EFEMÉRIDE – José Maria Latino Coelho, militar, escritor, jornalista e político português, morreu em Sintra no dia 29 de Agosto de 1891. Nascera em Lisboa, em 29 de Novembro de 1825.
Aluno brilhante e aplicado, teve uma educação esmerada, estudando Francês, Inglês, Matemática e Ciências Exactas. Em 1837 e 1838 estudou Latim e Lógica no Liceu Nacional de Lisboa. Naqueles mesmos anos, estudou a língua grega e, tendo concluído os estudos preparatórios aos 13 anos, matriculou-se na Escola Politécnica de Lisboa, onde obteve o primeiro prémio em 9 cadeiras, sendo onze as disciplinas que constituíam os 4 anos do curso.
Ingressou depois na Escola do Exército, para seguir o curso de Engenharia Militar. Ganhou três prémios e habilitou-se com distinção para a carreira de Oficial de Engenharia. Assentou praça no Regimento de Infantaria n.º 16 em Novembro de 1843, sendo pouco tempo depois nomeado alferes-aluno. Foi promovido a alferes em Dezembro de 1848 e a tenente em Julho de 1851.
Em 1851, depois de um concurso brilhante, foi nomeado lente substituto da cadeira de Mineralogia e Geologia da Escola Politécnica de Lisboa. Para uso dos alunos da Escola Politécnica publicou um “Curso de Introdução à História Natural” (1850). Para além desta obra, preparou numerosos apontamentos destinados aos seus alunos, alguns dos quais publicou em revistas da especialidade.
Foi eleito sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa em Maio de 1855. No ano seguinte, em virtude da sua excelente participação nos trabalhos académicos, foi nomeado secretário da Academia por votação unânime, sendo depois considerado secretário perpétuo.
Tendo em vista a necessidade de dotar as escolas primárias de uma obra de referência adequada aos conhecimentos de mestres e alunos, elaborou, em colaboração com o célebre lexicógrafo Francisco Júlio de Caldas Aulete e outros, uma “Enciclopédia Das Escolas de Instrução Primária” dividida em três partes. (1857).
Em 1870, foi incumbido pela Academia Real das Ciências de Lisboa de dirigir a comissão encarregada de dar continuidade à missão de elaborar o “Dicionário da Língua Portuguesa”, também produzido sob a égide da Academia de Ciência de Lisboa e que estava parado no final da letra A.
Escreveu várias biografias de figuras históricas, as melhores das quais foram publicadas na colecção Galeria de Varões Ilustres de Portugal. Recebeu também o encargo de escrever oficialmente uma história do cerco do Porto em 1832, tendo resultado dos seus esforços a publicação da “História Política e Militar de Portugal, desde os fins do Século XVIII até 1834” (3 volumes publicados entre 1874 e 1891).
Grande parte da sua obra académica encontra-se dispersa por jornais e revistas, as mais relevantes das quais estão nas “Memórias da Academia das Ciências”, na “Revista Peninsular”, na “Revista Contemporânea de Portugal e Brasil” e no “Arquivo Pitoresco”.
Tendo entretanto obtido habilitação como engenheiro militar e regressada a paz, passou à arma de engenharia como capitão em Agosto de 1864. Foi promovido a major de engenharia em Janeiro de 1872, a tenente-coronel em Maio de 1874, a coronel em Maio de 1878 e a general de brigada em Setembro de 1888.
Seguindo um percurso político que o levaria do Partido Regenerador ao Partido Republicano Português, com passagem por um governo do Partido Reformista, de que foi fundador e ministro, a sua carreira política percorreu todo o arco partidário da Monarquia Constitucional. Foi várias vezes eleito deputado, foi par do reino e exerceu as funções de ministro da Marinha e de vogal do Conselho Geral de Instrução Pública.
Nova dissidência, dessa vez em direcção aos ideais republicanos que começavam a despontar. Temporariamente afastado da política activa e ocupado pela sua intensa actividade literária e jornalística, ainda assim desempenhou um papel relevante na estruturação do Partido Republicano Português e esteve envolvido na fundação do Centro Republicano de Lisboa (1879). O seu apoio ao republicanismo foi feito sempre de forma moderada, o que permitiu que desenvolvesse a sua carreira militar e académica sem complicações de maior.
Em Dezembro de 1885 foi eleito par do reino, em representação das corporações científicas. Tomou assento na Câmara dos Pares em Janeiro de 1886. Nesta Câmara retomou, depois de 16 anos de ausência, a sua participação parlamentar centrando-se na defesa moderada dos princípios republicanos, numa linha doutrinária contida na sua obra “O preço da monarquia” (1886), uma edição aumentada da sua primeira intervenção parlamentar como par do reino. Nela defendeu a alternância entre um partido monárquico e conservador e um partido republicano e progressista, apostado em reformar as instituições.
Regressou à Câmara dos Pares, já como deputado republicano pelo círculo de Lisboa, eleito nas eleições gerais de 1889 e 1890.
Latino Coelho estreara-se como jornalista na “Revolução de Setembro”, escrevendo uma série de artigos sobre as questões que agitavam então a Europa e sobre as diferentes fases por que passavam na época os ideais democráticos. Durante alguns meses foi também redactor principal do jornal “A Emancipação”.
Em 1851, foi fundada “A Semana”, um semanário literário que tinha a colaboração dos principais escritores da época. Latino Coelho teve parte importante na sua redacção. Nesta fase, os seus melhores artigos versaram a biografia de personalidades eminentes das letras.
Em 1853, no “Portugal Artístico”, escreveu a maior parte dos artigos que acompanharam as gravuras em grande formato dos monumentos descritos, sendo da sua autoria as versões em português e em francês.
No “Panorama”, publicou uma minuciosa e extensa biografia de Almeida Garrett. Escreveu também na “Época”, “Farol”, “Civilização Popular”, “A Discussão”, “Política Liberal” e “Jornal do Comércio”, de que foi durante algum tempo redactor principal. Também colaborou com o jornal “A Democracia” e, no “Século”, escreveu durante muito tempo o editorial da edição de domingo. Como jornalista, distinguiu-se sempre pela elegância e pureza do estilo e pelo vigor e correcção com que discutia os assuntos que serviam de tema aos seus escritos. Era raro o jornal literário que não tivesse colaboração sua.
Tinha grande competência nalgumas línguas estrangeiras, tendo escrito em espanhol a biografia de Almeida Garrett, que foi publicada na “Revista Peninsular”. Foi director do “Diário de Lisboa”, então jornal oficial do governo, por ocasião da nova organização que lhe foi dada em 1859.
A Academia Real das Ciências de Lisboa realizou uma sessão solene em Dezembro de 1898, sete anos após a sua morte, com a presença do rei D. Carlos I, da rainha D. Amélia de Orleães e do infante D. Afonso, na qual vários académicos fizeram o elogio de Latino Coelho. Era comendador da Ordem de Cristo, grã-cruz da Ordem da Torre e Espada e grã-cruz da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
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