Ao longo de mais de meio século
de intensa actividade, Leopoldo de Almeida tornou-se numa figura marcante da
escultura portuguesa do século XX e, particularmente, uma das melhores
expressões da estatuária oficial modernizante
implementada pelo Estado Novo.
Foi autor de uma obra
diversificada onde fundiu um «academismo de definição clássica» com
traços renovadores modernizastes. Esculpiu e modelou retratos, figuras da
história, esculturas de temática religiosa, etc., tendo realizado importantes
encomendas para espaços públicos de onde podem destacar-se ainda as estátuas de
Castilho e Oliveira Martins, Avenida da Liberdade, Lisboa; Ramalho
Ortigão, Porto; Justiça, Palácio da Justiça do Porto; D. Afonso
Henriques e D. João I, Câmara Municipal de Lisboa; estátua equestre de
D. Nuno Álvares Pereira, 1961 (colocada na Batalha em 1968); estátua equestre
de D. João I, 1970, Praça da Figueira, Lisboa; Guerra Junqueiro, 1970,
Porto; etc..
Filho de Eduardo Neves de Almeida
e de Joana Tristão Neves, Leopoldo de Almeida frequentou a Escola Oficina nº
1, onde teve iniciação nas áreas do desenho e da escultura.
Em 1913, matricula-se no Curso
Geral de Desenho da Escola de Belas-Artes de Lisboa e, três anos
mais tarde, no Curso Especial de Escultura dessa mesma instituição, que
termina em 1920. Na Escola de Belas-Artes foi colega de António da
Costa, Álvaro de Brée, Jorge Barradas, António Soares, Porfírio Pardal
Monteiro, Carlos Ramos, etc.. Entre os seus professores podem destacar-se:
Simões de Almeida (sobrinho); Luciano Freire (seu grande amigo); e Columbano
Bordalo Pinheiro.
Em 1924, participa pela primeira
vez em concursos públicos (concurso para o Monumento aos Mortos da Grande
Guerra, em parceria com o arquitecto Luís Cristino da Silva, onde obtém o 3º
prémio). No ano seguinte, participa na decoração do Bristol Clube,
remodelado por Carlos Ramos. Expõe no II Salão de Outono da SNBA de
1926. Nesse mesmo ano faz uma permanência de 4 meses em Paris; frequenta a Grande
Chaumière, onde terá contactado o escultor Émile-Antoine Bourdelle. Ainda
em 1926, parte para Roma, permanecendo em Itália até 1929.
Em Itália, executa Melancolia do Ancestral (habitualmente
denominada Fauno, ou Sátiro), que envia para
Portugal e que revela fidelidade à sua formação artística de matriz
oitocentista. No ano seguinte, realiza no Pensionato Artístico de Santo
António dos Portugueses, Roma, a sua primeira e única exposição individual.
Visita Florença e Veneza. Regressa a Portugal em 1929 e apresenta diversas
obras na Exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes, entre as quais O
Fauno,
que lhe vale a atribuição da Medalha de 1ª classe em Escultura.
A primeira obra pública em que
vai colaborar depois do regresso de Itália é na construção do Monumento ao
Marquês de Pombal, Lisboa. A sua filha Helena Almeida explica: «O meu
pai volta de Itália e tem a família toda a seu cargo: mãe, irmãs. O pai dele
tinha morrido e não teve outra hipótese senão começar a trabalhar no que
houvesse. Começou por ajudar o escultor Francisco dos Santos, que fez o Marquês
de Pombal, e entrou no circuito da estatuária e das encomendas». Com a
morte de Francisco dos Santos em 1930, serão Simões de Almeida e Leopoldo de
Almeida a terminar o monumento (inaugurado em 1934). Nesse mesmo ano, participa
no I Salão dos Independentes, ao lado dos artistas portugueses mais
avançados da época.
Em 1932, lecciona Desenho
na Sociedade Nacional de Belas Artes, dando início à actividade docente.
Dois anos mais tarde e após vencer o concurso oficial, entra em funções como
professor de Desenho da Escola de Belas-Artes de Lisboa, que irá
acumular, já na década de 1950, com o ensino da Escultura,
cessando as suas funções em Abril de 1963.
Em 1934, realiza baixos-relevos
para a fachada do Cineteatro Éden (projecto de remodelação de Cassiano
Branco), de inspiração bourdelliana. Em
associação com Pardal Monteiro, vence o concurso para o Monumento António
José de Almeida, Lisboa, que seria inaugurado em 1937 e que, segundo José
Augusto França, «teve importância na estatuária da época e cuja figura
tutelar da República, modernizante, merece atenção
especial». Realiza peças para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de
Fátima, também de Pardal Monteiro, inaugurada em 1938: a Virgem e os
pastorinhos de Fátima; Ressurreição de São Lázaro; e São João
Baptista.
Leopoldo de Almeida irá
adaptar-se com naturalidade ao contexto político e cultural nacional e ao seu
programa específico para a escultura, «baseado na adequação das formas a uma
linguagem modernizante e na concretização de programas monumentais
comemorativos. A época em que mais produz coincide com o tempo das grandes
encomendas públicas fomentadas pelo Estado Novo e pela política do espírito de
António Ferro, sendo o escultor que mais encomendas públicas executou naquele
período. Leopoldo de Almeida entende o programa ideológico e estético do
regime, no qual se integra o seu gosto naturalista tradicional, que alia a subtis evocações modernistas». É dentro destes
parâmetros que concebe as estátuas do Marechal Carmona (apresentada na Feira
Mundial de Nova Iorque de 1939/1940), de Oliveira Salazar (Santa
Comba Dão, 1939) ou o baixo-relevo Prisão de Gungunhana, para o Monumento
a Mouzinho de Albuquerque (Lourenço Marques, actual Maputo, 1940).
A década de 1940 será
marcante na obra do escultor. Em 1940 é-lhe atribuída a Medalha de Honra da
SNBA e o Prémio Soares dos Reis do SPN. Nesse mesmo ano, participa
na Exposição do Mundo Português com trabalhos de grande vulto
caracterizados por um «academismo modernizado praticado com segurança:
Soberania e Padrão dos Descobrimentos. Soberania surge-nos sob a forma de uma
figura imponente, coração do complexo arquitectural
em que se insere. Concebido de parceria com
Cottinelli Telmo, o Padrão dos Descobrimentos poderá ser visto como a síntese
final do espírito da exposição e da sua arquitectura necessária e possível;
nele, o escultor integra dezenas de figuras de navegadores e conquistadores
subindo, sempre sob a influência formal de Nuno Gonçalves, em duas rampas convergentes na direcção do Infante D.
Henrique, hirto como à proa de uma nave».
A partir de 1954, fez doações
significativas de obras de sua autoria ao Museu José Malhoa, Caldas da
Rainha. São trabalhos de fases diferentes e importância díspar, mas que
permitem conhecer quem foi o escultor Leopoldo de Almeida e que outras obras
realizou, para além das que povoam praças e jardins. Está representado em
inúmeras colecções, públicas e privadas, entre as quais: Centro de Arte
Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; Museu do Chiado,
Lisboa; Museu de José Malhoa, Caldas da Rainha; Museu da Cidade de
Lisboa, etc..
Em 1929, pelo grupo estrutural Homenagem
póstuma, Leopoldo Neves de Almeida recebeu o Prémio Rocha Cabral,
atribuído pelo Conselho de Arte e Arqueologia da Academia Nacional de
Belas Artes de Lisboa, juntamente com Fernando dos Santos e Domingos Rebelo.
Além das Medalhas da SNBA
e do Prémio Soares dos Reis, Leopoldo de Almeida recebeu a Medalha de
Benemerência da Cruz Vermelha Portuguesa (1973).
Leopoldo de Almeida foi feito comendador
da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada em 1941 (4 de Março), tendo sido
elevado a grande-oficial desta Ordem em 12 de Março de 1970. Entre estas
duas datas foi feito oficial da Ordem da Instrução Pública em 1956 (10
de Abril), sendo elevado ao grau de comendador desta Ordem em 5 de
Setembro de 1957.
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