Entre outras funções, foi
deputado, presidente do Ministério (primeiro-ministro) de um dos
governos da Primeira República Portuguesa, ministro das Finanças
e reitor da Universidade de Coimbra. Membro do Partido Republicano
Nacionalista, fundou a União Liberal Republicana em 1923. Apesar de
ter apoiado o golpe de 28 de Maio de 1926, incompatibilizou-se com
Oliveira Salazar, transformando-se num dos mais notáveis opositores da primeira
fase do regime do Estado Novo e um dos primeiros proponentes de uma
solução política de autodeterminação para o Império Colonial Português.
Destacou-se na defesa de uma
solução política de progressiva autonomia para as colónias, programa que expôs
em obras como “O Colonialismo dos Anticolonialistas” e “A Gadanha da
Morte”.
Também se destacou como
publicista, dirigindo os periódicos “O Século”, “A Noite” e a
revista “Vida Contemporânea”. Para além de colaborar em múltiplos
jornais, foi autor de obras sobre Angola, a Primeira República e de
carácter memorialista. Encontra-se colaboração da sua autoria na “Gazeta das
colónias” (1924/1926).
Cunha Leal era filho de Maria da
Piedade de Carvalho e de José Pinto da Cunha, um pequeno proprietário e
funcionário público. Conclui o ensino primário no concelho do Fundão e iniciou
os estudos liceais em Castelo Branco, concluindo-os em Lisboa. Entre 1905 e
1908, frequentou a Escola Politécnica de Lisboa, ingressando
seguidamente na Escola do Exército, onde em 1912 concluiu os cursos de Engenheiro
militar e de Engenheiro civil e de minas.
Iniciou a carreira de oficial do Exército
Português na especialidade de Engenharia, no decorrer da qual foi
sucessivamente colocado no Serviço de Torpedeiros (1912 a 1913) e nos Pontoneiros de Tancos (1913 a 1914). Já no
posto de tenente de Engenharia Militar, serviu em Angola, tendo sido
nomeado chefe-de-brigada na Companhia dos Caminhos-de-Ferro de Angola
(1914 a 1915). Foi promovido a capitão em 1917 e nesse posto integrou o Corpo
Expedicionário Português enviado para França durante a Primeira Guerra
Mundial.
Regressado a Portugal em 1918, em
gozo de licença do Corpo Expedicionário Português, foi um dos muitos
oficiais que não voltou à frente de batalha, sendo nomeado director-geral dos Transportes
Terrestres e ficando adstrito ao Governo, em Lisboa.
Iniciou a sua acção política em
1918, durante o sidonismo, filiando-se no Partido Republicano
Nacionalista e depois no Partido Centrista Republicano de António
Egas Moniz. Apoia Sidónio Pais e ainda em 1918 foi eleito, de acordo com as
regras eleitorais definidas pelo novo regime, deputado pelo círculo eleitoral
da Covilhã, cargo que ocupou até 1919.
Esteve envolvido na Revolta de
Santarém de 12 de Janeiro de 1919, contra o governo presidido por Tamagnini
Barbosa, então acusado de estar sob a influência
dos monárquicos. Por essa razão foi detido, passando alguns meses na prisão.
Com a alteração da situação política, foi reabilitado e, nesse mesmo ano,
nomeado director-geral de Estatística.
A 28 de Junho de 1919, foi feito cavaleiro
da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nas eleições gerais de 1919, foi
eleito deputado pelo círculo eleitoral de Angola, integrando o grupo
parlamentar Popular, no qual permaneceu até 1921. Durante aquela
legislatura, integrou pela primeira vez o Governo, embora de forma
efémera, exercendo as funções de ministro das Finanças de 20 a 30 de
Novembro de 1920, no executivo presidido por Álvaro de
Castro.
Apesar da queda do executivo reconstituinte de Álvaro de Castro, manteve-se à
frente do Ministério das Finanças entre 30 de Novembro de 1920 e 2 de
Março de 1921, integrando o Governo presidido por Liberato Pinto. Esta
nomeação surgiu após ter defendido no Parlamento, meses antes, uma
política financeira de igual rigor por parte do Estado e dos
contribuintes, a quem exigiu os pagamentos devidos. Já como ministro, afirmou
que o Estado se encontrava «sem os recursos
necessários para comprar o pão-nosso de cada dia». Durante este período
foi também director do jornal “O Popular”.
Voltou a ser eleito deputado pelo
círculo eleitoral de Angola nas eleições de 1921, integrando então o grupo
parlamentar do Partido Liberal Republicano, que ajudou a criar e
liderou. Participou na revolta de 19 de Outubro de 1921, na qual foi
ferido ao tentar salvar António Granjo, presidente do Ministério
derrubado nesse dia.
Quando em 16 de Dezembro daquele
ano de 1921 foi derrubado o Governo presidido por Carlos Maia Pinto,
assumiu as funções de presidente do Ministério, mantendo-se no poder até
6 de Fevereiro de 1922. Durante esse período acumulou a presidência com a pasta
de ministro do Interior.
O governo era de concentração de vários partidos, num equilíbrio
político instável, assumindo como principal missão acabar com a onda
revolucionária que assolava o país e provocara a sublevação da Noite
Sangrenta, em que tinham sido assassinados vários prestigiados políticos
republicanos. Tal implicava restaurar a ordem pública através da reposição do
controlo político sobre a Guarda Nacional Republicana, mas o Governo,
pressionado pela GNR, foi obrigado a procurar refúgio no forte de Caxias
e a chamar o Exército para cercar Lisboa.
Os maus resultados das eleições
gerais de 29 de Janeiro de 1922, ganhas pelo Partido Democrático Republicano,
e um pequeno conflito diplomático com o governo britânico levaram à queda do
executivo.
Nas eleições de 1922 e de 1925
foi eleito pelos círculos eleitorais de Chaves e de Vila Real, respectivamente,
desta feita nas listas do Partido Republicano Nacionalista, cuja bancada
parlamentar liderou. Neste período, voltou a integrar o executivo, exercendo as
funções de ministro das Finanças entre 15 de Novembro e 18 de Dezembro
de 1923 no executivo presidido por António Ginestal Machado, que ficaria
conhecido como o «Governo da Intentona Putchista».
Entretanto, fora nomeado director de “O Século”, passando a defender com
crescente veemência a necessidade de uma ditadura que restabelecesse a ordem
pública e social em Portugal. Em 17 de Dezembro de 1923, véspera da demissão do
Governo de Ginestal Machado, ainda em funções ministeriais, discursou na
Sociedade de Geografia de Lisboa, afirmando, sem rebuços, que «a
ditadura salvadora para Portugal há-de vir, trazida pela força das
circunstâncias».
Estas afirmações são reflexo da
evolução do seu pensamento, já que a partir de Janeiro de 1922, aquando da sua
saída da presidência do executivo, iniciara um percurso político e ideológico
que o levou a aderir à direita republicana.
Foi nomeado reitor da Universidade
de Coimbra em 1924, mas apoiou a Revolta de 18 de Abril de 1925, o Golpe
dos Generais, o que levou, em 19 de Abril, à sua demissão do cargo e prisão
por um breve período. Após a sua libertação, em Setembro daquele ano, com
Tamagnini Barbosa, tornou-se advogado de defesa dos militares implicados na
intentona.
Reabilitado, foi ainda em 1925
nomeado vice-governador do Banco Nacional Ultramarino, uma sinecura que desempenhou até 1926.
Em 1926, foi obrigado a deixar a
chefia do Partido Nacionalista e fundou a União Liberal Republicana,
partido que liderou e que tinha como objectivo expresso criar condições para a
ocorrência de um golpe militar que restabelecesse a ordem republicana.
Divergente com as posições que
defendia desde 1923, apoiou o golpe de 28 de Maio de 1926, por ele encarado como a única solução de pôr termo à ditadura
do Partido Democrático Republicano e restaurar a ordem pública. Em
consequência desse apoio, durante os governos da Ditadura Nacional
manteve-se no exercício de diversos cargos públicos, entre os quais o de governador
do Banco de Angola (1926 e 1927/1930), de delegado de Portugal à Conferência
Económica Internacional de Genebra (1927) e de membro do Comité
Consultivo da Organização Económica da Sociedade das Nações (1928).
Apesar de ter sido, na altura, um
dos intelectuais e políticos que estava com o general António Óscar Carmona, ao
tempo presidente do Ministério e depois presidente da República, já no 1º
de Dezembro de 1927 lhe foi proibido de proferir um discurso nacionalista que
se lhe oponha. Assim como, se no início apoiou a nomeação de António de
Oliveira Salazar para a pasta das Finanças, já em 1930 critica
publicamente a eternização da ditadura e a sua
política financeira. Na qualidade de governador do Banco de Angola (1926
e 1927/1930), considera particularmente danosos os efeitos da interferência do Governo
da República no orçamento e nas finanças das colónias.
Aquela oposição resultava de ser
defensor da autonomização das colónias, pelo que se
opunha às medidas financeiras subjacentes ao Acto Colonial e às
políticas financeiras crescentemente restritivas impostas. No decurso da sua
segunda nomeação como governador do Banco de Angola, tornou-se num acerbo crítico da política financeira salazarista para
as colónias. Essa oposição valeu-lhe a exoneração daquele cargo, seguida da
acusação de conspirar contra o Governo, o que o levou a ser preso em
Maio de 1930 e deportado para Ponta Delgada, nos Açores. Dali seguiu sob prisão
para a ilha da Madeira, de onde, em Novembro de 1930, se conseguiu evadir para
Londres, seguindo então para um período de exílio em Espanha. Beneficiando de
uma amnistia, regressou a Lisboa em finais de 1932.
Tolerado em
Lisboa, em 1934 assume o lugar de director da “Vida Contemporânea”, mas -
logo no ano seguinte - em 1935, foi detido e novamente deportado.
No exílio, foi uma das mais
respeitadas vozes da oposição ao Estado Novo. Foi candidato
oposicionista em diversos sufrágios e manteve sempre uma postura de grande
combatividade contra o regime ditatorial que ajudara a instalar.
Nas eleições de 18 de Novembro de
1945, para a Assembleia Nacional, foi candidato independente pelo
círculo eleitoral de Angola nas listas do Movimento de Unidade Democrática
(MUD). Dois dias antes do escrutínio atacou violentamente Salazar, de
quem disse que «não quer nem sabe trabalhar senão
quando nas ruas reina um pávido silêncio e ninguém discute os frutos do
seu labor».
Foi novamente candidato
oposicionista nas eleições para a Assembleia Nacional de 1949, também
pelo círculo de Angola.
Em 1950, participou no Directório
Democrático Social, ao lado de António Sérgio, Jaime Cortesão e Mário de
Azevedo Gomes.
Nas eleições presidenciais de
1951, com Henrique Galvão, apoiou a candidatura de Manuel Carlos Quintão
Meireles.
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