segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

DIVERSOS

O QUE É UM TSUNAMI? - O jornalista indiano Ranjan Roy, escreveu no "The Times Of India" a sua explicação para o fenómeno tsunami. É bom ficar por dentro do assunto, porque deve ser mote para toda a semana: Junto com o bonsai e o harakiri, tsunami (parede de água) é talvez a expressão mais famosa que os japoneses conseguiram filtrar para o léxico de todas as línguas.

Mas até que a grande onda batesse na manhã deste domingo nos litorais da Ásia, destruindo casas e milhares de vidas, poucas vezes se teve ocasião para se enfatizar a ferocidade de uma tsunami, muito menos para usar a palavra em linguagem quotidiana.

A 'parede de água' pode desafiar um avião a jacto em velocidade, pode rivalizar-se em altura com um edifício de até dez andares e pode conter força bastante para destruir centenas de quilómetros de litoral. Ela emergiu como uma figura de linguagem para o uso do inglês contemporâneo, mas para o japonês que vive com a ameaça de tsunamis no Pacífico – a área é conhecida como o 'anel de fogo' por ser no mundo a região geologicamente mais activa – a palavra faz parte de linguagem comum em arte, poesia e literatura.
Hokusai, um famoso artista japonês do século XVIII, descreveu as tsunamis em pinturas que não eram tão apreciadas quanto as pinturas de seda que vieram da China, mas mais recentemente chegaram a ser entesouradas como verdadeiras obras de arte.
A palavra tsunami (pronuncia-se su-na-mi), é agora usada mundialmente para descrever qualquer corrente poderosa. Basta lembrar o caso do primeiro-ministro britânico Tony Blair, que diz ter enfrentado uma 'tsunami de críticas' em relação à manipulação de documentos sobre o caso do dossier Iraque.
Outro exemplo foi o do presidente dos EUA, George W Bush que, de acordo com comentaristas políticos americanos, em Novembro último foi escolhido por uma "tsunami de conservadores" para a chefia da Casa Branca.

 
TEXTO DE GABRIEL GARCIA MARQUEZ
 
Se por um instante Deus esquecesse que sou uma marioneta de pano e me presenteasse com mais um pouco de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria em tudo o que digo.
Daria valor às pequenas coisas, não pelo que valem, mas sim pelo que significam...
Dormiria pouco, sonharia mais, entendendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os demais se deitavam, despertaria quando os demais dormissem.
Escutaria quando os demais falassem, e como iria saborear um delicioso sorvete de chocolate!
Se Deus me concedesse mais um pouco de vida, vestiria-me simplesmente.
Deitaria-me de bruços ao sol, deixando descoberto, não somente meu corpo, senão minha alma.
Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu horror ao frio, e esperaria que saísse o sol.
Pintaria como num sonho de Van Gogh, sobre as estrelas, um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat.
Seria a serenata que ofereceria à lua.
Regaria com minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor de seus espinhos, e o beijo vermelho das suas pétalas.
Deus meu, se eu tivesse um pouco mais de vida...
Não deixaria passar um só dia sem dizer a toda gente, que lhes quero muito.
Viveria apaixonado pelo amor.
Aos homens, provaria o quanto estão equivocados ao pensar que deixam de apaixonar-se quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de apaixonar-se.
A uma criança, daria asas, mas deixaria que ela sozinha aprendesse a voar.
Aos idosos, ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês homens...
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com seu pequeno punho, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem conquistado para sempre.
Aprendi que um homem somente tem direito de olhar outro de cima para baixo, quando for ajudá-lo a levantar-se.
Diz sempre o que sentes e faz o que pensas.
Se soubesse que hoje seria a última vez que te veria dormir, te abraçaria fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião de tua alma.
Se soubesse que esta seria a última vez que te veria sair pela porta, te daria um abraço, um beijo e te chamaria novamente para dar-te mais.
Se soubesse que esta foi a última vez que escutaria a tua voz, gravaria cada uma das tuas palavras para poder ouvi-las uma e outra vez, indefinidamente.
Se soubesse que estes são os últimos minutos que te veria, diria... ”quero-te” e assumiria completamente o que já sabes.
Sempre há um amanhã e a vida dá-nos mais uma oportunidade para fazermos as coisas bem; mas se não me engano, hoje é tudo o que nos resta, então gostaria de dizer-te o quanto te quero e que nunca te esquecerei.
O amanhã é incerto.
Velho ou jovem, ninguém tem certeza se o viverá.
Hoje pode ser a última vez que você verá as pessoas que ama.
Por isso não espere mais para demonstrar amor.
Faça-o hoje, já que o amanhã pode não chegar.
Com certeza lamentarás o dia que não tomastes tempo para um sorriso, um abraço, um beijo e que estiveste muito ocupado para conceder a quem amas, um último desejo.
Mantém a todos que amas perto de ti.
Diz-lhes ao ouvido, o quanto precisas deles, o quanto lhes queres e trata-os bem.
Toma tempo para dizer-lhes “sinto muito”, “perdoa-me”, “obrigado”, e todas as palavras de amor que conheces.
Ninguém se lembrará de ti pelos teus pensamentos secretos.
Pede ao Senhor a força e a sabedoria para expressá-los.
Demonstra a teus amigos quanto te importas com eles.
Lembra-te sempre:
Vive hoje intensamente!
Coloca em prática os teus sonhos.
O momento é este!... 
O escritor Gabriel Garcia Marquez, que vive lúcido e consciente os seus últimos dias de vida, vítima terminal de um cancro linfático, escreveu esta despedida que é um instante inesquecível da sensibilidade humana. Está hoje com 76 anos. Nasceu em 1928 na Colômbia. Ganhou fama internacional com a obra "Cem Anos de Solidão", escrita em 1961.

Sem comentários:

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
- Lisboa, Portugal
Aposentado da Aviação Comercial, gosto de escrever nas horas livres que - agora - são muitas mais...