EFEMÉRIDE – Antonin Artaud, de seu verdadeiro nome Antoine Marie Joseph Artaud, poeta, actor, romancista, desenhador, dramaturgo, guionista, director e teórico do teatro francês, nasceu em Marselha no dia 4 de Setembro de 1896. Morreu em Ivry-sur-Seine, em 4 de Março de 1948.
Nasceu numa família burguesa economicamente desafogada. O pai era capitão da marinha mercante de longo curso e a mãe tinha origem turca. Aos oito anos perdeu a irmã de oito meses. Aos dez anos quase se ia afogando, o que lhe deixou uma fobia da água. Teve uma infância feliz sob o ponto de vista afectivo, sofrendo porém de dores de cabeça crónicas desde a adolescência, atribuídas a sífilis hereditária. Foi tratado durante vinte anos com medicamentos à base de arsénico, bismuto e mercúrio.
Teve educação religiosa num colégio Marista, o que lhe trouxe muitos conhecimentos teológicos. Manifestou o seu gosto pelo grego, latim e história antiga. Com catorze anos descobriu a poesia de Charles Baudelaire.
Em 1920 chegou a Paris e começou a escrever. Em 1923 publicou, por sua conta e sob pseudónimo, o primeiro número da revista “Bibloquet”.
Em 1924, o surrealista André Breton confiou-lhe a direcção da “Central de Pesquisas Surrealistas”. Durante este período escreveu guiões para filmes e poemas em prosa. Vários textos seus foram publicados em “Revolução Surrealista”.
A doença influenciava negativamente as suas relações e as suas criações. Com ideias anarquistas, foi excluído do movimento surrealista por ser contrário à filiação no Partido Comunista.
O seu livro “O Teatro e o seu Duplo” (1935), uma das principais obras sobre a arte do teatro no século XX, foi uma importante referência para grandes directores teatrais.
Em 1936 partiu para o México e foi a cavalo até aos Tarahumaras para se iniciar nos ritos do sol. Veio a Bruxelas para regularizar o seu noivado com Cécile Schramm. Ao conversar com o futuro sogro, que era director da empresa de eléctricos da capital belga, teve um bloqueio mental e começou a dissertar sobre «os efeitos da masturbação nos irmãos jesuítas». O noivado foi rompido.
Em 1937 foi detido em Dublin acusado de vagabundagem e alteração da ordem pública. Foi metido à força num barco americano que fazia escala no Havre. À chegada, foi entregue às autoridades que o conduziram a um hospital, imobilizado com um colete-de-forças. Foi colocado no serviço de alienados. Considerado violento, perigoso para ele e para os outros, sofrendo de alucinações e da mania da perseguição, foi transferido para um hospital psiquiátrico. Passou depois por vários manicómios, cujos tratamentos eram pouco ortodoxos à luz do saber actual. Seis anos depois foi transferido para o hospital psiquiátrico de Rodez, onde permaneceu três anos.
Em Rodez, estabeleceu uma intensa correspondência com o Dr. Ferdière, também anarquista, médico responsável do manicómio. Uma relação ambígua foi estabelecida entre os dois: o médico reconhecia o valor do escritor e incentivava-o a retomar a actividade literária; por outro lado, julgando a poesia e o comportamento de seu paciente muito delirante, submetia-o a tratamentos de electrochoques que prejudicavam a sua memória, o seu corpo e o seu pensamento. As cartas foram para Artaud um recurso para não perder a lucidez. Elas revelam um homem em terrível estado de sofrimento, falando da sua dor através de uma escrita íntima e espontânea. São os diálogos de um desesperado com o seu médico e através dele com toda a sociedade.
Artaud voltou a Paris em 1946. Vítima de cancro no recto, diagnosticado muito tardiamente, foi encontrado morto dois anos depois, no seu quarto numa clínica de Ivry-sur-Seine. Neste período, além de uma importante produção literária, fez desenhos, preparou conferências e gravou a emissão radiofónica “Para acabar com o julgamento de Deus” cuja transmissão seria proibida.
A sua actividade abrangeu ensaios e guiões de cinema, pintura e literatura, diversas peças de teatro, inclusive uma ópera, notas e manifestos polémicos sobre teatro, e aparições como actor secundário em mais de vinte filmes.
As suas obras completas foram publicadas pelas Edições Gallimard, tarefa que levou perto de quarenta anos a concretizar devido à quantidade de manuscritos que Antonin Artaud deixou quando morreu.
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