Filha
de uma bióloga assistente de Botânica na Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa e de um professor do ensino secundário, Adília
Lopes estudou na licenciatura de Física da Universidade de Lisboa,
curso que abandonou quase no final,
devido a uma psicose esquizo-afectiva, doença da qual sempre falou abertamente,
fosse na sua poesia, crónicas, conferências ou entrevistas a meios de
comunicação social. Deixou de estudar por conselho médico e começou a escrever
com o intuito de publicar.
Concorre
em 1983 a um Prémio de Prosa da Associação Portuguesa de Escritores,
para o qual um amigo lhe sugeriu o pseudónimo por que ficará conhecida, e envia
poemas para a editora Assírio & Alvim, que remete dois deles para o
seu Anuário de Poetas não Publicados de 1984.
Começa
uma nova licenciatura, de Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa
(1983/1988), na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e
publica o seu primeiro livro de poemas em edição de autor, “Um jogo bastante
perigoso” (1985).
Ao
longo do curso, Adília Lopes publicou outros quatro livros de poesia, entre os
quais “O Poeta de Pondichéry” (1986) - a sua obra mais traduzida,
baseada numa enigmática personagem de Jacques le fataliste, romance de Diderot -
e “O decote da dama de espadas” (1988), reunião de poemas redigidos
entre 1983 e 1987, louvado por vários críticos. Terminada a licenciatura, foi
bolseira do Instituto Nacional de Investigação Científica (1989/1992),
tendo trabalhado no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa,
no projecto de antroponímia de países de línguas românicas PatRom.
Não
escreveu no período de 1987 a 1991 e, de certa forma, inicia nesse ano um novo
ciclo, novamente em edição de autor, com “Os 5 Livros de Versos Salvaram o
Tio”, 250 exemplares para distribuição gratuita.
Entre
1992 e 1997, faz publicar cinco livros de poesia, um dos quais em prosa (“A
bela acordada”), e especializa-se em Ciências Documentais (1995) na Faculdade
de Letras de Lisboa. Trabalhou nos espólios de Fernando Pessoa, Vitorino
Nemésio e José Blanc de Portugal, este último padrinho de crisma da autora.
Trabalhou
para o teatro em 1999, tendo a companhia de teatro Sensurround, de Lúcia
Sigalho, interpretado um espectáculo baseado em textos seus, intitulado “A
Birra da Viva”.
No
ano seguinte, foi publicado “Obra”, reunião dos quinze livros de poesia
de Adília Lopes, com ilustrações de Paula Rego. A pintora, surpreendida, havia
encontrado nos poemas um impressionante paralelo com o seu próprio imaginário:
«fizeram-me logo lembrar a minha juventude, com as criadas, as bonecas, as
mães ultraprotectoras. Adília Lopes é de um grande romantismo e ao mesmo tempo
de um grotesco e de um cómico transbordantes.». Em resposta à cortesia,
Adília traduziu para português “Nursery Rhymes” (“Rimas de Berço”),
um álbum de gravuras de Paula Rego baseadas nas clássicas rimas infantis
inglesas.
Após
a publicação de “Obra”, Adília Lopes conheceu um relativo sucesso
mediático, tendo participado em vários programas de televisão e recebido uma
reforçada atenção de muitos críticos literários, embora desde 1998 já incluísse
nos seus livros posfácios da autoria de académicos (Osvaldo M. Silvestre,
Américo Lindeza Diogo, Manuel Sumares, aos quais se seguiram Elfriede
Engelmayer e Valter Hugo Mãe). É frequentemente inquirida sobre Adília Lopes
ser uma personagem ou a própria Maria José.
As
principais influências literárias assumidas por Adília Lopes são Sophia de
Mello Breyner Andresen e Ruy Belo, mas também a Condessa de Ségur, Emily
Brontë, Enid Blyton, Roland Barthes ou Nuno Bragança.
O
estilo da poetisa, aparentemente coloquial e naïf, está repleto de jogos
fonéticos, associações livres, rimas infantis e idiomas estrangeiros. Os temas
do quotidiano, principalmente femininos e domésticos, são tratados com humor e
auto-ironia, candura e crueza, inteligência e intencionalidade: «há sempre
uma grande carga de violência, de dor, de seriedade e de santidade naquilo que
escrevo».
É
Adília, católica praticante que por vezes transporta uma profunda religiosidade
para o que escreve, que se define a si própria como «tímida desenrascada»
ou «freira poetisa barroca».
Colaborou
com poemas, artigos ou poemas traduzidos, em diversos jornais e revistas,
nacionais e estrangeiros.
Morreu
em 2024, no Hospital de São José, Lisboa, onde estava internada.
Fora
homenageada pela Companhia Nacional de Bailado, em 2016.
Em
2023, foi lançado o Prémio Literário Adília Lopes, no Colóquio ‘Ir
à escola com a Adília’, que decorreu na Biblioteca Nacional de Portugal.
Aquando
da sua morte, a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, emitiu uma nota
de pesar, e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, homenageou-a no
site da Presidência da República.
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