segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

17 DE FEVEREIRO - MESTRE BAPTISTA



EFEMÉRIDE José Mestre Baptista, cavaleiro tauromáquico português, morreu em Zafra, Espanha, no dia 17 de Fevereiro de 1985. Nascera em São Marcos do Campo, em 30 de Maio de 1940. Para além de ter iniciado em Portugal o toureio frontal e ao piton contrário, Mestre Baptista era dotado de uma arte e de uma valentia, que ficarão para sempre na história da tauromaquia.
Demonstrou desde criança o grande desejo de vir a ser cavaleiro e começou por montar um burro com o qual fazia as maiores traquinices, desde simular faenas até subir as escadas da igreja. Depois da instrução primária, passou a frequentar um colégio em Évora, de onde as fugas eram constantes pois a sua vontade de estudar era nula. Os cavalos eram o seu fascínio. Regressou então a São Marcos do Campo para ajudar na lavoura e, aos doze anos, teve a primeira montada, o “Ideal”, cavalo com o ferro de seu pai e com o qual começou a tourear, apenas baseado na sua intuição e no seu talento natural, visto não ter frequentado qualquer escola de equitação.
Aos treze anos, fez a sua primeira actuação, estreando-se na praça de touros de Mourão, nas Festas de Nossa Senhora das Candeias. Esteve presente Luís Gonzaga Ribeiro, natural de Reguengos de Monsaraz, o homem que o lançaria no panorama tauromáquico, tornando-se seu apoderado, amigo e protector. Luís Gonzaga trouxe-o para Lisboa, deixando-o aos cuidados de sua mãe, para que ele pudesse começar a frequentar a escola de equitação do mestre Nuno de Oliveira. Ele, porém, já optara por não querer ser apenas cavaleiro, mas também toureiro.
Ao fim de quatro anos como amador, Mestre Batista recebeu a alternativa de cavaleiro tauromáquico profissional em Setembro de 1958, na praça de touros da Moita, depois de lhe ter sido recusada, três meses antes, na praça de touros do Campo Pequeno em Lisboa (a única alternativa recusada em toda a história do toureio a cavalo). Aprovada, desta vez por unanimidade, o cavaleiro teve como padrinho D. Francisco Mascarenhas. A sua primeira corrida, como profissional, foi na Chamusca, em Outubro, saindo em triunfo e tendo feito a estreia do cavalo “Forcado”.
Apesar de muito criticado e apelidado mesmo de louco por alguns, devido ao arriscado e frontal toureio que praticava, depressa passou a alternar com cavaleiros de primeira categoria. Aos poucos, o público começou a render-se a este novo modo de tourear, assistindo-se a uma verdadeira revolução no toureio equestre.
Arrastando multidões e pisando terrenos até então proibidos, culminava cada actuação com os famosos “Ferros á Baptista”, instituindo um estilo próprio que veio influenciar a maioria dos cavaleiros das gerações posteriores. Em Junho de 1962, em Santarém, realizou uma magnífica actuação, dando cinco voltas á arena com saída em ombros.
Além do seu estilo de tourear incomparável, a revolução no toureio a cavalo passou também pela alteração no vestuário, tendo adoptado o uso de casacas mais curtas, leves e ligeiramente cintadas. Conservou contudo o uso do tricórnio durante toda a lide.
Alternou em centenas de corridas de touros com Luís Miguel da Veiga que, apesar de sincero amigo, era considerado seu rival pelo público. Com lotação esgotada, os dois formaram o cartel mais anunciado, disputado e discutido durante quinze anos, fazendo aumentar o interesse pelo toureio a cavalo e trazendo milhares de aficionados para a corrida à portuguesa. Ficaram também célebres as corridas com o rejoneador Álvaro Domecq com touros em pontas na praça de touros do Campo Pequeno, as corridas dos três “Zés” com José Lupi, José Núncio e José Mestre Batista e os duos com José João Zoio.
Foi-lhe atribuído três vezes (1963/1964/1971) o Prémio Bordalo na categoria de tauromaquia, como melhor cavaleiro. Para além de Portugal continental, Mestre Batista toureou nos Açores, Luanda, Lourenço Marques (agora Maputo), Macau, Espanha e França. Apesar do sucesso que o acompanhou, nunca impôs nomes de ganadarias de touros nem exigiu ou recusou alternar com qualquer cavaleiro. Toureou em dezenas de festivais e corridas de beneficência e demonstrou sempre extrema sensibilidade para com os problemas dos mais necessitados.
Durante a sua carreira, recebeu e guardou mais de 5 000 cartas de fãs, algumas endereçadas apenas a José Mestre Batista, Portugal. Dos momentos menos bons, destacam-se as colhidas graves sofridas nas praças de touros de Santarém, Espinho, Almeirim e Vila Viçosa e o facto de, em Novembro de 1967, devido às inundações, ter perdido alguns dos seus melhores cavalos, entre eles o “Tirol” e o “Talismã”. Por essa época, mudou-se para uma quinta em Alhandra para se dedicar arduamente à selecção e treino de novas montadas. Nos últimos anos de toureio, destacaram-se muitos cavalos de qualidade.
Como a maioria dos cavaleiros, era um homem de fé e a sua imagem de devoção era a de Nossa Senhora D’Aires. Frequentemente, mandava depositar as flores recebidas nas corridas, na igreja de Viana do Alentejo, cuja abóbada e altar mandou restaurar,
Casou pelo civil em casa do seu apoderado Inácio Saraiva, em Lisboa, às 16 horas de 9 de Outubro de 1973, e toureou á noite na corrida da feira de Vila Franca de Xira, sem que ninguém soubesse, inclusive os seus bandarilheiros, que ele se tinha casado. Em 31 de Dezembro do mesmo ano, celebrou o casamento religioso na Basílica de Santo António em Pádua, Itália. Em Julho de 1975, nasceu o seu único filho.
José Mestre Batista faleceu de um ataque de asma, seguido de paragem cardíaca, na companhia da sua mulher e do seu filho. As suas últimas palavras foram «Valha-me Nossa Senhora D’Aires». Repousa no cemitério de Vila Franca de Xira, num mausoléu.
Foi condecorado a título póstumo, pelo presidente da República Ramalho Eanes, com a Ordem do Infante D. Henrique. Na sua terra natal, São Marcos do Campo, foi inaugurada em Julho de 2009 uma estátua equestre. Em Junho de 2011, a Santa Casa da Misericórdia atribuiu o seu nome à praça de touros de Reguengos de Monsaraz.

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