domingo, 3 de setembro de 2006

EFEMÉRIDE - Artur Virgílio Alves dos Reis, o maior burlão da história portuguesa e possivelmente um dos maiores do Mundo, nasceu em Lisboa no dia 3 de Setembro de 1898.
Filho de uma família modesta, Alves dos Reis quis estudar engenharia mas não passou do primeiro ano. Em 1916, emigrou para Angola, para tentar fazer fortuna. Para se fixar no território, fez-se passar por engenheiro, depois de ter falsificado um diploma de Oxford, de uma escola politécnica de engenharia que nem sequer existia. Tornou-se rico e voltou a Lisboa em 1922. Comprou uma empresa de revenda de automóveis americanos e a Companhia Mineira do Sul de Angola. Em muitas das transacções que fazia utilizava cheques sem cobertura.
Acabou por ser preso em Julho de 1924, acusado de desfalque e também de tráfico de armas.
Foi durante o tempo da prisão que concebeu o seu plano mais ousado. A sua ideia era falsificar um contrato em nome do Banco de Portugal – o banco central emissor de moeda, e que na altura era uma instituição parcialmente privada – que lhe permitiria obter notas ilegítimas, mas impressas numa empresa legítima e com a mesma qualidade das verdadeiras.
Em 1924, Alves dos Reis contactou vários cúmplices e outros «colaboradores de boa-fé» para pôr o seu plano em marcha.
No caderno de encargos de impressão das notas, estipulava-se que estas viriam a ter posteriormente a sobrecarga Angola visto que alegadamente se destinariam a circular aí. Por essa razão, as notas tinham números de série já em circulação em Portugal.
Waterlow and Sons Limited (Londres) imprimiu assim 200 mil notas de valor nominal de 500 escudos (no total quase 1% do PIB português de então). O número total de notas falsas de 500 escudos era quase tão elevado como o de notas legítimas.
Alves dos Reis, embora fosse o mentor da fraude e o falsificador de todos os documentos, ficava só com 25% das notas. Ainda assim, com esse dinheiro fundou o Banco de Angola e Metrópole em Junho de 1925. Para obter o alvará de abertura deste banco, recorreu também a diversas outras falsificações. Investiu na bolsa de valores e no mercado de câmbios. Comprou um palácio, três quintas e uma frota de táxis. Além disso gastou uma avultadíssima soma em jóias e roupas caras para a sua mulher. Tentou comprar também o Diário de Notícias.
Ao longo de 1925, começaram a surgir rumores de notas falsas, mas os especialistas de contrafacção dos bancos não detectaram nenhuma nota que parecesse falsa.
Finalmente foi detectada uma nota duplicada, com o mesmo número de série, nos cofres da delegação do Porto do Banco Angola e Metrópole. Depois, como foram dadas instruções para que as agências bancárias pusessem as notas em cofre por ordem de número, para controlar duplicações, muitas mais notas com números repetidos apareceram.
O património do Banco de Angola e Metrópole acabou por ser confiscado e obtidas provas junto da Waterlow and Sons Limited. Alves dos Reis foi preso e esteve a aguardar julgamento, desde 6 de Dezembro de 1925 até 8 de Maio de 1930. Julgado finalmente em Lisboa, em Maio de 1930, foi condenado a 20 anos de prisão. Durante o julgamento, alegou que o seu objectivo era simplesmente desenvolver Angola… Foi libertado em Maio de 1945, tendo-lhe sido oferecido um emprego de funcionário bancário (!) que recusou. Ainda veio a ser condenado por uma burla de venda de café de Angola, mas já não cumpriu a pena. Morreu de ataque cardíaco em 1955, pobre como nascera.

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