segunda-feira, 16 de outubro de 2023

16 DE OUTUBRO - GÜNTER GRASS

EFEMÉRIDE - Günter Wilhelm Grass, autor, romancista, dramaturgo, poeta, intelectual e artista plástico alemão, nasceu em Danzigue no dia 16 de Outubro de 1927. Morreu em Lübeck, em 13 de Abril de 2015.

A sua obra alternou a actividade literária com a escultura, enquanto participava de forma activa na vida pública do seu país.

Recebeu o Nobel de Literatura de 1999. Também é reconhecido como um dos principais representantes do teatro do absurdo da Alemanha. O seu nome é por vezes grafado Günter Graß.

Günter Grass nasceu em Danzigue (hoje Gdańsk, Polónia), de pais católicos polaco-alemães e, aos 17 anos, foi convocado para servir nas forças armadas da Alemanha nazi, na Waffen-SS.

Ferido na guerra em 1945, foi preso em Marienbad, então Checoslováquia, e libertado no ano seguinte. Trabalhou em minas, fazendas e como aprendiz de pedreiro.

Estudou Desenho e Escultura na Academia de Arte de Düsseldorf no final da década, frequentando a Academia de Artes de Berlim de 1953 a 1955.

Já escrevia poemas, lidos para um grupo de escritores influentes, o Grupo 47, mas só depois de se mudar para Paris, em 1956, passou a dedicar-se à literatura e publicou o seu primeiro êxito como escritor, o romance de crítica social “Die Blechtrommel” (“O tambor”, 1956). Seguiram-se “Katz und Maus” (1961) e “Hundejahre” (1963).

Também escreveu poesias e peças de teatro, como “Noch zehn Minuten bis Buffalo” (1957) e “Die Plebejer proben den Aufstand” (1965).

De ideais políticos de esquerda, participou de forma activa na vida pública do seu país e provocou polémica em torno da sua produção, renovou a literatura alemã do pós-guerra por meio de textos de ironia e do grotesco, especialmente satirizando a complacente atmosfera do milagre económico da reconstrução pós-nazi. Entre essas obras de produção mais recente está “Unkenrufe” (1992), traduzido em português como “Maus Presságios”.

Com uma obra que contesta, desde o início, as ideias nazis que o atraíram na juventude, ele foi considerado o porta-voz literário da geração alemã que cresceu durante o nazismo, e descreve-se a si mesmo como um Spätaufklärer, um devoto da iluminação numa era cansada da razão. Ainda a destacar as novelas “Der Butt” (“O linguado”, 1977), “Das Treffen in Telgte” (1979) e “Die Rättin” (“A ratazana”, 1986).

Grass casou-se com a dançarina Anna Margareta Schwarz em 1956, da qual se divorciou em 1978. Casou-se novamente em 1979, em Calcutá, com a organista Ute Grunert.

Morreu na manhã de 13 de Abril de 2015, em Lübeck, na decorrência de uma infecção pulmonar.

Recentemente, o mundo chocara-se com a declaração de Grass, no seu novo livro “Descascando a cebola”, de carácter autobiográfico, da sua participação como membro das Waffen-SS (braço militar das SS). Esta revelação fez muitos escritores e jornalistas posicionarem-se a este respeito. Alguns desses posicionamentos foram publicados na imprensa, em Agosto de 2006. Os argumentos dividiram-se basicamente em dois, de um lado estavam os que declaravam que isso não invalidava o valor dos seus romances, e que é preciso separar o escritor da sua obra, além de considerarem a pouquíssima idade de Grass quando actuou na Waffen-SS. Do outro, questionaram a demora de Grass em revelar esta participação.

O escritor português José Saramago declarou: «Nunca separei o escritor da pessoa que o escritor é. A responsabilidade de um é a responsabilidade do outro». Já o editor brasileiro Luiz Schwarcz comentou: «Não se pode confundir obra e autor». John Berger, escritor, num texto originalmente publicado pelo jornal “The Guardian”, questionou o julgamento a Günter Grass: «A ética determina escolhas e acções e sugere prioridades difíceis. Nada tem a ver com o julgamento das acções dos outros. Tais julgamentos são prerrogativa dos moralistas. Na ética existe humildade; os moralistas acham que estão certos».

Numa entrevista concedida ao “Der Spiegel”, Grass comentou a repercussão que a sua actuação na tropa nazi teve e explica-se diante de alguns questionamentos.

Ao ser indagado quanto à demora na revelação, o escritor alemão declarou: «acreditava que a minha obra como escritor e cidadão era suficiente», e acrescentou que sempre sentiu vontade de escrever sobre as suas experiências, mas num contexto adequado.

O entrevistador da revista “Der Spiegel”, Ulrich Wickert, faz ainda uma relação com um trecho do livro autobiográfico “Descascando a Cebola” e o romance “O Tambor”, buscando no romance um sentimento já revelador desta culpa de actos passados e a sua justificação pela pouca idade: «No instante em que invoco o garoto de treze anos que eu era na época, em que o tomo como incumbência, e me sinto tentado a julgá-lo, ele me escapa. Ele não quer ser avaliado ou julgado. Foge para o colo da mãe e diz: ‘eu era apenas um garoto, apenas um garoto’».

«Não sou responsável pelas coisas que fiz quando criança». (Personagem Oskar em “O Tambor”).

Num outro romance, ainda podemos verificar o aparecimento de um possível traço autobiográfico e a sua relação com este sentimento de culpa: trata-se de “Maus presságios”. É revelado sobre os protagonistas Alexandre e Alexandra: «Não era necessário remexer no passado, porque as poucas aventuras à margem traziam lembranças inexactas ou mal ordenadas. E o facto de que ele, aos quatorze anos e meio, tivesse sido soldado e ela, aos 17, membro entusiasta da organização das juventudes comunistas era perdoado aos dois, mutuamente, como defeitos congénitos da sua geração; não era preciso descer a nenhum abismo; até porque ele, nos momentos em que duvidava de si próprio, dizia que tinha de lutar continuamente contra o jovem hitlerista que tinha dentro de si…».

Em 2012, tornou a atrair críticas ao publicar um poema em quem questionava a disposição do Ocidente em ignorar o programa nuclear de Israel e definia o país como uma ameaça à paz mundial. Pelas suas declarações, foi considerado persona non grata em Israel.

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