EFEMÉRIDE –
Fernando António Nogueira de Seabra
Pessoa, poeta e escritor português, faleceu em Lisboa no dia 30 de Novembro de 1935. Nascera também em Lisboa, em 13 de Junho de 1888.
Considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e da Literatura Universal, é muitas vezes comparado a Luís de Camões.
Por ter crescido na África do Sul, para onde foi aos sete anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu muito cedo a língua inglesa. Das quatro obras que publicou em vida, três são em inglês. Fernando Pessoa dedicou-se também a traduções desse idioma.
Ao longo da vida trabalhou em várias firmas como correspondente comercial. Foi também empresário, editor, crítico literário, activista político, tradutor, jornalista, inventor, publicitário e publicista, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária que, em grande parte, ficou inédita até à sua morte. Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades, conhecidas como heterónimos.
A sua infância e a sua adolescência foram marcadas por factos que o influenciariam posteriormente. Às cinco horas de uma manhã de Julho de 1893, o pai morreu, com 43 anos, vítima de tuberculose. Fernando tinha apenas cinco anos. O irmão Jorge viria a falecer no ano seguinte, sem completar um ano. A mãe viu-se obrigada a leiloar parte da mobília e mudou-se para uma casa mais modesta. Ainda no mesmo ano, escreveu o primeiro poema, um verso curto com a infantil epígrafe de «
À Minha Querida Mamã». A mãe casou-se pela segunda vez em 1895 com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban (África do Sul). Em África, onde passou a maior parte da juventude e recebeu educação inglesa, Pessoa viria a demonstrar talento para a literatura desde muito cedo.
Fez a instrução primária na escola de freiras irlandesas da West Street, percorrendo em dois anos o equivalente a quatro. Em 1899 ingressou no
Liceu de Durban, onde permaneceu durante três anos e foi um dos primeiros alunos da sua turma. No ano de 1901, foi aprovado com distinção no exame
Cape School High Examination e escreveu os primeiros poemas em inglês. Na mesma época, morreu a sua irmã Madalena Henriqueta, com dois anos. Em 1901 partiu com a família com destino a Portugal, para um ano de férias. No navio em que viajavam, vinha o corpo da irmã. Viajou tempos mais tarde até à Ilha Terceira, nos Açores, onde vivia a família materna. Deslocaram-se também a Tavira para visitar parentes paternos.
Tendo recebido uma educação britânica, que lhe proporcionou um profundo contacto com a língua inglesa, os seus primeiros textos foram em inglês. Manteve contacto com a literatura inglesa através de autores como Shakespeare, Edgar Allan Poe e Lord Byron, entre outros. O Inglês teve grande importância na sua vida, trabalhando com o idioma quando, mais tarde, se tornou correspondente comercial em Lisboa, além de o utilizar nos seus textos e de traduzir trabalhos de poetas ingleses. Com excepção de “
Mensagem”, os únicos livros publicados em vida foram os das colectâneas dos seus poemas ingleses, escritos entre 1918 e 1921.
Fernando Pessoa permaneceu em Lisboa, enquanto todos - mãe, padrasto, irmãos e empregada doméstica - regressaram a Durban. Voltou depois, sozinho, para África. Matriculou-se na
Durban Commercial School, escola comercial de ensino nocturno, enquanto durante o dia estudava as disciplinas humanísticas para entrar na universidade.
Em 1903, candidatou-se à
Universidade do Cabo da Boa Esperança. Na prova de admissão, entre os 899 candidatos, obteve a melhor nota no ensaio de
estilo inglês. Recebeu por isso o “
Prémio Rainha Vitória”. Um ano depois, ingressou na
Durban High School, onde frequentou o equivalente a um primeiro ano universitário. Aprofundou a sua cultura, lendo clássicos ingleses e latinos. Escreveu poesia e prosa em inglês, assinando com heterónimos. Por fim, encerrou os seus bem sucedidos estudos na África do Sul, com o “
Intermediate Examination in Arts”, na Universidade, obtendo uma boa classificação.
Deixando a família em Durban, regressou definitivamente à capital portuguesa em 1905. Continuou a produção de poemas em inglês e, em 1906, matriculou-se no
Curso Superior de Letras, que abandonou sem sequer completar o primeiro ano. Foi nesta época que entrou em contacto com importantes escritores portugueses, interessando-se pela obra de Cesário Verde e pelos sermões do Padre António Vieira.
Em Agosto de 1907, morreu a sua avó Dionísia, com quem então vivia e que lhe deixou uma pequena herança. Montou uma modesta tipografia, que rapidamente faliu. A partir de 1908, dedicou-se à tradução de correspondência comercial, uma actividade a que poderíamos dar o nome de “correspondente estrangeiro”. Nessa profissão trabalhou praticamente toda a vida, tendo uma modesta actividade pública.
Iniciou a sua actividade de ensaísta e crítico literário, com o artigo “
A Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente Considerada”, a que se seguiriam “
Reincidindo…” e “
A Nova Poesia Portuguesa no Seu Aspecto Psicológico”, publicados em 1912 pela revista “
A Águia”.
Pessoa foi internado no dia 29 de Novembro de 1935, no
Hospital de São Luís dos Franceses, com diagnóstico de cólica hepática, provavelmente causada por cálculo biliar e associada a cirrose com origem no excesso de álcool. Morreu no dia seguinte.
Pode dizer-se que a vida do poeta foi dedicada a criar e que, de tanto criar, criou outras vidas através dos seus heterónimos.
Saliente-se que os heterónimos, diferentemente dos pseudónimos, são personalidades poéticas completas: identidades que, em princípio falsas, se tornam verdadeiras através da sua manifestação artística própria e diversa do autor original. Os três mais conhecidos foram Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Um quarto heterónimo de grande importância na obra de Pessoa foi Bernardo Soares, autor do “
Livro do Desassossego”, importante obra literária do século XX.
Na comemoração do centenário do nascimento de Fernando Pessoa, em 1988, o seu corpo foi trasladado para o
Mosteiro dos Jerónimos.
Pessoa interessava-se também pelo
ocultismo e pelo
misticismo, tendo defendido publicamente as organizações iniciáticas, contra ataques da ditadura do
Estado Novo. Tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo e realizou mais de mil horóscopos.
Fernando Pessoa foi o primeiro português a figurar na
Collection Bibliothèque de la Pléiade, prestigiada colecção francesa de grandes nomes da literatura. A sua obra está traduzida em numerosas línguas, desde as europeias até ao chinês.