EFEMÉRIDE – Sérgio Vieira de Mello, funcionário brasileiro da Organização das Nações Unidas durante 34 anos e Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos desde 2002, morreu em Bagdad no dia 19 de Agosto de 2003, vítima de um atentado atribuído (mas não comprovado) à Al Qaeda, que matou mais 21 pessoas. Nascera no Rio de Janeiro em 15 de Março de 1948.
Depois de estudar no Colégio Franco-Brasileiro do Rio de Janeiro, ingressou na Universidade de Paris (Sorbonne) onde obteve a licenciatura e o mestrado em Filosofia, respectivamente em 1969 e 1970. Durante os quatro anos que se seguiram, prosseguiu os estudos de Filosofia, concluindo o doutoramento. Em 1985, doutorou-se igualmente em Letras e Ciências Humanas, com a tese “Civitas Máxima”.
Tornou-se funcionário da ONU em 1969. Passou a maior parte da sua vida no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, servindo em missões humanitárias e de manutenção da paz no Bangladesh, no Sudão, no Chipre, em Moçambique e no Peru.
Em 1981 foi nomeado conselheiro político sénior das forças da ONU no Líbano. Em 1982 decepcionou-se com os ataques sistemáticos do Hezbollah a partir de território libanês a Israel, o que acabou por iniciar a Guerra do Líbano, com Israel a invadir o território daquele país, visando desarmar o citado grupo que era financiado pelo Irão e apoiado pela Síria. Depois disso, desempenhou ainda diversas funções importantes, de 1983 a 1991. Foi chefe do Departamento Regional para Ásia e Oceânia e director da Divisão de Relações Exteriores.
Entre 1991 e 1996 foi enviado especial do Alto Comissário ao Camboja, tendo sido o primeiro e único representante da ONU a manter conversações com os Khmers Vermelhos. Foi director da United Nations Protection Force, a primeira força de paz na Croácia e na Bósnia-Herzegovina, durante as guerras da Jugoslávia. Foi também coordenador humanitário da ONU na região dos Grandes Lagos Africanos.
Em 1996 foi nomeado assistente do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, antes de ser enviado para Nova Iorque, em Janeiro de 1998, como Secretário-geral-adjunto para Assuntos Humanitários das Nações Unidas.
Para muitos, ele era a personificação do que a ONU poderia e deveria ser, com uma disposição fora do comum para ir aos campos de acção, corajoso, carismático, flexível, pragmático e muito eficiente na negociação com governos corruptos e ditadores sanguinários, em busca de soluções de paz.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmava que Vieira de Mello era «a pessoa certa para resolver qualquer problema». Como negociador da ONU, actuou em alguns dos principais conflitos mundiais, entre 1999 e 2002. Por fim, no Iraque, foi morto durante um ataque suicida ao Hotel Canal que era usado como sede da ONU há mais de uma década.
Segundo o ministro das Relações Exteriores do Brasil, momentos depois da explosão, Vieira de Mello telefonou ainda para a ONU do seu telemóvel, falando sobre a situação. Ele ficou preso debaixo dos escombros durante mais de três horas. Entretanto, segundo Samantha Power, que entrevistou mais de 400 pessoas presentes no local da explosão, Vieira de Mello comunicou ainda com a equipa de resgate e com Carolina Larriera, sua companheira, através de um buraco nos escombros.
Sérgio Vieira de Mello era considerado por muitos como o virtual sucessor de Kofi Annan na Secretaria-Geral das Nações Unidas. Alguns meses depois do atentado, a ONU fez-lhe uma homenagem póstuma, atribuindo o Prémio de Direitos Humanos das Nações Unidas àquele que foi um dos seus mais importantes funcionários.
Vieira de Mello tinha aversão à ostentação de bens materiais, fazendo questão de se mostrar igual aos mais humildes, mesmo ao nível de segurança. Por duas vezes foi eleito o homem mais em destaque do mundo pelas revistas “Vogue” e “Vanity Affairs”, mas não compareceu para receber os prémios. Em entrevista ao “New York Times”, humilde como sempre, comentou que as revistas se tinham certamente enganado e que, se havia algo a receber, deveria reverter para os refugiados do Iraque.
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