Era filho de José Germano Brandão, negociante, e de
Laurinda Laurentina Ferreira de Almeida Brandão, tendo passado a adolescência e
mocidade na sua terra natal. Sendo descendente de pescadores, o mar foi tema
recorrente na sua obra.
Depois de uma passagem menos feliz por um colégio do
Porto, Raul Brandão gravita para o grupo dos nefelibatas,
sendo sob o seu signo que desperta para o mundo das letras e publica as suas
primeiras obras.
Em 1891, terminado o curso secundário e depois de
breve passagem, como ouvinte, pelo Curso Superior de Letras, matricula-se
na Escola do Exército. Com esse ingresso, ao que parece a contragosto,
inicia uma carreira militar caracterizada por longas permanências no Ministério
da Guerra, envolvido na máquina burocrática militar. Nas suas próprias
palavras: «no tempo em que fui tropa vivi sempre enrascado». Paralelamente,
mantém uma carreira de jornalista e vai publicando extensa obra literária.
Encontra-se colaboração da sua autoria no semanário “O Micróbio” (1894/1895) e nas revistas “Brasil-Portugal”
(1899/1914), “Revista nova” (1901/1902), “Serões” (1901/1911) e “Homens
Livres” (1923).
Em 1896, foi colocado no Regimento de Infantaria 20,
em Guimarães, onde conhece Maria Angelina de Araújo Abreu, com quem se casa em
11 de Março de 1897. Inicia, então, a construção de uma casa, a ‘Casa do
Alto’, na freguesia de Nespereira, nos arredores daquela cidade. Aí se
fixará em definitivo, embora com prolongadas estadas em Lisboa e noutras
cidades. Reformado no posto de capitão, em 1912, inicia a fase mais fecunda da
sua produção literária.
Raul Brandão visitou os Açores no Verão de 1924, numa
viagem feita a título pessoal, mas que coincidiu, em parte, com a Visita dos
Intelectuais, então organizada sob a égide dos autonomistas,
particularmente de José Bruno Carreiro e do seu jornal, o “Correio dos
Açores”. Dessa viagem, que durou cerca de dois meses (mais demorada,
portanto, que a dos intelectuais convidados por Bruno Carreiro), resultou a
publicação da obra “As ilhas desconhecidas - Notas e paisagens” (Lisboa,
1927), uma das obras que mais influíram na formação da imagem interna e externa
dos Açores. Basta dizer que é em “As ilhas desconhecidas” que se inspira
o conhecido código de cores das ilhas açorianas: Terceira, ilha lilás;
Pico, ilha negra; S. Miguel, ilha verde...
Faleceu de aneurisma na Rua de São Domingos à Lapa,
número 44, em Dezembro de 1930, aos 63 anos de idade, após sofrer síncope cardíaca,
no dia anterior à sua morte. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, e,
em 1934, trasladado para o Cemitério de Guimarães, onde repousa até
hoje.
Deixou uma extensa obra literária e jornalística, que
muito influenciou a literatura em língua portuguesa com o seu lirismo e
profundidade filosófica, marcando o seu comprometimento ético e social, numa
linguagem forte de contrastes, contradições e rupturas que prefiguram a
modernidade do século XX.
“Húmus” é a sua obra maior, inovando na
narrativa sem enredo nem personagens, a que chamaram anti/romance. Eduardo
Lourenço considerou que «o único personagem das quase-ficções de Raul
Brandão é a própria ficção que agoniza ou indefinidamente clama a
impossibilidade da ficção», cita Lúcio Ruas (da UFRJ em artigo da ogolobo.com em 12-01-2018), a que acrescenta que no
seu grito simultaneamente individual e colectivo, este autor coincide com Freud
e Nietzsche e antecipa o movimento do Orpheu.
Entre outras homenagens a Raul Brandão, destacam-se: o
seu site oficial, onde se podem encontrar leituras da sua obra por
autores actuais; as realizadas em Portugal ao longo do ano de 2017, nos 100
anos da publicação de “Húmus”; a Biblioteca Municipal de Guimarães,
com o seu nome; em 1950, a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o
escritor dando o seu nome a uma rua na zona de Alvalade.
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