2006), “Portugal, Um Retrato Social”)
ou a sair nesse ano (“A Mãe”).
Em 2009, foi lançado o disco “A
Mãe” (2009) em conjunto com o “Cinema Ensemble”,
criado entretanto.
Em 2010, dirigiu um concerto no Museu
do Oriente. É lançada uma nova edição de “Ave Mundi Luminar”, contendo o EP extra “In
Memoriam”.
Em 2011, foi editado o álbum “A
Montanha Mágica”.
Em 2012, foi lançado “Songs
(2004/2012)”, o álbum-compilação que congrega as músicas que compôs em
inglês.
A carreira de Rodrigo Leão é
singular e riquíssima, estando ligada a alguns dos mais importantes momentos da
cena musical portuguesa pós-1980. Rodrigo vê-a quase como um filme ou um livro
com diversos capítulos, mas sempre com ligação entre eles. Explica-nos que os
seus modos nunca se chegaram a alterar e que há coisas que tendem a não mudar:
«mesmo no princípio da Sétima Legião fazia coisas que ainda hoje repito»,
explica, para reforçar a ideia de uma continuidade que a sua música transporta.
A Sétima Legião foi uma
lufada de ar fresco e de modernidade na cena musical portuguesa quando surgiu
em 1982 pela mão de Rodrigo, Pedro Oliveira e Nuno Cruz. «A Sétima Legião
traduzia as influências não só de Manchester, mas também da Galiza, por
exemplo, e nisso talvez tenhamos sido diferentes», afirma,
retrospectivamente o compositor. A estreia do grupo aconteceu com o single “Glória”,
clássico maior da nossa música que continha letra de Miguel Esteves Cardoso. Em
1984, aconteceu a estreia em formato grande, com o álbum “A Um Deus
Desconhecido”, na editora Fundação Atlântica de Miguel Esteves
Cardoso e Pedro Ayres Magalhães, então dos Heróis do Mar. «O meu
álbum favorito da Sétima Legião? Talvez o “A Um Deus Desconhecido”»,
esclarece Rodrigo: «Foi feito com o António Pinheiro da Silva, engenheiro de
som que eu respeito muito e é um álbum que já tinha ali um lado cinematográfico
expresso nos instrumentais», refere o compositor, reforçando, uma vez mais,
a ideia de que tudo na sua carreira está interligado. Rodrigo editou ainda os
álbuns “Mar D’Outubro” (87), “De Um Tempo Ausente” (89), “O
Fogo” (92), “Auto de Fé” (94) e “Sexto Sentido” (99), marcos
de uma carreira que soube equilibrar os favores do público e o respeito da
crítica.
Em 1986, paralelamente à Sétima
Legião, Rodrigo Leão e Pedro Ayres Magalhães deram início a uma nova
aventura que teria profundas repercussões internacionais: os Madredeus.
De baixista na Sétima Legião, Rodrigo passou
para teclista nos Madredeus e logo aí se estabeleceu outra ligação com o
futuro da sua carreira a solo. Em Dezembro de 1987, os Madredeus estrearam-se
com o duplo “Os Dias da Madredeus”, gravado no teatro Ibérico em
Xabregas. O álbum apontava uma nova direcção para a música portuguesa e não
tardou a colher os favores do público. O sonho de expansão começava a
concretizar-se com viagens a Bolonha e Coreia do Norte, revelando aí a vocação universalista do projecto.
“Existir” (90) e “Lisboa”
foram os álbuns seguintes dos Madredeus e o aprofundar de uma carreira
de sucesso. Rodrigo Leão, no entanto, continuava a revelar uma irrequietude
artística invulgar e lançou-se a solo em 1993 com “Ave Mundi Luminar”,
primeira amostra da sua visão particular do mundo, com participações de Teresa
Salgueiro, Francisco Ribeiro e Gabriel Gomes, dos Madredeus. Rodrigo
gravaria “O Espírito da Paz” (94) e “Ainda” (95), dois álbuns
registados em paralelo nas mesmas sessões. Ainda sairia, no entanto, já depois
de Rodrigo ter abandonado os Madredeus para se dedicar à sua carreira a
solo. É também o disco que Rodrigo elege como o seu favorito nos trabalhos que
realizou com os Madredeus: «Foi o Wim Wenders que escolheu aquelas
canções que caíram mesmo bem no filme», explica.
Com a estreia a solo, Rodrigo
Leão começou a explorar novas sonoridades, aproximando-se de alguma música
contemporânea, do minimalismo e iniciando aí uma
viagem que já o conduziu a muitas sonoridades: «Na
minha música», refere o compositor, «há desde o Michael Nyman ao tango e
à música francesa». Em álbuns como “Ave Mundi Luminar” (1993), “Mysterium”
(1995), “Theatrum” (1996) e “Alma Mater” (2000), a presença de
antigos textos em latim executados por vozes líricas indicava claramente o
universo para que Rodrigo Leão queria remeter os seus ouvintes. Mas mesmo em
trabalhos mais recentes, como o álbum ao vivo “Pasión” (2002) e “Cinema”
(2004), esse caminho muito próprio de Rodrigo Leão, pleno de misticismo, também
se faz sentir. O carácter contemplativo e introspectivo de parte da música
deste grande compositor português é inegável e mesmo na retrospectiva de
carreira que é “O Mundo” (1993/2006): o melhor de Rodrigo Leão, editado internacionalmente no final de 2006, é notória a
divisão do reportório deste compositor entre as canções mais mundanas,
próximas do tango, da música para cinema ou da bossa
nova - como acontece com “A Casa” a que Adriana Calcanhoto deu voz
no álbum “Alma Mater” - e as peças mais espirituais que ocupam o segundo
CD desta retrospectiva. A exposição internacional garantiu-lhe os mais rasgados
elogios: Pedro Almodóvar, por exemplo, não teve dúvidas e descreveu Rodrigo
Leão como «um dos mais inspirados compositores do mundo». Alianças com
nomes de primeiro plano a nível internacional, como Beth Gibbons e Ryuichi
Sakamoto que participaram em “Cinema”, são igualmente prova do alcance
da música de Rodrigo Leão e do seu apelo universalista.
Em 2007, Rodrigo deu música às
imagens da excelente série de televisão “Portugal - Um Retrato Social” e
percorreu várias salas do nosso país com essa música que ajudou a compor o
nosso retrato sociológico. Seguiu-se o desafio dos responsáveis pela maior série
de ficção já produzida em Portugal, “Equador”, para a qual Rodrigo
compôs algumas evocativas peças que são já momento alto dos seus concertos, por
estarem ligadas a alguns dos mais emocionantes momentos do desenrolar dessa
história.
Pelo meio da sua carreira a solo,
Rodrigo teve ainda tempo para lançar o projecto “Os Poetas” «que
explorara o universo das palavras e da poesia e das emoções», com o álbum “Entre
Nós e as Palavras”, de 1997.
Em 2009, abriu-se um novo
capítulo na história, ainda em desenvolvimento, de Rodrigo Leão. Chama-se “A
Mãe” e é um ambicioso trabalho com participações de peso
como acontece com Neil Hannon, o homem dos Divine Comedy, que dá voz
a “Cathy”, Stuart A. Staples dos Tindersticks que surge em “This
Light Holds So Many Colours” ou Melingo, o grande embaixador do novo tango
argentino que surge em “No Sè Nada”.
O “Cinema Ensemble”
continua a contar com Celina da Piedade, Ana Vieira, Viviena Tupikova, Carlos
Tony Gomes, Bruno Silva, Luís Aires e Luís San Payo, uma equipa imbatível tanto
em estúdio, como em palco, local onde já se habituou a arrancar
bravos e incessantes aplausos com a música que executa e que soa
quase mágica.
Em 2009, Rodrigo Leão continua a
escrever a sua história pessoal com música que o afirma cada vez mais como um
compositor de excepção. No ano seguinte foi reeditado “Ave
Mundi Luminar”.
2011 foi o ano de “A Montanha
Mágica”. Neste álbum, Rodrigo foi explorando as emoções associadas a todas
as memórias que o próprio invocou pegando em instrumentos que há muito se
encontravam fora da sua esfera de executante, como os já referidos baixos
ou guitarras, ou até a bateria. Além de Rodrigo recorrer a outros instrumentos,
gesto aliás seguido por Viviena Tupikova ou Celina da Piedade, que alargam a
paleta tímbrica com o recurso a instrumentos como o metalofone ou o
sintetizador, há ainda que apontar os contributos de convidados como Pedro
Wallenstein (contrabaixo), João Eleutério (guitarras), Miguel Nogueira (músico
do Quinteto Tati que aqui toca guitarra), Rui Vinagre (em guitarra
portuguesa) ou Tó Trips (o guitarrista dos Dead Combo). Este álbum é
também pontuado pelas importantes participações de
Scott Matthew, a voz do belíssimo Terrible Dawn, Thiago Petit, que canta em “O
Fio da Vida” e ainda Miguel Filipe, voz dos Novembro que fecha a
viagem com a sua prestação em “O Hibernauta”.
“A Montanha Mágica”,
que entrou directamente para o 1º lugar do top de vendas nacional na semana de
lançamento, apresenta uma formação diferente dos discos anteriores. Além de
convidados pontuais, escuta-se apenas um trio de cordas - Viviena Tupikova,
Bruno Silva e Carlos Tony Gomes em violino, viola e violoncelo, respectivamente
- e o acordeão de Celina da Piedade.
No final de 2012, Rodrigo Leão
editou “Songs” (2004/2012). Concebido como o primeiro passo para uma
possível trilogia que, ao mesmo tempo, revê matéria já lançada e antecipa novos
caminhos, “Songs” (2004/2012) reúne canções cantadas em inglês que desde “Cinema” têm pontuado a discografia de
Rodrigo Leão.
As vozes de Sónia Tavares
(“The Gift”), de Ana Vieira, de Beth Gibbons (“Portishead”), Neil
Hannon (“The Divine Comedy)”, Stuart A. Staples (“Tindersticks”),
Scott Matthew e Joan as Policewoman deram, na última década, um carácter
universal à música de Rodrigo Leão por via do uso poético do inglês em temas
que marcaram as aventuras editoriais “Cinema” (2004), “A Mãe”
(2009) e “A Montanha Mágica” (2011).
“Songs” (2004/2012) parte
exactamente dessa ideia de vocação universalista e reúne três temas de “Cinema”
- “Lionel Carrossel”, “Deep Blue” e “Happiness” -, outros
tantos de “A Mãe” - “Cathy”, “Sleepless Heart” e “This
Light Holds So Many Colours” - um de “A Montanha Mágica” - “Terrible
Dawn” - e ainda três inéditos. Os temas novos têm a colaboração de Scott
Matthew, que trabalhou pela primeira vez com Rodrigo Leão no seu registo
anterior, “A Montanha Mágica”, e de Joan As Policewoman, com quem o
compositor português colaborou pela primeira vez.
Em 2013, compôs a banda sonora do
filme “The Butler”.
Sem comentários:
Enviar um comentário