Autora de obra prolífica, que
inclui trabalhos como as novelas “The Grass is Singing” e “The Golden
Notebook”, a sua obra cobre um vasto leque estilístico, indo da
autobiografia à ficção científica, com claras influências do modernismo. Foi
galardoada com o Nobel de Literatura de 2007, tendo a Academia Sueca
apontado, como razão determinante, a existência na sua obra de características
que fazem dela «a contadora épica da experiência feminina, que com
cepticismo, ardor e uma força visionária escrutinou uma civilização dividida».
Doris Lessing é a 11ª mulher a ganhar este galardão nos seus 89 anos de
história e a pessoa mais idosa que o recebeu.
Doris Lessing foi oficialmente baptizada
como Doris May Tayler, em Quermanxá, no Curdistão iraniano, onde viveu até aos
seis anos de idade. Filha do capitão Alfred Tayler e de sua mulher Emily Maude
Tayler (nascida McVeagh), ambos cidadãos britânicos nascidos na Inglaterra. O
seu pai tinha perdido uma perna durante a sua participação na Grande Guerra,
e fora durante a sua convalescença da amputação que conhecera a sua futura
esposa, então enfermeira no Royal Free Hospital de Londres. Após a Guerra,
Alfred Tayler, que antes fora bancário, aceitou um emprego no Imperial Bank
of Persia, que era um banco britânico que operou como banco estatal e banco
central do Irã, entre 1889 e 1929, por concessão do governo iraniano ao
banqueiro Paul Julius Reuter.
Assim, a família Tayler mudou-se
para Quermanxá, Irã (geralmente chamado Pérsia, no Ocidente, até 1930), onde
Doris Lessing nasceu em 1919.
Em 1925, quando a comissão de
serviço terminou, a família mudou-se para a colónia britânica da Rodésia do Sul
(hoje o Zimbabwe), onde havia adquirido cerca de mil acres (cerca de 405 ha) de
matagal e o pai se pretendia fixar como agricultor, cultivando ali milho e
tabaco.
Apesar da rudeza do ambiente que
a rodeava, a mãe de Lessing pretendia levar na nova fazenda uma vida eduardiana, o que talvez pudesse ter sido
possível se a exploração prosperasse, o que não aconteceu, já que a fazenda,
apesar do investimento e do esforço, não conseguiu atingir as expectativas
criadas.
Doris foi educada na Escola
Secundária do Convento Dominicano de Salisbúria (actual Harare), uma escola
confessional só para raparigas operada pelas irmãs dominicanas. Nunca tendo
gostado do ambiente criado pelas freiras que administravam a escola e em
conflito permanente com a sua mãe, Doris abandonou a escola aos 13 anos, sendo
autodidacta em toda a sua formação posterior.
Com o agudizar do conflito com a
mãe, abandonou a casa aos 15 anos de idade, passando a trabalhar como ajudante
de ama, tomando conta das crianças de uma família. Por essa altura começou a
ler materiais sobre política e sociologia que lhe eram emprestados pelos
patrões. Por essa época, começou a escrever.
Em 1937, Doris mudou-se para
Salisbúria para trabalhar como telefonista, casando em 1939 com Frank Charles
Wisdom, com quem teve um filho e uma filha, antes do casamento se desfazer em
1943, quando o casal se separa ficando as crianças com o pai.
Após o seu divórcio, Doris é
atraída para o Left Book Club, um círculo de leitores de inspiração
comunista, tendo aí encontrado o seu segundo marido, o alemão Gottfried
Lessing, que viria mais tarde a ser nomeado embaixador da República Democrática
Alemã no Uganda, onde foi assassinado em 1979 durante a rebelião contra Idi
Amin Dada. Casaram em 1945 e tiveram um filho (Peter Lessing) pouco antes do
casamento ter acabado em novo divórcio no ano de 1949. Doris, que optou por
manter o apelido germânico do segundo marido, partiu então para Londres na
companhia do filho.
Pouco depois de se fixar em
Londres com o filho, Doris Lessing publicou o seu primeiro romance, “The
Grass Is Singing” (“A Canção da Relva”), saído a público ainda em
1949. O seu livro mais famoso, e que representaria o seu lançamento como
escritora consagrada, foi “The Golden Notebook”, publicado em 1962.
Devido às campanhas públicas
contra as armas nucleares e contra o regime de apartheid na África do Sul,
Doris Lessing foi banida daquele país e da Rodésia durante muitos anos. Lessing
foi uma crítica áspera do thatcherismo.
Para demonstrar as dificuldades
enfrentadas por novos autores que queiram ver os seus livros editados, em 1984,
tentou publicar duas novelas sob o pseudónimo de Jane Somers. As novelas
foram rejeitadas pelo seu editor britânico, mas aceites por outro, Michael
Joseph, e pela editora americana Alfred A. Knopf. A obra “The Diary of a
Good Neighbour” foi publicada em 1983, e “If the Old Could” em 1984,
tendo saído no Reino Unido e nos Estados Unidos da América ambas como escritas por
Jane Somers. Em 1984, ambas as novelas foram republicadas (Viking
Books), como um volume único, sob o título de “The Diaries of Jane
Somers: The Diary of a Good Neighbor and If the Old Could”, indicando Doris
Lessing como a autora.
Doris Lessing declinou ser feita dama,
mas aceitou receber a ordem honorífica da Order of the Companions of Honour
nos finais de 1999, pelo seu conspícuo serviço à nação. Foi também feita Companion
of Literature pela Royal Society of Literature.
Em 11 de Outubro de 2007, Doris
Lessing foi anunciada como agraciada do Nobel de Literatura. Com 87 anos
de idade, ela é a pessoa mais idosa que recebeu aquele galardão e o terceiro
laureado mais idoso em qualquer das categorias do Prémio. Doris Lessing
é a 11ª mulher a receber o Nobel de Literatura nos seus 106 anos de
história. Quando confrontada com a notícia de ser a galardoada de 2007, Doris
Lessing disse aos repórteres que se tinham congregado frente à sua casa: «Ganhei
todos os prémios existentes na Europa, todos sem excepção, por isso estou encantada
por ganhá-los todos. É uma abada geral». O prémio vale £ 765 000 (cerca de
€ 900 000).
Doris Lessing faleceu na sua casa
de Londres os 94 anos.
Para receber o Prémio Nobel da
Literatura de 2007, a escritora escreveu um discurso e enviou-o à sua editora
sueca, que o leu na cerimónia em Estocolmo.
Doris Lessing disse num programa de rádio da BBC em Maio de 2008 que o facto de ter recebido o prestigiado prémio em 2007 redundou num «maldito desastre». Isto porque a subsequente atenção dos media, com constantes pedidos de entrevistas e sessões de fotografia, lhe tirou toda a energia para escrever uma linha que fosse
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