Nascido no seio de uma família de
comerciantes abastados, Peyrefitte foi aluno de colégios internos de Jesuítas e Lazaristas e estudou Línguas
e Literatura em Toulouse.
Licenciou-se na École des
Sciences Politiques em 1930, tendo sido o primeiro classificado do seu
curso, após o que trabalhou como secretário da embaixada em Atenas, entre 1933
e 1938.
De regresso a Paris, foi obrigado
a demitir-se do serviço diplomático em 1940 por razões pessoais (possivelmente
devido a acusações de colaboração com as forças de ocupação alemãs), tendo sido
reintegrado em 1943 para terminar a sua carreira diplomática passados apenas
dois anos.
Nos seus romances, tratou
frequentemente temas controversos e as suas obras colocaram-no em rota de
colisão com a Igreja Católica.
Escreveu abertamente sobre as
suas experiências homossexuais no colégio interno (“As Amizades Particulares”,
no original “Les amitiés particulières”, 1944) o que lhe valeu o
cobiçado Prémio Renaudot em 1945. O livro foi adaptado ao cinema em
1964, mantendo o mesmo nome. Durante a rodagem do filme, Peyrefitte conheceu o
jovem aristocrata Alain-Philippe Malagnac d’Argens de Villele, então com 14
anos, que se tornaria seu amante. Peyrefitte descreve essa relação nos romances
“Notre amour” (1967) e “L’Enfant de cœur” (1978). Malagnac
casaria mais tarde com a cantora Amanda Lear (alegadamente transexual).
Peyrefitte atacou também a Santa
Sé e o papa Pio XII em “Les Clés de saint Pierre” (1953), o que lhe
valeu a alcunha de ‘Papa dos Homossexuais’. A publicação deste livro foi
o ponto de partida para uma discussão acesa e prolongada com François Mauriac, Prémio
Nobel de Literatura em 1952. Mauriac ameaçou deixar de escrever para o
jornal “L’Express”, com quem colaborava na altura, se este não retirasse
a publicidade ao livro. Esta quezília foi exacerbada pela estreia do filme “Les
amitiés particulières” e culminou numa virulenta carta aberta de Peyrefitte
em que este acusava Mauriac de esconder as suas tendências homossexuais e o
apelidava de Tartufo.
No livro “As Embaixadas” (“Les
Ambassades”), 1951, Peyrefitte descreve os segredos escondidos da
diplomacia. Muitos, se não a maioria, dos seus livros tem um tom de fundo
pederasta, e nalguns ele explora livremente essa faceta da sua personalidade.
Talvez mais do que os seus amigos André Gide ou Henry de Montherlant,
Peyrefitte utilizou os seus dotes literários em defesa da pederastia.
Peyrefitte escreveu também sobre
o exílio do barão Jacques d’Adelswärd-Fersen em Capri (“L’Exilé de Capri”,
1959) e traduziu a partir do grego o poema de amor pederasta, “La Muse
garçonnière”, Flammarion, 1973.
Apesar de ser largamente
conhecido, Peyrefitte foi acusado de valorizar mais o sucesso comercial dos
seus livros do que as suas qualidades literárias. Na opinião de um crítico
anónimo do “L’Express”: «Nos tempos em que escreveu “As Amizades
Particulares”, tinha algo a dizer. Hoje só tem algo a vender».
Morreu aos 93 anos, após uma
longa batalha com a doença de Parkinson, e não sem antes receber os
últimos sacramentos da Igreja Católica que tão fortemente atacara
durante a sua vida.
Após o seu falecimento, a cidade
de Capri descerrou uma placa em sua memória próximo da Villa Lysis cuja
inscrição diz: «A Roger Peyrefitte, autor de “O Exilado de Capri”, por
ter exaltado e difundido o mito, a cultura e a beleza desta ilha no mundo».
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