EFEMÉRIDE – Luis de Góngora y Argote, religioso, poeta e dramaturgo castelhano, um dos maiores expoentes da literatura barroca do Século de Ouro, nasceu em Córdoba no dia 11 de Julho de 1561. Morreu na mesma cidade em 23 de Maio de 1627.
Pertencia a uma das famílias privilegiadas da cidade. Aos 15 anos, foi para a Universidade de Salamanca estudar Direito. Decidiu mais tarde enveredar pela carreira eclesiástica. Em 1585, já era conhecido como poeta, sendo os seus dotes líricos louvados por Miguel de Cervantes na sua “La Galatea”.
Iniciou a carreira eclesiástica na catedral de Córdova, mas a sua vida boémia e a mordacidade de algumas das suas poesias trouxeram-lhe a reprovação dos superiores, sendo-lhe negada a ordenação sacerdotal.
Nesta fase da sua vida, viajou muito por terras de Castela, de Navarra e da Galiza, tendo vivido em Madrid e Valladolid, granjeando crescente fama como poeta.
Em 1605, foi-lhe finalmente concedida a ordenação sacerdotal. Foi nomeado, em 1617, para um dos postos de capelão honorário do rei Filipe III. Fixou-se então em Madrid e passou a frequentar a corte. Ter-se-ia arruinado financeiramente devido ao seu estilo de vida, cheio de luxos e divertimentos, e por ter procurado conseguir cargos e benefícios para quase todos os seus familiares.
Pelos pleitos, documentos e sátiras do seu grande rival Francisco de Quevedo, sabe-se que era jovial e falador, muito sociável e amigo das diversões profanas, como por exemplo os jogos de cartas e os toiros, a ponto de ter sido muitas vezes censurado por não dignificar os hábitos eclesiásticos. Na época, era já considerado um mestre da sátira.
Em 1613, compôs as “Soledades”, originalmente imaginadas em quatro longos poemas, mas dos quais ele apenas escreveu dois, que constituem aliás o apogeu da sua obra.
Em 1626, uma grave doença, que lhe prejudicou gravemente a memória, levou-o a regressar a Córdova, cidade onde veio a falecer, sem nunca recuperar a saúde.
Góngora, aparentemente, não tinha grande apreço pelas vantagens do livro impresso. Apesar de ter tido, desde cedo, muitos admiradores da sua obra, só em 1623 empreendeu uma tentativa de publicação, a qual, apesar das cartas trocadas com o editor e do seu aparente empenho, não logrou êxito. Daí que Góngora não tenha publicado qualquer livro, tendo a divulgação das suas obras seguido o padrão típico da época anterior à introdução da imprensa: elas passaram de mão em mão, em cópias manuscritas, que foram sendo coleccionadas e recopiadas em cancioneiros, romanceiros e antologias, alguns deles publicados posteriormente com ou sem permissão do autor.
Em resultado desta divulgação não impressa, são múltiplas as cópias existentes das diversas obras, algumas com variantes “eventualmente” do autor. Entre as variantes conhecidas, é considerada como preservando o texto mais fidedigno a contida no chamado “Manuscrito Chacón”, copiado para o Conde-Duque de Olivares, já que contém anotações escritas à mão por Góngora e a cronologia de cada poema.
No ano em que faleceu, Juan López Vicuña publicou uma antologia intitulada “Obras en verso del Homero español”, a primeira edição impressa dedicada exclusivamente às obras de Góngora. Apesar de uma dedicatória ao censor geral, a edição foi mandada recolher pela Inquisição, sendo pouco divulgada. Nova edição surgiu em 1633, pela mão de Gonzalo de Hoces.
Nas suas obras iniciais já se podem encontrar as características típicas do barroco, mas Góngora, cujo talento era o de um esteta com forte tendência para a autocrítica (costumava dizer: «el mayor fiscal de mis obras soy yo»), não se conformava com os cânones existentes. Assim, decidiu tentar, segundo as suas próprias palavras, «hacer algo no para muchos» e intensificar ainda mais a retórica e a imitação da poesia latina clássica. Para tal, introduziu numerosos cultismos e uma sintaxe baseada no hipérbato e na simetria.
Estava igualmente muito atento à sonoridade dos versos, que cuidava como um autêntico músico da palavra. Góngora enchia a sua poesia de matizes sensoriais de cor, som e tacto. Convertia cada um dos seus poemas, com particular destaque para os da sua fase mais tardia, num exercício para mentes despertas e eruditas, como uma espécie de adivinha ou desafio intelectual destinado a causar prazer na sua decifração.
Estes eram os traços mais marcantes da estética barroca de Góngora, a que depois se chamou gongorismo. Deste gongorismo, nasceu o hoje depreciativo epíteto de gongórico, por vezes aplicado à linguagem prolixa e convoluta.
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