EFEMÉRIDE
– José Mestre Baptista, cavaleiro tauromáquico português, morreu em
Zafra, Espanha, no dia 17 de Fevereiro de 1985. Nascera em São Marcos do Campo, em
30 de Maio de 1940. Para além de ter iniciado em Portugal o toureio frontal e
ao piton contrário, Mestre Baptista era dotado de uma arte e de uma
valentia, que ficarão para sempre na história da tauromaquia.
Demonstrou
desde criança o grande desejo de vir a ser cavaleiro e começou por montar um
burro com o qual fazia as maiores traquinices, desde simular faenas até
subir as escadas da igreja. Depois da instrução primária, passou a frequentar
um colégio em Évora, de onde as fugas eram constantes pois a sua vontade de
estudar era nula. Os cavalos eram o seu fascínio. Regressou então a São Marcos
do Campo para ajudar na lavoura e, aos doze anos, teve a primeira montada, o
“Ideal”, cavalo com o ferro de seu pai e com o qual começou a tourear, apenas
baseado na sua intuição e no seu talento natural, visto não ter frequentado
qualquer escola de equitação.
Aos
treze anos, fez a sua primeira actuação, estreando-se na praça de touros de
Mourão, nas Festas de Nossa Senhora das Candeias. Esteve presente Luís
Gonzaga Ribeiro, natural de Reguengos de Monsaraz, o homem que o lançaria no
panorama tauromáquico, tornando-se seu apoderado, amigo e protector. Luís
Gonzaga trouxe-o para Lisboa, deixando-o aos cuidados de sua mãe, para que ele
pudesse começar a frequentar a escola de equitação do mestre Nuno de Oliveira.
Ele, porém, já optara por não querer ser apenas cavaleiro, mas também toureiro.
Ao
fim de quatro anos como amador, Mestre Batista recebeu a alternativa de
cavaleiro tauromáquico profissional em Setembro de 1958, na praça de touros da
Moita, depois de lhe ter sido recusada, três meses antes, na praça de touros do
Campo Pequeno em Lisboa (a única alternativa recusada em toda a história do
toureio a cavalo). Aprovada, desta vez por unanimidade, o cavaleiro teve como
padrinho D. Francisco Mascarenhas. A sua primeira corrida, como profissional,
foi na Chamusca, em Outubro, saindo em triunfo e tendo feito a estreia do
cavalo “Forcado”.
Apesar
de muito criticado e apelidado mesmo de louco por alguns, devido ao arriscado e
frontal toureio que praticava, depressa passou a alternar com cavaleiros de
primeira categoria. Aos poucos, o público começou a render-se a este novo modo
de tourear, assistindo-se a uma verdadeira revolução no toureio equestre.
Arrastando
multidões e pisando terrenos até então proibidos, culminava cada actuação com
os famosos “Ferros á Baptista”, instituindo um estilo próprio que veio
influenciar a maioria dos cavaleiros das gerações posteriores. Em Junho de
1962, em Santarém, realizou uma magnífica actuação, dando cinco voltas á arena
com saída em ombros.
Além
do seu estilo de tourear incomparável, a revolução no toureio a cavalo passou
também pela alteração no vestuário, tendo adoptado o uso de casacas mais
curtas, leves e ligeiramente cintadas. Conservou contudo o uso do tricórnio
durante toda a lide.
Alternou
em centenas de corridas de touros com Luís Miguel da Veiga que, apesar de
sincero amigo, era considerado seu rival pelo público. Com lotação esgotada, os
dois formaram o cartel mais anunciado, disputado e discutido durante quinze
anos, fazendo aumentar o interesse pelo toureio a cavalo e trazendo milhares de
aficionados para a corrida à portuguesa. Ficaram também célebres as corridas
com o rejoneador Álvaro Domecq com touros em pontas na praça de touros
do Campo Pequeno, as corridas dos três “Zés” com José Lupi, José Núncio
e José Mestre Batista e os duos com José João Zoio.
Foi-lhe
atribuído três vezes (1963/1964/1971) o Prémio Bordalo na categoria de
tauromaquia, como melhor cavaleiro. Para além de Portugal continental, Mestre
Batista toureou nos Açores, Luanda, Lourenço Marques (agora Maputo), Macau,
Espanha e França. Apesar do sucesso que o acompanhou, nunca impôs nomes de
ganadarias de touros nem exigiu ou recusou alternar com qualquer cavaleiro.
Toureou em dezenas de festivais e corridas de beneficência e demonstrou sempre
extrema sensibilidade para com os problemas dos mais necessitados.
Durante
a sua carreira, recebeu e guardou mais de 5 000 cartas de fãs, algumas
endereçadas apenas a José Mestre Batista, Portugal. Dos momentos menos bons,
destacam-se as colhidas graves sofridas nas praças de touros de Santarém,
Espinho, Almeirim e Vila Viçosa e o facto de, em Novembro de 1967, devido às
inundações, ter perdido alguns dos seus melhores cavalos, entre eles o “Tirol”
e o “Talismã”. Por essa época, mudou-se para uma quinta em Alhandra para se
dedicar arduamente à selecção e treino de novas montadas. Nos últimos anos de
toureio, destacaram-se muitos cavalos de qualidade.
Como
a maioria dos cavaleiros, era um homem de fé e a sua imagem de devoção era a de
Nossa Senhora D’Aires. Frequentemente, mandava depositar as flores recebidas
nas corridas, na igreja de Viana do Alentejo, cuja abóbada e altar mandou
restaurar,
Casou
pelo civil em casa do seu apoderado Inácio Saraiva, em Lisboa, às 16 horas de 9
de Outubro de 1973, e toureou á noite na corrida da feira de Vila Franca de
Xira, sem que ninguém soubesse, inclusive os seus bandarilheiros, que ele se
tinha casado. Em 31 de Dezembro do mesmo ano, celebrou o casamento religioso na
Basílica de Santo António em Pádua, Itália. Em Julho de 1975, nasceu o seu
único filho.
José
Mestre Batista faleceu de um ataque de asma, seguido de paragem cardíaca, na
companhia da sua mulher e do seu filho. As suas últimas palavras foram «Valha-me
Nossa Senhora D’Aires». Repousa no cemitério de Vila Franca de Xira, num
mausoléu.
Foi
condecorado a título póstumo, pelo presidente da República Ramalho Eanes, com a
Ordem do Infante D. Henrique. Na sua terra natal, São Marcos do Campo,
foi inaugurada em Julho de 2009 uma estátua equestre. Em Junho de 2011, a Santa Casa da
Misericórdia atribuiu o seu nome à praça de touros de Reguengos de
Monsaraz.
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