De mãe galega, Celeste era a mais
nova de três irmãos e quase não conheceu o pai, que os abandonou. Tinha família
na Amareleja, que nos anos finais do Estado Novo era considerada «a
aldeia mais vermelha de Portugal».
Em 1974, Celeste Caeiro tinha 40
anos e vivia num quarto que alugara no Chiado. Trabalhava num restaurante
self-service chamado “Sir” no edifício Franjinhas, da Rua
Braamcamp em Lisboa. O restaurante, inaugurado em 25 de Abril de 1973, fazia um
ano de abertura nesse dia e a gerência planeava oferecer flores às senhoras
clientes e um cálice de Porto aos cavalheiros. Nesse dia, todavia, como
estava a decorrer o golpe de estado, o restaurante não abriu. A gerente, Isabel
Falcão, disse aos funcionários para voltarem para casa e deu-lhes os cravos
para levarem consigo, já que não poderiam ser distribuídos pelas clientes. Cada
um levou um molhe de cravos vermelhos e brancos que se encontravam no armazém.
Ao regressar a casa, Celeste
apanhou o metro para o Rossio e dirigiu-se ao Chiado, onde se deparou
imediatamente com os tanques dos revolucionários. Aproximando-se de um dos
tanques, perguntou o que se passava, ao que um soldado lhe respondeu: «Nós
vamos para o Carmo para deter o Marcelo Caetano. Isto é uma revolução!». O
soldado pediu-lhe ainda, um cigarro, mas Celeste não tinha nenhum. Ela queria
comprar-lhes qualquer coisa para comer, mas as lojas estavam todas fechadas.
Assim, deu-lhe as únicas coisas que tinha para lhe dar, os molhos de cravos,
dizendo: «Se quiser tome, um cravo oferece-se a qualquer pessoa». O
soldado aceitou e pôs a flor no cano da espingarda. Celeste foi dando cravos
aos soldados que ia encontrando, desde o Chiado até ao pé da Igreja dos
Mártires.
Depois do seu gesto, Celeste foi
chamada a “Celeste dos cravos”. Em 1999, a poetisa Rosa Guerreiro Dias
dedicou-lhe o poema “Celeste em Flor”.
Vive actualmente com uma pequena
pensão, numa casita a poucos metros da Avenida da Liberdade.
Sem comentários:
Enviar um comentário