Foi uma das personalidades do
fado mais activas na segunda metade do século XX.
Por volta do ano de 1960, foi
numa visita a Lisboa que entrou na casa de fados de Márcia Condessa, também ela
fadista. Saboreando sangria, Beatriz da Conceição trauteou uns versos e foi
desafiada a cantar um fado. Imediatamente foi convidada pela proprietária para
integrar o elenco do estabelecimento. Não regressou ao Porto, radicando-se na
capital portuguesa.
O primeiro disco da Beatriz
da Conceição surgiu em 1965, para a etiqueta RCA. Um EP com o
título “Fui por Alfama”.
Fez questão de criar o seu
próprio repertório, recorrendo a poetas como Domingos Gonçalves Costa, João
Dias, César de Oliveira ou Vasco de Lima Couto. Mais tarde, destaca-se José
Carlos Ary dos Santos, que lhe escreveu, com música de Fernando Tordo, “Meu
Corpo”, um tema também conhecido como “Fado da Bia”. Este fado foi
criado para a revista “Uma no Cravo, Outra na Ditadura”, onde Beatriz da
Conceição, ao ter que substituir Tonicha, necessitou de um tema original de um
dia para o outro.
O Teatro de Revista
foi, de resto, uma componente relevante da sua carreira artística. Um dos seus
maiores sucessos surgiu na representação de “John Português”, no Teatro
ABC, tendo o tema principal, “John Português”, sido cortado pela
censura.
Entre outros êxitos de
Beatriz da Conceição saídos dos palcos encontram-se “Fado Para Esta Noite”,
“Lisboa da Cor da Ponte” ou “Três Santinhos Populares”.
Já na década de 1990
participou em “Grande Noite” (1992) e “Cabaret” (1994), musicais
feitos para televisão por Filipe La Féria.
Um dos pontos altos da sua
carreira a nível internacional foi o álbum “Tears of Lisbon”, lançado em
1996 pela Sony Classical. Com António Rocha foi convidada pelo belga
Paul Van Negel, director do agrupamento de música erudita Huelgas-Ensemble,
a participar neste trabalho, e respectivos concertos, que conjugaram fado
tradicional e música do século XVI, incluindo composições de Manuel Mendes
(1547/1605) e nomes mais actuais como Joaquim Pimentel, Fontes Rocha, Paulo
Valentim, Armando Machado, Francisco Viana ou Fernando Tordo.
Em 2007, Beatriz da Conceição
actuou no londrino Queen Elizabeth Hall, numa noite intitulada “The
Grand Divas Of Fado” que abriu o festival Atlantic Waves. O
espectáculo reuniu seis vozes da canção nacional: Aldina Duarte, Joana
Amendoeira, Mafalda Arnauth, Raquel Tavares e a também veterana estreante em
palcos britânicos Maria da Fé.
Beatriz da Conceição recebeu
em 2008 o Prémio Carreira atribuído pela Fundação Amália Rodrigues.
Também em 2008, foi homenageada na sua terra natal, juntamente com Lenita
Gentil, com o espectáculo “Alma Lusitana” apresentado no Teatro Sá da
Bandeira.
Em 2012, Beatriz foi a figura
central do documentário “O Fado da Bia”, realizado por Diogo Varela
Silva, com intervenções de Camané, Carminho, Carlos do Carmo, Aldina Duarte,
Jorge Fernando, Ana Moura, Helder Moutinho e Raquel Tavares, esta última que já
tinha assinalado publicamente a fadista como uma das suas maiores referências.
Beatriz da Conceição destacou
como sua grande referência a fadista Lucília do Carmo, destacando também
Argentina Santos e Fernanda Maria nas vozes femininas, enquanto que nos
fadistas masculinos enunciou, como seus preferidos, Alfredo Marceneiro, Carlos
Ramos, Tony de Matos, Max, Manuel de Almeida e Tristão da Silva.
Em mais de 50 anos de
carreira, cantou nas principais casas de fado de Lisboa e tornou-se numa
referência para as novas gerações.
Beatriz da Conceição faleceu
com 76 anos de idade, no Hospital de São José, em Lisboa.
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