segunda-feira, 27 de novembro de 2017

27 DE NOVEMBRO - BARÃO DE ITARARÉ


EFEMÉRIDEBarão de Itararé, de seu verdadeiro nome Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly, jornalista, escritor e pioneiro no humorismo político brasileiro, morreu no Rio de Janeiro em 27 de Novembro de 1971. Nascera no Rio Grande em 29 de Janeiro de 1895. De notar que o nome porque ficou conhecido era um falso título de nobreza.
O seu nascimento foi marcado por mistérios e disputas. Conta-se que teria nascido a bordo de uma diligência, no Uruguai, quando os pais rumavam para uma fazenda da família materna. Admiradores de Rio Grande (Rio Grande do Sul), onde os pais moravam, contestam esta versão. Entretanto, na matrícula de ensino escolar, ele foi registado como nascido no Uruguai, enquanto o seu título de eleitor sustenta a naturalidade gaúcha, mas sem indicação da cidade.
A mãe teve uma morte trágica, suicidando-se quando tinha 18 anos e ele apenas 18 meses. O pai enviou-o para um internato jesuíta em São Leopoldo. Apparício Torelly iniciou-se no humorismo em 1908, no jornalzinho “Capim Seco” do colégio onde estudava, satirizando a disciplina dos padres jesuítas de São Leopoldo.
Em 1918, durante as férias, sofreu um AVC quando andava na fazenda de um tio. Abandonou o curso de Medicina no quarto ano e começou a escrever. Publicou sonetos e artigos em jornais e revistas, como a “Revista Kodak” e “A Máscara”.
Em 1925, entrou para “O Globo” de Irineu Marinho. Com a morte de Irineu, Apporelly foi convidado para ser colaborador do jornal “A Manhã”. Ainda em 1925, estreou-se - na primeira página - com os seus sonetos de humor que, geralmente, tinham como tema uma personalidade política da época. A sua coluna humorística fez sucesso e, também na primeira página - em 1926 - começou a escrever a rubrica “A Manhã tem mais…”. Neste mesmo ano, criou o semanário que viria a tornar-se o maior e mais popular jornal de humor da história do Brasil. Bem ao seu estilo de paródias, o novo jornal da capital federal tinha o nome de “A Manha” e usava a mesma tipologia do jornal em que Apparício trabalhara, sem o til, fazendo toda a diferença, que era reforçada com a frase ladeando o título: «Quem não chora, não mama».
Durante a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas partiu de comboio rumo à capital federal, então o Rio de Janeiro, propagou-se pela imprensa que haveria uma batalha sangrenta em Itararé. Isto foi largamente divulgado. Apporelly não ficou de fora desta tendência. Esta batalha ocorreria entre as tropas fiéis a Washington Luís e as da Aliança Liberal que, sob o comando de Getúlio Vargas, vinham do Rio Grande do Sul em direcção ao Rio de Janeiro para tomar o poder. A cidade de Itararé fica na divisa de São Paulo com o Paraná, mas antes que houvesse a batalha «mais sangrenta da América do Sul», foram feitos diversos acordos.
Uma junta governativa assumiu o poder no Rio de Janeiro e não aconteceu nenhum conflito. O Barão de Itararé comentaria este facto mais tarde, da seguinte maneira: «Fizeram acordos. O Bergamini pulou em cima da prefeitura do Rio, outro companheiro ficou com os Correios e Telégrafos, outros patriotas menores foram exercer o seu patriotismo a tantos por mês em cargos de mando e desmando… E eu fiquei chupando no dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a ser o Barão de Itararé, em homenagem à batalha que nunca existiu.».
Em 1934, fundou o “Jornal do Povo”. Nos dez dias em que durou, o jornal publicou em fascículos a história de João Cândido, um dos marinheiros da Revolta da Chibata, de 1910. Em represália, o barão foi sequestrado e espancado por oficiais da Marinha, nunca identificados. Depois desse episódio, voltou à redacção do jornal e colocou uma placa na porta onde se lia: «Entre sem bater», mantendo o seu espírito humorístico.
O jornal “A Manha” circulou até fins de 1935, quando o Barão foi preso por ligações com o Partido Comunista Brasileiro, então clandestino. Foi libertado em Dezembro de 1936, já ostentando a volumosa barba que cultivaria por boa parte da sua vida. Retomou o jornal por um curto período, até que veio nova interrupção, ao longo de todo o Estado Novo, só voltando em edições episódicas até 1959.
Foi candidato em 1947 a vereador do Distrito Federal, com o lema «Mais leite! Mais água! Mas menos água no leite!», sendo eleito com 3669 votos, o oitavo mais votado do PCB, que conquistou 18 das 50 cadeiras. Porém, em Janeiro de 1948, os seus vereadores foram cassados: «Um dia é da caça... os outros da cassação», anunciou “A Manha”.
No final dos anos 1950, foi deixando o humor de lado e passou a interessar-se pela Ciência e pelo Esoterismo. Estudou Filosofia Hermética, as pirâmides do Antigo Egipto e Astrologia, campo no qual desenvolveu o “horóscopo biónico”. Faleceu, quando dormia, no seu apartamento no bairro carioca de Laranjeiras.
Em 1985, a Editora Record publicou em livro, sob o título de “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé”, uma selecção de textos de humor extraídos de “A Manhã”, uma colectânea organizada por Afonso Félix de Sousa, com prefácio de Jorge Amado. No decorrer do ano, “Máximas e Mínimas” alcançou rapidamente quatro edições.
Em Agosto de 2011, o programa “De lá pra cá”, da TV Brasil, relembrou a vida e a obra do Barão de Itararé.
Mais recentemente, o seu espírito crítico influenciou a criação do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que reúne diversos activistas e movimentos sociais comprometidos com a democratização da imprensa no Brasil.
Em 2014, o segundo episódio da série “Resistir é Preciso”, exibida pela TV Brasil, teve como assunto a trajectória do Barão de Itararé.

Sem comentários:

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
- Lisboa, Portugal
Aposentado da Aviação Comercial, gosto de escrever nas horas livres que - agora - são muitas mais...