domingo, 24 de agosto de 2014

24 DE AGOSTO - SIMONE WEIL



EFEMÉRIDESimone Adolphine Weil, escritora, mística e filósofa francesa, morreu em Ashford no dia 24 de Agosto de 1943. Nascera em Paris, em 3 de Fevereiro de 1909.
Lutou na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos republicanos, e na Resistência Francesa, em Londres. Atingida pela tuberculose, não admitiu receber alimentação diferente da ração diária atribuída aos soldados, nos campos de batalha, ou aos civis através das senhas de racionamento. Com a progressiva deterioração de seu estado de saúde, desnutrida, faleceu poucos dias depois do seu internamento hospitalar.
Nascida numa família alsaciana judia mas não praticante, revelou precocemente uma inteligência notável mas também uma mentalidade excêntrica. Recusava-se frequentemente a comer por razões "idealísticas" e estava determinada a permanecer virgem. Já falava grego arcaico aos doze anos de idade. Em Junho de 1925, obteve um bacharelado em Filosofia e esteve depois três anos no Liceu Henri IV para preparar o exame da Ecole Normale Supérieure, sob a supervisão do filósofo anti-conformista “Alain” (que a apelidou de “Marciana”, por causa das roupas estranhas que ela habitualmente usava). Foi uma das duas primeiras mulheres a estudar nesta instituição.
Em 1931, tornou-se professora numa escola secundária para raparigas, em Le Puy, onde ganhou outra alcunha exótica: “Virgem Vermelha", algo como uma mistura de freira e de anarquista. Compartilhava a prosaica actividade de professora com períodos exaustivos, em que trabalhava em quintas e fábricas. Segundo ela, o papel apropriado para a ciência era permanecer integrada na vida produtiva, sem o que se tornaria um mero sistema remoto de sinais vazios. Depois de dizer para as suas alunas que «a família era a prostituição legalizada e a esposa uma amante reduzida à escravidão», foi transferida de escola e de cidade.
Em Agosto de 1932, viajou até Berlim para verificar de perto a situação na Alemanha e a ascensão do nazismo, constatando o impasse do movimento revolucionário, entalado – de um lado – por uma social-democracia reformista, cujos líderes, bastante próximos dos governantes da República de Weimar, eram por demais estranhos ao proletariado; do outro, por um partido comunista fragilizado, que agrupava desempregados e escolhia os social-democratas como principais adversários. Ambos deixavam o campo aberto para o avanço de Hitler e do nacional-socialismo. As suas impressões de viagem foram registadas em diversos artigos escritos entre 1932 e 1933.
Em 1934, afastou-se durante dois anos do ensino para tentar viver como e entre os operários. Todavia, a sua resistência física só lhe permitiu levar o projecto até Agosto de 1935, visto que adoeceu com uma inflamação na pleura, quando trabalhava na linha de montagem de carros da Renault. Ficou tão traumatizada com a sua experiência fabril, que abandonou imediatamente quaisquer noções românticas que ainda tivesse sobre o proletariado e a sua habilidade para o ajudar. Descobriu que, na maioria das vezes, a opressão não provocava a rebelião, mas sim a obediência e a apatia.
Com base na sua experiência pessoal, argumentou – no ensaio “Expérience de la vie d'usine” – que a automatização é uma bela coisa, ao eliminar o trabalho penoso e servil, mas que a super-automatização transformava um trabalhador qualificado num mero intermediário entre a maquinaria e as coisas a serem processadas. A única solução possível, segundo Simone, não seria um retorno ao modo rude da manufactura, mas sim automatizar somente as tarefas mais ingratas. Para todas as outras actividades, deveria combinar-se a precisão da máquina com a assistência habilitada do trabalhador, exigindo do operador pró actividade, iniciativa e uma apreensão inteligente das partes operacionais.
Em Julho de 1936, com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, Simone juntou-se à causa republicana. Mesmo sendo míope e frágil, recebeu um rifle e foi incorporada numa unidade de anarquistas. Sem nenhuma preparação para a vida militar, enfiou um pé numa panela de óleo a ferver e teve de ser resgatada pelos pais, que a mandaram para Assis, em Itália, para se tratar. Desanimada com as atrocidades que havia visto cometer nos dois lados, Simone reafirmou o seu pacifismo.
Forçada a parar de ensinar por causa de constantes enxaquecas, Simone tornou-se crescentemente obcecada por questões metafísicas. Em acréscimo ao seu conhecimento enciclopédico, que ia da poesia de Homero às últimas descobertas em teorias matemáticas, ela começou a estudar os gnósticos, os pitagóricos, os estóicos e o budismo. Devorou o “Livro dos Mortos” egípcio e ficou tão impressionada com o “Bhagavad Gita” que começou a aprender sânscrito por conta própria.
Com o início dos conflitos entre a França e a Alemanha em Setembro de 1939, Simone deixou claro em diversos artigos publicados nos “Nouveaux Cahiers” que, apesar do medo e da raiva que os nazis lhe causavam, era uma irresponsabilidade que políticos e jornalistas franceses os retratassem como bárbaros desumanos, visto que «todo o povo que se torna uma nação, submetendo-se a um estado centralizado, burocrático e militarizado, torna-se igualmente e permanece um flagelo para os seus vizinhos e para o mundo», ou seja, a França não seria diferente deles. Em 1940, quando os alemães entraram em Paris, ela fugiu para Marselha, onde passou a colaborar, sob o pseudónimo de “Emile Novis”, no jornal “Les Cahiers du Sud”, organizado por um grupo de escritores fugitivos.
Numa colónia agrícola católica, distante dos pais que estavam em segurança nos Estados Unidos, Simone pôde praticar o ascetismo do modo como sempre havia desejado. Trabalhava nos campos e vinhedos ao lado dos camponeses, dormia num saco cama no chão e alimentava-se somente de cebolas e de tomates. Escrevia também muito.
Em Abril de 1942, emigrou para os Estados Unidos, mas desde logo começou a planear o seu regresso à Europa. Escreveu para o governo provisório francês exilado em Londres, expressando a sua ânsia em pular de pára-quedas sobre a França ocupada, numa «missão secreta, de preferência perigosa». Também começou a escrever uma nova série de diários. Albert Camus considerou-a «o único grande espírito do nosso tempo». Valendo-se dos seus contactos, Simone conseguiu finalmente ser chamada a Londres, onde foi encarregada de analisar todas as sugestões de «como organizar a França depois da guerra». Desapontada com o nacionalismo antiquado dos gaulistas, logo renunciou ao cargo e afirmou que não tinha o direito de comer mais do que os seus camaradas na França ocupada. Passou mesmo fome até ter de ser hospitalizada.
Depois de nova recuperação, fez um último esforço para compilar as suas ideias sobre a tão sonhada “sociedade sem opressão”. O resultado foi "L'Enracinement" (“O Enraizamento”). «A política deve ser algo mais do que impor uma ideologia sobre a táctica particular de um grupo social que queremos levar adiante», concluiu Simone. «Deverá ser uma reflexão inteligente sobre a realidade, conduzida por pensadores profundos».
Enviada para um sanatório no campo, recusou alimentar-se, insistindo que as suas refeições deveriam ser enviadas para França. Morreu de paragem cardíaca, aos 34 anos de idade, no Sanatório Grosvenor, em Ashford (Kent). A uma rua da cidade, foi dado o seu nome.

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