EFEMÉRIDE – Luis Buñuel Portolés, realizador de cinema espanhol, naturalizado mexicano, nasceu em Calanda no dia 22 de Fevereiro de 1900. Morreu na Cidade do México em 29 de Julho de 1983. Trabalhou com Salvador Dalí, de quem recebeu fortes influências surrealistas
A sua obra cinematográfica, aclamada pela crítica mas sempre rodeada por uma aura de escândalo, tornou-o um dos mais controversos cineastas do mundo.
Com oito anos, assistiu pela primeira vez à projecção de um filme num cinema de Saragoça. Estudou num colégio de Jesuítas mas, com a adolescência, veio a perder a fé, tornando-se anti-clerical e ateu. Em 1915, foi expulso do colégio, tendo terminado os seus estudos secundários no Instituto de Saragoça.
Em 1917 foi estudar para Madrid, instalando-se na prestigiada e elitista Residencia de Estudiantes, onde permaneceria até 1925. Aí conheceu várias personalidades das letras, artes e ciências espanholas e internacionais, convivendo com muitos daqueles que fizeram parte da famosa “Geração de 27” e tomando conhecimento das vanguardas artísticas e literárias da época (cubismo, dadaísmo e surrealismo). Foi na “Residência”, que se tornou grande amigo de três companheiros de boémia que tiveram nele uma influência fundamental: Pepín Bello, Federico García Lorca e Salvador Dalí. Frequentava também os cafés de Madrid e as suas tertúlias, bem assim como os seus bordéis.
Em 1920 fundou o primeiro cineclube espanhol. Em 1921 participou na representação teatral de “Don Juan Tenório”, de Zorrilla, em Toledo. Em 1922 publicou os primeiros textos literários, influenciados por Ramón Gómez de la Serna. Em 1924, depois de ter frequentado sem grande convicção, vários cursos universitários, acabou por se licenciar em História.
Em 1925 foi viver para Paris, onde estudou cinema e trabalhou como assistente de vários realizadores, entre os quais Jean Epstein.
Em 1929, Buñuel e Dalí, utilizando o método surrealista, escreveram o guião do filme “Um cão andaluz”. Apesar dos desmentidos, o filme foi um subtil mas evidente ataque a García Lorca de quem se haviam afastado, em parte porque Buñuel (machista assumido) tinha aversão à homossexualidade do poeta. A dupla foi prontamente admitida no grupo surrealista de André Breton.
No Verão de 1929, Buñuel e Dalí estavam em Cadaqués a preparar um novo filme, quando a sua colaboração e amizade foram ensombradas pelo aparecimento de Gala Éluard, por quem Dalí se deixou totalmente enfeitiçar e influenciar. Por outro lado, a antipatia entre Buñuel e a ciumenta e intriguista Gala foi instantânea e mútua. Buñuel regressou então a Paris, onde acabou o guião e rodou o filme, fortemente anticlerical.
Nos primeiros filmes de Buñuel estavam patentes, de forma concentrada e intensíssima, todos os temas básicos que a sua obra posterior continuaria a reflectir, mais discretamente mas com igual poder: o amor louco, o anticlericalismo, a rebeldia e o inconformismo diante do estabelecido e do convencional, uma ânsia de transcendência, expressos em imagens oníricas e alucinantes, cheias de dureza, de corrosivo humor negro e de uma candura embriagante.
Em 1930 foi contratado pela Metro Goldwyn Mayer e viajou para Hollywood, como “observador”, com o objectivo de se familiarizar com o sistema de produção norte-americano. Conheceu Charles Chaplin e Serguei Eisenstein.
Voltou a Espanha após a proclamação da República e dirigiu, em 1933, o documentário “Las Hurdes, tierra sin pan”, que descrevia de modo cru a vida quotidiana e os costumes ancestrais de uma recôndita aldeia espanhola da Extremadura, profundamente miserável e em estado quase selvagem. As imagens e os factos descritos eram tão extraordinários e irreais, que acabariam por dar ao filme um cunho verdadeiramente surrealista. Foi um escândalo, desagradando ao governo de esquerda espanhol, que o proibiu por alegadamente dar uma imagem corrompida da Espanha.
No decurso da guerra civil espanhola, Luís Buñuel exilou-se na França, partindo em 1938 para os EUA e fixando-se em Los Angeles. Em 1941 foi trabalhar como conselheiro e chefe de montagem do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Contudo, a publicação em 1942 de “A vida secreta de Salvador Dali”, onde este falava das simpatias comunistas de Buñuel, fez com que este tivesse de se demitir. Em 1946, depois de ter estado em Hollywood, acabou por partir para o México.
No início da sua fase mexicana realizou filmes comerciais, que nada tinham a ver com os seus interesses mais profundos. Em 1950 recuperou a sua autenticidade com “Los Olvidados”, sobre a vida violenta e dura dos meninos de rua na Cidade do México, onde discretamente inseriu elementos surrealistas, sendo aplaudido pela crítica. Seguiram-se vários filmes, todos como muito êxito.
Em 1960, apesar das críticas de outros exilados republicanos, regressou à Espanha para realizar “Viridiana”. O filme, cuja rodagem o governo de Franco aceitou ingenuamente subsidiar e promover no Festival de Cannes, sem que algum dos responsáveis o tivesse visionado, acabou por se revelar uma paródia impiedosa dos conceitos habituais de caridade e virtude cristãs. Ganhou a “Palma de Ouro” do Festival de Cannes e depressa causou enorme escândalo em Espanha, onde foi proibido. Apesar do sucedido, Buñuel não foi perseguido pessoalmente em Espanha, onde tinha uma segunda residência.
O reconhecimento internacional de “Viridiana” fez com que os europeus se voltassem a interessar por Buñuel. Realizou então muitos filmes de sucesso, sobretudo em França.
Em 1972, filmou “O Discreto Charme da Burguesia”, onde a alienação, a arrogância, a falta de escrúpulos, a desonestidade e a amoralidade da burguesia foram objecto do seu humor negro. O filme ganharia o Oscar do Melhor Filme Estrangeiro.
Depois de ter filmado “Cet obscur object du désir”, retirou-se. Estava cada vez mais surdo e a saúde começava a faltar-lhe. Sempre fora um grande bebedor e fumador e, apesar da sua enorme resistência, começara a sofrer de diabetes e de doença grave no fígado.
Em 1983, já próximo da morte, ainda publicou a sua autobiografia - “O meu último suspiro”.
A sua obra cinematográfica, aclamada pela crítica mas sempre rodeada por uma aura de escândalo, tornou-o um dos mais controversos cineastas do mundo.
Com oito anos, assistiu pela primeira vez à projecção de um filme num cinema de Saragoça. Estudou num colégio de Jesuítas mas, com a adolescência, veio a perder a fé, tornando-se anti-clerical e ateu. Em 1915, foi expulso do colégio, tendo terminado os seus estudos secundários no Instituto de Saragoça.
Em 1917 foi estudar para Madrid, instalando-se na prestigiada e elitista Residencia de Estudiantes, onde permaneceria até 1925. Aí conheceu várias personalidades das letras, artes e ciências espanholas e internacionais, convivendo com muitos daqueles que fizeram parte da famosa “Geração de 27” e tomando conhecimento das vanguardas artísticas e literárias da época (cubismo, dadaísmo e surrealismo). Foi na “Residência”, que se tornou grande amigo de três companheiros de boémia que tiveram nele uma influência fundamental: Pepín Bello, Federico García Lorca e Salvador Dalí. Frequentava também os cafés de Madrid e as suas tertúlias, bem assim como os seus bordéis.
Em 1920 fundou o primeiro cineclube espanhol. Em 1921 participou na representação teatral de “Don Juan Tenório”, de Zorrilla, em Toledo. Em 1922 publicou os primeiros textos literários, influenciados por Ramón Gómez de la Serna. Em 1924, depois de ter frequentado sem grande convicção, vários cursos universitários, acabou por se licenciar em História.
Em 1925 foi viver para Paris, onde estudou cinema e trabalhou como assistente de vários realizadores, entre os quais Jean Epstein.
Em 1929, Buñuel e Dalí, utilizando o método surrealista, escreveram o guião do filme “Um cão andaluz”. Apesar dos desmentidos, o filme foi um subtil mas evidente ataque a García Lorca de quem se haviam afastado, em parte porque Buñuel (machista assumido) tinha aversão à homossexualidade do poeta. A dupla foi prontamente admitida no grupo surrealista de André Breton.
No Verão de 1929, Buñuel e Dalí estavam em Cadaqués a preparar um novo filme, quando a sua colaboração e amizade foram ensombradas pelo aparecimento de Gala Éluard, por quem Dalí se deixou totalmente enfeitiçar e influenciar. Por outro lado, a antipatia entre Buñuel e a ciumenta e intriguista Gala foi instantânea e mútua. Buñuel regressou então a Paris, onde acabou o guião e rodou o filme, fortemente anticlerical.
Nos primeiros filmes de Buñuel estavam patentes, de forma concentrada e intensíssima, todos os temas básicos que a sua obra posterior continuaria a reflectir, mais discretamente mas com igual poder: o amor louco, o anticlericalismo, a rebeldia e o inconformismo diante do estabelecido e do convencional, uma ânsia de transcendência, expressos em imagens oníricas e alucinantes, cheias de dureza, de corrosivo humor negro e de uma candura embriagante.
Em 1930 foi contratado pela Metro Goldwyn Mayer e viajou para Hollywood, como “observador”, com o objectivo de se familiarizar com o sistema de produção norte-americano. Conheceu Charles Chaplin e Serguei Eisenstein.
Voltou a Espanha após a proclamação da República e dirigiu, em 1933, o documentário “Las Hurdes, tierra sin pan”, que descrevia de modo cru a vida quotidiana e os costumes ancestrais de uma recôndita aldeia espanhola da Extremadura, profundamente miserável e em estado quase selvagem. As imagens e os factos descritos eram tão extraordinários e irreais, que acabariam por dar ao filme um cunho verdadeiramente surrealista. Foi um escândalo, desagradando ao governo de esquerda espanhol, que o proibiu por alegadamente dar uma imagem corrompida da Espanha.
No decurso da guerra civil espanhola, Luís Buñuel exilou-se na França, partindo em 1938 para os EUA e fixando-se em Los Angeles. Em 1941 foi trabalhar como conselheiro e chefe de montagem do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Contudo, a publicação em 1942 de “A vida secreta de Salvador Dali”, onde este falava das simpatias comunistas de Buñuel, fez com que este tivesse de se demitir. Em 1946, depois de ter estado em Hollywood, acabou por partir para o México.
No início da sua fase mexicana realizou filmes comerciais, que nada tinham a ver com os seus interesses mais profundos. Em 1950 recuperou a sua autenticidade com “Los Olvidados”, sobre a vida violenta e dura dos meninos de rua na Cidade do México, onde discretamente inseriu elementos surrealistas, sendo aplaudido pela crítica. Seguiram-se vários filmes, todos como muito êxito.
Em 1960, apesar das críticas de outros exilados republicanos, regressou à Espanha para realizar “Viridiana”. O filme, cuja rodagem o governo de Franco aceitou ingenuamente subsidiar e promover no Festival de Cannes, sem que algum dos responsáveis o tivesse visionado, acabou por se revelar uma paródia impiedosa dos conceitos habituais de caridade e virtude cristãs. Ganhou a “Palma de Ouro” do Festival de Cannes e depressa causou enorme escândalo em Espanha, onde foi proibido. Apesar do sucedido, Buñuel não foi perseguido pessoalmente em Espanha, onde tinha uma segunda residência.
O reconhecimento internacional de “Viridiana” fez com que os europeus se voltassem a interessar por Buñuel. Realizou então muitos filmes de sucesso, sobretudo em França.
Em 1972, filmou “O Discreto Charme da Burguesia”, onde a alienação, a arrogância, a falta de escrúpulos, a desonestidade e a amoralidade da burguesia foram objecto do seu humor negro. O filme ganharia o Oscar do Melhor Filme Estrangeiro.
Depois de ter filmado “Cet obscur object du désir”, retirou-se. Estava cada vez mais surdo e a saúde começava a faltar-lhe. Sempre fora um grande bebedor e fumador e, apesar da sua enorme resistência, começara a sofrer de diabetes e de doença grave no fígado.
Em 1983, já próximo da morte, ainda publicou a sua autobiografia - “O meu último suspiro”.
Sem comentários:
Enviar um comentário