Foi considerado um dos
maiores expoentes da poesia cripto/judaica do século XVII.
Era o mais velho dos três
filhos de Gonçalo Delgado e neto de um poeta menor igualmente chamado João
Pinto Delgado.
Aos vinte anos, deixa o
Algarve e muda-se com a família para Lisboa, com o objectivo de estudar e
prosseguir as suas ambições literárias. Foi na capital portuguesa - entretanto
já sob o domínio espanhol - que tomou contacto pela primeira vez com as obras
de Jorge Manrique, Garcilaso, Herrera, Góngora e Luis de León, que na época
circulavam sob a forma de manuscritos. Apesar de existirem alguns poemas seus
em português, o grosso da sua obra foi originalmente escrito em língua
castelhana.
Em 1624, João Pinto Delgado
partiu para Ruão, em França, para se juntar aos seus pais que, entretanto, tinham
escapado à Inquisição portuguesa. É nesta cidade francesa - onde o seu
pai é um dos líderes da comunidade judaica ibérica ali radicada - que publica
uma colecção de poemas que viria a cimentar a sua reputação literária: “Poema
de la Reyna Ester - Lamentaciones del Profeta Ieremias”.
Pouco depois da Inquisição
espanhola ter enviado um emissário a Ruão para investigar os cripto-judeus em
França, a família de João Pinto Delgado partiu para Antuérpia, actual Bélgica,
e logo a seguir para Amesterdão. Aqui, perante a relativa tolerância religiosa
holandesa, Pinto Delgado passou a praticar o judaísmo de forma aberta e livre
pela primeira vez, passando a chamar-se Moshe (Moisés) Pinto Delgado.
Entre 1636 e 1640, tornou-se
um dos sete parnasim (governadores) da Yeshiva (seminário
religioso) de Amsterdão, onde na altura estudava o pequeno Baruch Spinoza.
Na sua obra poética, João
Pinto Delgado buscou os seus temas frequentemente na bíblia hebraica, uma
tendência que partilhou com os poetas marranos da época.
Tem uma atracção particular
por histórias que relatam o poder de Deus para resgatar Israel em tempos de
sofrimento, tal como o demonstram as narrativas de “Ester” e do “Êxodo”,
ambos por ele adaptados poeticamente.
Em “Lamentaciones del
Profeta Ieremias”, João Pinto Delgado discorre sobre as tragédias da
história de Israel, apresentando a visão de que o povo é responsável pelo seu
sofrimento por ter falhado aderir por completo à Lei de Moisés. Este é
um tema recorrente da literatura marrana, derivado em grande medida do
sentimento de culpa em relação à sua própria observância religiosa judaica,
disfarçada sob a falsa capa do omnipresente catolicismo.
Na poesia de João Pinto
Delgado transparece a sua noção de que a Inquisição seria um instrumento
de Deus para trazer os marranos de volta ao judaísmo, acordando neles a firme
noção das suas origens.
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