Foi possivelmente o mais
importante activista cultural das vanguardas do início do século XX, conhecido
particularmente pela sua poesia sem pontuação e gráfica, e por ter escrito
manifestos importantes para as vanguardas em França, tais como o do Cubismo,
além de ser o criador da palavra Surrealismo.
Filho da condessa polaca
Angelica Kostrowicka e de pai desconhecido - suspeita-se de um aristocrata
suíço-italiano chamado Francesco Flugi d’Aspermont -, passou os seus primeiros
anos entre Roma, Mónaco, Nice, Cannes, Baratier e Lyon.
Desde 1902, foi um dos
membros mais populares do bairro artístico parisiense de Montparnasse.
Foram seus amigos e colaboradores Pablo Picasso, Max Jacob, André Salmon, Marie
Laurencin, André Derain, Blaise Cendrars, Pierre Reverdy, Jean Cocteau, Erik
Satie, Ossip Zadkine, Marcel Duchamp e Giorgio de Chirico.
Em 1901 e 1902, trabalhou
como preceptor da menina Gabrielle numa família alemã, na companhia da qual
viajou pela Alemanha, tendo-se apaixonado pela governanta inglesa Annie
Playden, que o recusou, sendo que a mesma partiu em 1905 para a América. Da paixão não correspondida, surgiu “ Annie et La
Chanson du Mal-Aimé ”.
Entre 1902 e 1907, de volta a
Paris, trabalhou como empregado de bancos e começou a publicar contos e poemas
em revistas.
Em 1907, conheceu a artista
plástica Marie Laurecin, com quem teve uma tumultuada
relação. É por essa época que decide viver de seus escritos.
No começo de 1907, publicou
anonimamente “As Onze Mil Varas”. Em 1909, publicou o seu primeiro livro
oficial: “O Encantador em Putrefacção”, baseado na lenda de Merlin e
Viviane. No mesmo ano, dispõe-se a publicar uma antologia dos textos do Marquês
de Sade, bem de acordo com uma característica sua que chocava os adeptos da
tradição francesa: o fascínio pelo romance libertino. Assim, o mesmo foi o
responsável pela introdução dos «livros malditos» de Sade na cena literária
francesa do início do século, que até então era um escritor praticamente
desconhecido. Na apresentação da edição, escreveu um longo ensaio biográfico no
qual se referia a Sade como «o espírito mais livre que já existiu no mundo».
Em Setembro de 1911, quando
já era reconhecido como um dos poetas mais importantes da vanguarda parisiense,
Apollinaire é acusado de cumplicidade no roubo de uma obra do Museu Louvre,
nada menos que a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, roubo no qual Pablo
Picasso, também já muito famoso, foi igualmente implicado. Ele é preso durante
uma semana e depois libertado. Esta experiência marcá-lo-á.
Aos olhos dos defensores das
tradições clássicas, que se aproveitaram da situação para denunciar «actos de
barbárie» dos estrangeiros contra a cultura nacional, pouco importava a
inocência de Apollinaire no caso, visto que ele era acusado de atentar contra
os valores da civilização, acusação esta estendida a outros estrangeiros
radicados em Paris, como Pablo Picasso, Gertrude Stein e Stravinski.
Em 1913, Apollinaire publica “Álcoois”,
colectânea dos seus trabalhos poéticos desde 1898. A sua poesia dispensava a
pontuação e a tipografia regular. Voltava-se para uma temática cosmopolita, na
qual incluía novidades técnicas como o avião, o telefone, a rádio e a
fotografia.
Em Agosto de 1914, tenta
alistar-se nas Forças Armadas Francesas, sem sucesso, visto que não
possuía a nacionalidade francesa. Em Dezembro de 1914, repete a tentativa,
sendo aceite e iniciando o seu processo de naturalização. Pouco antes de
ingressar efectivamente nas Forças Armadas, conhece e se apaixona por
Louise de Coligny-Châtillon, chamada por ele de “Lou”. É uma jovem
divorciada com um estilo de vida livre, que não esconde do poeta a sua ligação
com um homem por ela chamado de “Toutou”. Ele dedicará à moça vários dos seus
poemas.
Quando Apollinaire parte para
o campo de batalha, uma correspondência de poesia notável nasce dessa relação.
Ambos rompem em 1915, prometendo continuar amigos.
Em Janeiro de 1915,
Apollinaire conhece Madeleine Pagès num combóio, de quem ficará noivo em Agosto
daquele mesmo ano. Mas em Abril de 1915, ele parte com o regimento de
artilharia de campo Nº 38, para a frente da batalha.
Em Março de 1916, é
naturalizado francês, sendo que naquele mesmo mês é ferido gravemente na
cabeça. Após longa convalescença, volta gradativamente ao trabalho.
Em Junho de 1917, a sua peça “Les
Mamelles de Tirésias”, drama surrealista mesclando desespero com humor e
escrita durante a sua recuperação do ferimento, é encenada.
Ele também publicou um
manifesto artístico chamado “L’Esprit Noveau Et Les Poétes”. Em 1918,
publica os famosos “Calligrammes”, poemas gráficos sobre a paz e a
guerra de notável lirismo visual.
Casa com Jacqueline, a «bela
russa» do poema “La Joulie Rousse”, que publicará muitas das suas obras
póstumas.
Morreu jovem com apenas 38
anos de idade, em 1918, vítima da gripe espanhola, doença pandémica. Foi sepultado
no cemitério de Père-Lachaise em Paris, tendo o seu túmulo uma escultura
em forma de menir feita por Picasso.
A sua obra literária e
crítica anunciava os princípios de uma nova estética que tinha como fundamento
a ruptura com os valores do passado. Os seus poemas, “O bestiário ou o
cortejo de Orfeu” (1911), “Álcoois” (1913) e “Calligrammes”
(1918), “Zona”, carregado de apologia ao
cristianismo mesclado aos ideais futuristas, reflectem a influência do
simbolismo, com importantes inovações formais.
Ainda em 1913, apareceu o
ensaio crítico “Os pintores cubistas”, em defesa do novo movimento como
superação do realismo.
Também foi autor de
importantes manifestos futuristas e inventor, conforme comentários dos artistas
contemporâneos reconhecidos por Breton, do termo surrealismo, para descrever a
última das vanguardas do início do século XX.
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