Ela foi fundamental na
organização do Freedom Summer do Mississippi, uma campanha para ampliar
a participação política de afro-estadunidenses nesse estado marcado pelo
racismo na década de 1960 e, mais tarde, tornou-se vice-presidente do Partido
Democrático da Liberdade do Mississippi, que representou na Convenção
Nacional Democrata de 1964 em Atlantic City, Nova Jersey.
Hamer era a mais nova das
vinte crianças de Ella e James Lee Townsend. A sua família moveu-se para o
Condado de Sunflower, Mississippi, em 1919, para trabalhar na plantação de W.
D. Marlow.
Hamer colheu algodão com a sua
família, começando com a idade de 6 anos. Ela frequentou a escola num quarto na
plantação, de 1924 a 1930, quando teve de abandonar.
Até aos 13 anos, Hamer colhia
200 a 300 libras de algodão diariamente. Em 1944, depois do proprietário da
plantação descobriu que ela era alfabetizada, Hamer foi seleccionada para um
cargo de controlo da produção.
Em 1945, casou-se com Perry “Pap”
Hamer. Eles trabalharam juntos na plantação, nos 18 anos seguintes.
Durante uma cirurgia para
remover um tumor, em 1961, Hamer também foi submetida a uma histerectomia, sem
o seu consentimento, por um médico branco como parte do plano do estado do
Mississippi para reduzir o número de negros pobres no estado. Hamer é creditada
por ter cunhado a frase «apendicectomia do Mississippi» como um
eufemismo para a esterilização sem consentimento ou desinformada de mulheres
negras, comum no Sul, na década de 1960.
Os Hamers, mais tarde,
acolheram duas meninas pobres, que depois decidiram adoptar.
Em 23 de Agosto de 1962, o rev.
James Bevel, um organizador do Comité de Coordenação de Estudantes
Não-Violentos (SNCC, a sigla em inglês) e um assessor de Martin
Luther King Jr., fez um sermão em Ruleville, Mississippi, seguido de um apelo
para que as pessoas ali reunidas se inscrevessem para votar. As pessoas negras
que se inscreviam para votar no Sul enfrentavam sérias dificuldades naquela
época devido ao racismo institucionalizado, incluindo assédio, perda de
empregos, espancamentos e linchamentos.
Hamer foi a primeira
inscrita. Ela disse mais tarde: «Eu acho que se eu tivesse a compreensão
daquilo, eu teria ficado um pouco assustada - mas por que temer? A única coisa
que eles podiam fazer era matar-me e parecia que eles o estavam tentando fazer
aos poucos desde sempre». Iniciou assim a sua participação no activismo por
direitos civis e políticos.
Em 9 de Junho de 1963, Hamer
estava a voltar de Charleston, na Carolina do Sul, com outros activistas de um centro
de alfabetização. Em Winona, Mississippi, o grupo foi preso por uma acusação
falsa e encarcerado.
Uma vez na cadeia, os colegas
de Hamer foram espancados pela polícia na sala de interrogatório. Hamer foi
então levada para uma cela onde dois prisioneiros foram ordenados, pela
polícia, a espancá-la. Na ocasião, ela quase morreu e demorou mais de um mês
para recuperar.
No Verão de 1964, o Partido
Democrático da Liberdade do Mississippi, ou “Freedom Democrats”, foi
organizado com o objectivo de desafiar a delegação toda branca e contra os
direitos civis do Mississippi que ia oficialmente à Convenção Nacional
Democrata. Hamer foi eleita vice-presidente.
Os esforços dos Freedom
Democrats deram destaque nacional para a situação dos negros no Mississippi
e representaram um empecilho ao presidente Lyndon B. Johnson, que buscava a
indicação do Partido Democrata para a reeleição. O risco era que em
outros estados ocorressem rachas por questões raciais. Hamer, cantando
hinos em prol dos direitos civis, atraiu muita atenção da imprensa, enfurecendo
Johnson, que se referiu a ela ao falar com os seus conselheiros como «essa
mulher analfabeta».
Hamer foi convidada,
juntamente com outros Freedom Democrats, a dirigir-se à Comissão de
Credenciais da Convenção. Ela contou os problemas que teve para obter o
título de eleitor e a violência que sofreu na prisão em Winona.
Em Washington, D.C., o
presidente Johnson, temeroso do poder do testemunho de Hamer na televisão ao
vivo, convocou uma conferência de imprensa de emergência, num esforço para
desviar a cobertura da imprensa. As redes de televisão mudaram o foco para a Casa
Branca a partir da cobertura do discurso de Hamer, acreditando que Johnson
iria anunciar o seu candidato à vice-presidência para a próxima eleição de Novembro.
Em vez disso, para a perplexidade dos jornalistas, ele fez uma homenagem a
políticos. No entanto, muitas redes de televisão divulgaram o discurso de Hamer
sem edição nos seus programas de notícias da tarde.
A Comissão de Credenciais
recebeu milhares de chamadas e cartas em apoio aos Freedom Democrats.
Por conta da pressão, Johnson
e outros democratas influentes negociaram a participação dos Freedom
Democrats como delegados oficiais do partido, representando o seu estado, o
que efectivamente ocorreu em 1968. Hamer foi eleita delegada nacional do
partido em 1972.
Hamer faleceu de complicações
de hipertensão e cancro de mama em Março de 1977, aos 59 anos, no Mound
Bayou Community Hospital. Ela foi sepultada na sua cidade natal. Na sua
lápide está gravada uma das suas famosas citações: «Eu estou doente e
cansada de estar doente e cansada».
No seu velório, realizado numa
igreja, estava completamente cheio. Foi realizado um velório complementar numa
escola de Ruleville, ao qual compareceram 1 500 pessoas.
Sem comentários:
Enviar um comentário