EFEMÉRIDE - Maria Violeta
Arraes de Alencar Gervaiseau, socióloga, psicanalista e activista
política brasileira, morreu no Rio de Janeiro em 17 de Junho de 2008.
Nascera em Araripe, Ceará, no dia 5 de Maio de 1926.
Era a mais nova de uma prole de
sete filhos de um agricultor, pecuarista e industrial. Graduou-se em Sociologia
na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Foi uma das figuras mais actuantes
nos meios académicos da sua geração, sendo líder nacional da Juventude
Universitária Católica, entre 1948 e 1951.
Violeta Arraes teve uma vida
marcada pela acção cultural e política. Estagiou durante um ano em França, no Centro
Internacional de Economia e Humanismo, dirigido pelo padre Lebret, onde
conheceu o economista e militante socialista Pierre Maurice Gervaiseau, com
quem se casou no Recife, em 1951, tendo tido três filhos.
De 1958 a 1964, residiu no
Recife, onde participou nos movimentos de educação de base. Foi colaboradora de
Dom Hélder Câmara, como militante do Secretariado Nacional da Acção Católica,
e uma das iniciadoras do Movimento de Cultura Popular, juntamente com o
pedagogo Paulo Freire. Estava também ligada ao Cinema Novo e ao mundo
artístico e literário pernambucano. Nesse período, juntamente com o marido, cooperante
francês na SUDENE, colaborou na acção política do seu irmão, o então
governador de Pernambuco, Miguel Arraes, deposto e preso em Abril de 1964,
durante o golpe militar.
Presa, juntamente com o marido,
quando chegava ao Arcebispado para visitar D. Hélder Câmara, no seu primeiro
dia de bispo de Recife e Olinda, foi expulsa do país com a família, quatro
meses mais tarde.
Em França, onde residiu a partir
de 1964, cursou a pós-graduação em Psicologia e actuou como
psicoterapeuta, no serviço liderado por Daniel Widlöcher.
O seu apartamento no Bois de
Boulogne era um abrigo ecuménico para os perseguidos pela ditadura. Como
psicoterapeuta, ajudou muitos brasileiros traumatizados pela tortura, como
revelou o historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor da Universidade
de Paris. Pela sua generosidade no acolhimento aos exilados políticos
brasileiros em França, ficou conhecida como a “Rosa de Paris”.
Segundo Aloysio Nunes Ferreira
Filho, exilado em França durante onze anos, «Violeta foi a alma da Frente
Brasileira de Informações, fundamental para a denúncia dos crimes contra os
direitos humanos cometidos pela ditadura. Como estava acima das divisões entre
partidos e grupos políticos, conversava com todos, aglutinava todos». A Frente
Brasileira de Informações foi articulada com a colaboração de Violeta e do
seu irmão, Miguel Arraes.
A sua casa transformou-se numa
referência para intelectuais e artistas perseguidos pelos militares. Depois,
foi também referência para a divulgação da arte e da cultura brasileiras em
França. Violeta ajudou também exilados chilenos, que começavam a chegar a
França, após o golpe de Augusto Pinochet, e os movimentos anticolonialistas de
Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.
Em 1979, ano da amnistia, regressou
ao Brasil, sendo convidada a trabalhar como adida ao Projecto França-Brasil,
na embaixada brasileira em Paris. De 1984 a 1986, Violeta dedicou-se a elaborar
e desenvolver o projecto, realizando vários eventos significativos,
destacando-se a Exposição de Arte Popular Brasileira, no Museu de
Arte Moderna.
Em 1988, a convite do governador
Tasso Jereissati, assumiu a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará.
Em Novembro de 1996, foi nomeada
reitora da Universidade Regional do Cariri, cargo que exerceu entre Março
de 1997 e Junho de 2003.
Juntamente com o marido, criou a Fundação
Araripe, para preservar a vegetação da Chapada do Araripe, uma vasta
área que abriga a primeira Floresta Nacional do Brasil, situada entre os
estados do Ceará, Piauí e Pernambuco.
Nos seus últimos anos de vida,
Violeta morou no Rio de Janeiro e lutou contra um cancro que a vitimou.
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