Veio muito cedo para Lisboa com os pais, ele oficial
da Marinha Mercante, ela dona de casa, a irmã Maria de Lurdes e o irmão
António Nuno.
Entre 1935 e 1944, frequentou o Liceu Camões,
onde teve como professores Rómulo de Carvalho e Delfim Santos, iniciando, de
seguida, uma nunca terminada licenciatura em Matemáticas Superiores, na Faculdade
de Ciências.
Em 1945, alistou-se na Marinha Mercante, como praticante
de piloto sem curso, actividade que abandonou compulsivamente, «suspeito
de indisciplina e detido em viagem do navio “Niassa”», segundo auto da Capitania
do Porto de Lisboa, de 2/2/1946.
Já depois de optar pela carreira de jornalista, veio a
assumir a direcção das Edições Artísticas Fólio, onde Aquilino Ribeiro
publicou “O Retrato de Camilo”, e onde lançou a colecção “Teatro de
Vanguarda”, que contribuirá para a revelação em língua portuguesa de obras
de Samuel Beckett, William Faulkner e Vladimir Maiakovski.
Em 1959, foi para Itália, afim de estagiar na revista “Época”,
de Milão, preparando-se para a publicação de um semanário em termos semelhantes
ao da “Época”, que a censura impediu. Entretanto, conseguiu
lançar a revista “Almanaque”, cuja redacção integrou figuras como Luís
Sttau Monteiro, Alexandre O’Neill, Vasco Pulido Valente, Augusto Abelaira e
José Cutileiro.
Foi ainda cronista do “Diário de Lisboa”, da “Gazeta
Musical”, de “Todas as Artes” e da “Afinidades”.
Em 1953, faleceu o seu irmão num acidente de aviação
em cumprimento do serviço militar, quando o Harvard T6 em que treinava
se incendiou em pleno voo acabando por cair e explodir. Dez anos mais tarde,
Cardoso Pires dedicou-lhe «in memoriam» o romance “O Hóspede de Job”
como protesto contra a guerra fria e a colonização militares.
Em 8 de Julho de 1954, casou com Maria Edite Pereira, enfermeira,
da qual teve duas filhas, Ana (1956) e Rita (1958).
Foi militante do Partido Comunista Português,
do qual se desvincula após a Revolução de 25 de Abril de 1974.
Está sepultado no Talhão dos Artistas do Cemitério
dos Prazeres, em Lisboa.
Unanimemente considerado um dos maiores escritores
portugueses do século XX, numa galeria onde podemos encontrar nomes como José
Saramago ou António Lobo Antunes, a sua carreira literária está marcada pela
inquietação e pela deambulação. Autor de dezoito livros, publicados entre 1949
e 1997, não se identifica com nenhum grupo, nem se fixa em nenhum género
literário, apesar de ser considerado sobretudo como um romancista. A sua
relação mais duradoura no campo literário deu-se com o movimento neo-realista
português, até ao 25 de Abril de 1974, justificada com a oposição ao
regime autoritário português. A inserção da sua obra no neo-realismo é,
por essas razões, contraditória. Frequentou também os grupos surrealistas,
no início da década de 1940. Foi influenciado pela estética de
Hemingway, pela narrativa cinematográfica, o que resulta em discursos curtos e
diálogos concisos.
“O Delfim”, de 1968, é geralmente considerado a
sua obra-prima, em que o narrador assume uma condição de forasteiro,
aparentemente descomprometido com uma realidade anacrónica. “A Gafeira”,
aldeia inexistente do distrito de Leiria, simboliza o Portugal marcelista, com
um crime no centro da história. Foi recebido, até 1974, como romance neo-realista,
tem despertado um interesse crescente como narrativa pós-modernista.
Pode efectivamente ser lido como o primeiro romance português no qual confluem
as principais linguagens estéticas norteadoras do futuro pós-modernismo
português devido à mistura de géneros, à polifonia, à fragmentação narrativa e
à metaficção.
Algumas das suas obras foram adaptadas ao cinema e ao
teatro.
Em 1 de Outubro de 1985, foi
feito comendador da Ordem da Liberdade. Em 4 de Fevereiro de 1989,
foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.
No âmbito do programa que evocou
o 10º aniversário da morte de José Cardoso Pires, a Videoteca da Câmara
Municipal de Lisboa produziu uma curta-metragem intitulada “Fotogramas
Soltos das Lisboas de Cardoso Pires”, realizada por António Cunha.
O seu nome foi atribuído à Biblioteca
Municipal de Vila de Rei.
O seu nome está presente na toponímia de Abrantes, Alcabideche, Alcochete, Almada, Amadora, Amora, Aveiro, Azeitão, Barreiro, Beja, Borba, Camarate, Caparica, Cascais, Castro Verde, Covilhã, Estoril, Faro, Forte da Casa, Gondomar, Guimarães, Lagos, Maia, Mem Martins, Montemor-o-Novo, Odemira, Oliveira do Hospital, Pinhal Novo, Portimão, Porto Salvo, Póvoa de Santa Iria, Quinta do Anjo, Rio de Mouro, Rio Tinto, Santa Iria de Azóia, Santo António dos Cavaleiros, São Julião do Tojal, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Tavira, Trofa e Vila Franca de Xira.
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