A sua obra alternou a actividade literária com a escultura,
enquanto participava de forma activa na vida pública do seu país.
Recebeu o Nobel de Literatura de 1999. Também é
reconhecido como um dos principais representantes do teatro do absurdo da
Alemanha. O seu nome é por vezes grafado Günter Graß.
Günter Grass nasceu em Danzigue (hoje Gdańsk,
Polónia), de pais católicos polaco-alemães e, aos 17 anos, foi convocado para
servir nas forças armadas da Alemanha nazi, na Waffen-SS.
Ferido na guerra em 1945, foi preso em Marienbad,
então Checoslováquia, e libertado no ano seguinte. Trabalhou em minas, fazendas
e como aprendiz de pedreiro.
Estudou Desenho e Escultura na Academia
de Arte de Düsseldorf no final da década, frequentando a Academia de
Artes de Berlim de 1953 a 1955.
Já escrevia poemas, lidos para um grupo de escritores
influentes, o Grupo 47, mas só depois de se mudar para Paris, em 1956,
passou a dedicar-se à literatura e publicou o seu primeiro êxito como escritor,
o romance de crítica social “Die Blechtrommel” (“O tambor”,
1956). Seguiram-se “Katz und Maus” (1961) e “Hundejahre” (1963).
Também escreveu poesias e peças de teatro, como “Noch
zehn Minuten bis Buffalo” (1957) e “Die Plebejer proben den Aufstand”
(1965).
De ideais políticos de esquerda, participou de forma activa
na vida pública do seu país e provocou polémica em torno da sua produção,
renovou a literatura alemã do pós-guerra por meio de textos de ironia e do
grotesco, especialmente satirizando a complacente atmosfera do milagre económico
da reconstrução pós-nazi. Entre essas obras de produção mais recente está “Unkenrufe”
(1992), traduzido em português como “Maus Presságios”.
Com uma obra que contesta, desde o início, as ideias
nazis que o atraíram na juventude, ele foi considerado o porta-voz literário da
geração alemã que cresceu durante o nazismo, e descreve-se a si mesmo como um Spätaufklärer,
um devoto da iluminação numa era cansada da razão. Ainda a destacar as novelas “Der
Butt” (“O linguado”, 1977), “Das Treffen in Telgte” (1979) e “Die
Rättin” (“A ratazana”, 1986).
Grass casou-se com a dançarina Anna Margareta Schwarz
em 1956, da qual se divorciou em 1978. Casou-se novamente em 1979, em Calcutá,
com a organista Ute Grunert.
Morreu na manhã de 13 de Abril de 2015, em Lübeck, na
decorrência de uma infecção pulmonar.
Recentemente, o mundo chocara-se com a declaração de
Grass, no seu novo livro “Descascando a cebola”, de carácter
autobiográfico, da sua participação como membro das Waffen-SS (braço
militar das SS). Esta revelação fez muitos escritores e jornalistas
posicionarem-se a este respeito. Alguns desses posicionamentos foram publicados
na imprensa, em Agosto de 2006. Os argumentos dividiram-se basicamente em dois,
de um lado estavam os que declaravam que isso não invalidava o valor dos seus
romances, e que é preciso separar o escritor da sua obra, além de considerarem
a pouquíssima idade de Grass quando actuou na Waffen-SS. Do outro,
questionaram a demora de Grass em revelar esta participação.
O escritor português José Saramago declarou: «Nunca
separei o escritor da pessoa que o escritor é. A responsabilidade de um é a
responsabilidade do outro». Já o editor brasileiro Luiz Schwarcz comentou: «Não
se pode confundir obra e autor». John Berger, escritor, num texto
originalmente publicado pelo jornal “The Guardian”, questionou o
julgamento a Günter Grass: «A ética determina escolhas e acções e sugere
prioridades difíceis. Nada tem a ver com o julgamento das acções dos outros.
Tais julgamentos são prerrogativa dos moralistas. Na ética existe humildade; os
moralistas acham que estão certos».
Numa entrevista concedida ao “Der Spiegel”,
Grass comentou a repercussão que a sua actuação na tropa nazi teve e explica-se
diante de alguns questionamentos.
Ao ser indagado quanto à demora na revelação, o
escritor alemão declarou: «acreditava que a minha obra como escritor e
cidadão era suficiente», e acrescentou que sempre sentiu vontade de
escrever sobre as suas experiências, mas num contexto adequado.
O entrevistador da revista “Der Spiegel”,
Ulrich Wickert, faz ainda uma relação com um trecho do livro autobiográfico “Descascando
a Cebola” e o romance “O Tambor”, buscando no romance um sentimento
já revelador desta culpa de actos passados e a sua justificação pela pouca
idade: «No instante em que invoco o garoto de treze anos que eu era na
época, em que o tomo como incumbência, e me sinto tentado a julgá-lo, ele me
escapa. Ele não quer ser avaliado ou julgado. Foge para o colo da mãe e diz: ‘eu
era apenas um garoto, apenas um garoto’».
«Não sou responsável pelas coisas que fiz quando
criança». (Personagem Oskar em “O Tambor”).
Num outro romance, ainda podemos verificar o
aparecimento de um possível traço autobiográfico e a sua relação com este sentimento
de culpa: trata-se de “Maus presságios”. É revelado sobre os
protagonistas Alexandre e Alexandra: «Não era necessário remexer no passado,
porque as poucas aventuras à margem traziam lembranças inexactas ou mal
ordenadas. E o facto de que ele, aos quatorze anos e meio, tivesse sido soldado
e ela, aos 17, membro entusiasta da organização das juventudes comunistas era
perdoado aos dois, mutuamente, como defeitos congénitos da sua geração; não era
preciso descer a nenhum abismo; até porque ele, nos momentos em que duvidava de
si próprio, dizia que tinha de lutar continuamente contra o jovem hitlerista que tinha dentro de si…».
Em 2012, tornou a atrair críticas ao publicar um poema
em quem questionava a disposição do Ocidente em ignorar o programa nuclear de
Israel e definia o país como uma ameaça à paz mundial. Pelas suas declarações,
foi considerado persona non grata em Israel.
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