segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

23 DE DEZEMBRO - JOÃO PINTO DELGADO

EFEMÉRIDE - João Pinto Delgado, poeta português, morreu em Amsterdão no dia 23 de Dezembro de 1653. Nascera em Portimão, em 1580.

Foi considerado um dos maiores expoentes da poesia cripto/judaica do século XVII.

Era o mais velho dos três filhos de Gonçalo Delgado e neto de um poeta menor igualmente chamado João Pinto Delgado.

Aos vinte anos, deixa o Algarve e muda-se com a família para Lisboa, com o objectivo de estudar e prosseguir as suas ambições literárias. Foi na capital portuguesa - entretanto já sob o domínio espanhol - que tomou contacto pela primeira vez com as obras de Jorge Manrique, Garcilaso, Herrera, Góngora e Luis de León, que na época circulavam sob a forma de manuscritos. Apesar de existirem alguns poemas seus em português, o grosso da sua obra foi originalmente escrito em língua castelhana.

Em 1624, João Pinto Delgado partiu para Ruão, em França, para se juntar aos seus pais que, entretanto, tinham escapado à Inquisição portuguesa. É nesta cidade francesa - onde o seu pai é um dos líderes da comunidade judaica ibérica ali radicada - que publica uma colecção de poemas que viria a cimentar a sua reputação literária: “Poema de la Reyna Ester - Lamentaciones del Profeta Ieremias”.

Pouco depois da Inquisição espanhola ter enviado um emissário a Ruão para investigar os cripto-judeus em França, a família de João Pinto Delgado partiu para Antuérpia, actual Bélgica, e logo a seguir para Amesterdão. Aqui, perante a relativa tolerância religiosa holandesa, Pinto Delgado passou a praticar o judaísmo de forma aberta e livre pela primeira vez, passando a chamar-se Moshe (Moisés) Pinto Delgado.

Entre 1636 e 1640, tornou-se um dos sete parnasim (governadores) da Yeshiva (seminário religioso) de Amsterdão, onde na altura estudava o pequeno Baruch Spinoza.

Na sua obra poética, João Pinto Delgado buscou os seus temas frequentemente na bíblia hebraica, uma tendência que partilhou com os poetas marranos da época.

Tem uma atracção particular por histórias que relatam o poder de Deus para resgatar Israel em tempos de sofrimento, tal como o demonstram as narrativas de “Ester” e do “Êxodo”, ambos por ele adaptados poeticamente.

Em “Lamentaciones del Profeta Ieremias”, João Pinto Delgado discorre sobre as tragédias da história de Israel, apresentando a visão de que o povo é responsável pelo seu sofrimento por ter falhado aderir por completo à Lei de Moisés. Este é um tema recorrente da literatura marrana, derivado em grande medida do sentimento de culpa em relação à sua própria observância religiosa judaica, disfarçada sob a falsa capa do omnipresente catolicismo.

Na poesia de João Pinto Delgado transparece a sua noção de que a Inquisição seria um instrumento de Deus para trazer os marranos de volta ao judaísmo, acordando neles a firme noção das suas origens.

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