Como jogador de futebol,
representou sempre o SL e Benfica, de 1936 até 1949. Ao serviço dos
encarnados, sagrou-se 4 vezes Campeão Nacional, venceu 3 Taças de
Portugal e 1 Campeonato de Lisboa, marcando mais de 150 golos em 14
épocas.
No atletismo, foi recordista
nacional do salto em altura, comprimento e triplo-salto, tendo conquistado
vários títulos de Campeão Nacional, nas três especialidades de saltos.
Guilherme Espírito Santo era
descendente de são-tomenses. Aos 8 anos de idade teve de se fixar com a mãe em
Luanda. Foi na capital angolana que deu os primeiros passos para o futebol,
entrando muito novo para a escola de formação do Sport Luanda e Benfica.
Benfiquista de coração, o jovem Guilherme tinha Vítor Silva, grande avançado do
seu futuro clube, como grande ídolo de juventude. Por ironia do destino, em
1936, foi contratado pelo Benfica para substituir a sua referência de
infância, depois de ter agradado nos treinos que fez à experiência.
Aos 16 anos, estreou-se na
primeira equipa dos encarnados, num encontro particular frente ao Vitória FC
de Setúbal, em 20 de Setembro de 1936, vencendo por 5-2 e marcando um golo
aos 85 minutos no campo dos Arcos. A estreia oficial ocorreu em 11 de
Outubro, para o Campeonato Regional (ainda com Vítor Gonçalves como
treinador) quando, no campo do Casa Pia AC, denominado Restelo, o
Benfica empatou sem golos com os casa-pianos. Espírito Santo estava a 19
dias de completar 17 anos. Sagrou-se Campeão Nacional, logo nessa época
de estreia, em 1936/1937, revalidando o título conquistado pelo Benfica
na época anterior, tendo sido totalista com 14 jornadas (1 260 minutos),
marcando 16 golos, média superior a um golo por jogo.
Nas 4 épocas seguintes, o
avançado centro africano, cedo alcunhado de “Pérola Negra”, ajudou a sua
equipa a conquistar mais 3 títulos: o seu Bicampeonato Nacional
(tricampeonato da equipa), em 1937/1938, bem como o Campeonato de Lisboa
e a Taça de Portugal em 1939/1940.
Durante esse período
temporal, destaque para os 9 golos apontados frente ao Casa Pia, numa
vitória robusta por 13-1, em jogo a contar para o Campeonato de Lisboa
de 1937/1938. Destaque também para o jogo das meias-finais da Taça de
Portugal, na época 1938/1939, quando se disputava em duas mãos. Após ter
perdido 6-1 no primeiro jogo, o Benfica operou uma reviravolta
espectacular ganhando a segunda mão por 6-0, o que levou os jogadores do FC
do Porto a abandonarem o relvado a 18 minutos do fim, tendo Espírito Santo
apontado 2 golos.
Depois de 5 épocas recheadas
de êxitos, não só a carreira do nº 7 do Benfica ficou em perigo, como também a
sua própria vida. Uma grave inflamação nos pulmões impediu-o de disputar
qualquer jogo de futebol entre 1941 e 1944. Depois de 2 temporadas em branco,
Espírito Santo regressou, desta feita para actuar numa nova posição, a de
extremo direito. Ainda disputou 7 jogos no final da época de 1943/1944, tendo
apontado um golo no campeonato e venceu a sua segunda Taça de Portugal,
conquistada na final frente ao GD Estoril-Praia, numa vitória recorde
por 8-0.
Um ano mais tarde, mais um
título de campeão, numa prova ganha ao sprint. O rival Sporting CP
conquistou 27 pontos, menos 3 que as águias. Esta seria a última vitória no Nacional
de Futebol até 1949/1950, última época da carreira de Espírito Santo.
Entretanto, o CF
Belenenses conquistou o seu primeiro título e o Sporting sagrou-se Tricampeão
Nacional. O Benfica, contudo, vendeu sempre cara a derrota, ficando
as quatro vezes em 2º lugar, tendo inclusive perdido em 1947/1948 pelo
confronto directo, pois terminou em igualdade pontual com os leões.
Em 1948/1949, e já em final
de carreira, triunfou novamente na Taça de Portugal, desta vez
derrotando na final o Atlético CP, por 2-1. A época seguinte marca o
final de jejum do Benfica, que conquistou sem contestação o seu 7º Campeonato
Nacional, 4º com o contributo de Guilherme Espírito Santo. No entanto, o
extremo apenas actuou num jogo nesta época. Despediu-se dos relvados em 8 de
Dezembro de 1949, com 30 anos, num jogo onde o Benfica venceu a A. Académica de Coimbra por 7-1. Jogou os
últimos 15 minutos, a avançado-centro, despedindo-se para sempre do futebol.
Participou durante 12 temporadas na equipa principal do “Glorioso”, com
nove épocas a titular. Jogou um total de 24 561 minutos (correspondentes a 17
dias a jogar ininterruptamente) em 285 jogos, marcando 199 golos. Entre 4 de
Abril de 1937 e 17 de Abril de 1938, durante um ano, participou nos 42 jogos
consecutivos da equipa principal, num total de 3 735 minutos. Entre 285 jogos e
199 golos, em destaque 116 jornadas e 79 golos no Campeonato Nacional,
22 jogos (e 16 golos) na Taça de Portugal, 60 jornadas (e 45 golos) no Campeonato
Regional de Lisboa, oito encontros (seis golos) na Taça de Honra da AFL,
um jogo e um golo na Taça Império (inauguração do Estádio Nacional,
no Vale do Jamor), 44 jogos (e 36 golos) em particulares nacionais, sete jogos
internacionais particulares e 15 encontros (e sete golos) em jogos nacionais em
torneios.
Sempre ligado ao seu clube,
continuou a representar o Benfica na modalidade de Ténis, jogando
durante três décadas, mostrando nos courts a sua vocação de desportista,
sagrando-se Campeão Regional e Nacional em representação do
clube. Foi homenageado pelo Benfica, com o mais alto galardão da
história do clube, a Águia de Ouro, em 15 de Junho de 2000 e designado presidente
Honorário do Centenário do Sport Lisboa e Benfica.
Espírito Santo entrou na
história ao ser o primeiro futebolista negro a representar Portugal. A sua
estreia deu-se num jogo contra a selecção espanhola e logo na primeira vitória
conseguida pelas cores portuguesas. Foi em 28 de Novembro de 1937, em Vigo,
depois de 11 derrotas e 1 empate, frente à congénere espanhola. Numa altura em
que os jogos internacionais escasseavam, foi 8 vezes internacional A
pela formação das Quinas, tendo apontado 1 golo.
Foi por acaso que o jovem
futebolista do Benfica descobriu que também tinha jeito para outra
modalidade. Em 1938, num treino da sua equipa, no Estádio das Amoreiras,
a bola escapou-se para o local onde se praticava atletismo e quando buscava o
esférico, o futebolista do Benfica saltou despreocupadamente por cima de
um obstáculo, colocado a 1 metro e 70 do chão, surpreendendo até os próprios
atletas que não conseguiam transpor essa barreira.
Num tempo em que o desporto
era amador, tornava-se possível conciliar várias modalidades. Guilherme
Espírito Santo foi então convidado para praticar salto em altura, salto em
comprimento e triplo-salto, pela secção de atletismo do Benfica.
Sagrou-se bicampeão nacional em todas as actividades, altura,
comprimento e triplo-salto. Melhorou o recorde nacional do salto em altura, por
duas vezes, em 1940, e no salto em altura, a sua marca de 1.88 metros foi mesmo
recorde ibérico e manteve-se como o máximo nacional durante 20 anos. A sua
aptidão para o desporto, aliada ao desportivismo que sempre o caracterizou,
valeram-lhe a condecoração com o prémio fair-play, pelo Comité Olímpico
Internacional, em 1999.
Mesmo depois de retirado,
tanto do futebol como do atletismo, a vocação desportiva de Espírito Santo
manteve-se inalterada. Praticou ténis até uns impressionantes 85 anos de idade
e sagrou-se Campeão Nacional em terceiras-categorias, com 60 anos.
Faleceu com 93 anos de idade.
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