quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

29 DE DEZEMBRO - ALVES REDOL

EFEMÉRIDE - António Alves Redol, escritor considerado como um dos expoentes máximos do Neo-realismo português, nasceu em Vila Franca de Xira no dia 29 de Dezembro de 1911. Morreu em Lisboa, em 29 de Novembro de 1969.

Alves Redol, criado no Ribatejo, presenciou desde jovem as precárias condições de vida do homem rural, o que - mais tarde- iria reflectir de forma preponderante na sua escrita.

Filho de um comerciante de pequeno porte, na infância sonhava tornar-se médico mas, influenciado pelo seu avô e dada a admiração que foi nutrindo pelos jornalistas e escritores, passou a aspirar uma vida dedicada às letras. O pai, no entanto, pretendia para o filho uma carreira no comércio, mandando António Alves Redol frequentar o Curso Comercial, no Colégio Arriaga. Por volta dos 14 anos, começou a enviar as suas prosas para os jornais.

Aos 15 anos passou a trabalhar como vendedor de mercearias e, mais tarde, de tecidos. Ao fim de pouco mais de um ano, corria o ano de 1929, partiu para Angola, exercendo, primeiramente, a função de operário em Luanda e depois na agricultura, numa fazenda do interior, com o objectivo de conseguir novas e melhores perspectivas de vida futura. Contudo, depara, viveu nessa região uma intensa situação de miséria e pobreza que o faz regressar à metrópole.

Quando regressa a Portugal, emprega-se numa casa comercial de automóveis, pneus e lubrificantes. Ao mesmo tempo, leccionou Língua Portuguesa a título particular. Começou a conviver com intelectuais de esquerda e aderiu aos ideais do Partido Comunista Português, do qual se torna militante no início dos anos 1940, e do Movimento de Unidade Democrática, contrapondo-se, veemente, à conjuntura política da época, trazendo à tona diversas questões “esquecidas”.

Em virtude da sua convivência com as péssimas condições de vida das camadas rurais e de vivenciar duplamente essas condições (na infância e na juventude), volta o seu olhar para a dimensão social, mais especificamente, para as questões de reivindicação de mudança social. A essa altura, reafirma a sua vocação para a escrita. Cria a Secção De sol a sol”, no jornal “O Diabo”, em que passa a publicar textos voltados para as tensões sociais, contrapondo-se, assim, aos ideais de exploração dos regimes totalitários.

Fillus 2002” sinaliza o facto de a crise económica da década de 1920 ocasionar uma serie de problemáticas sociais, tais como: desemprego, fome, miséria e, sobretudo, a crise do capitalismo. Diante desse quadro, eclodem os regimes totalitários (no solo português, o Salazarismo), iniciando uma intensa repressão, censura e exploração das classes minoritárias.

Tendo como pano de fundo esse contexto, surge o Neo-realismo, uma literatura de cunho político, que se opõe, veementemente, à opressão dos regimes totalitários. Eclode, assim, um novo conceito de arte numa perspectiva de consciencialização, acompanhada de novo papel social para o artista enquanto defensor da sociedade que busca melhorias a partir da ampliação da visão de mundo.

Isso entra em sintonia com “Fillus 2002”, pág.127, que diz «movimento neo-realista corresponde a uma nova tomada de consciência da sociedade portuguesa». Dentre os autores que defendem uma criação literária de denúncia das condições de exploração do povo (em sua grande diversidade), está Alves Redol

“Figueiredo 2005sinaliza o facto de a obra de Redol estar directamente ligada às questões económicas, políticas, sociais e culturais respeitantes ao mundo do autor. Ou seja, os seus escritos voltam-se para uma perspectiva de cunho social, primando, sobretudo, pela crítica ao regime de Salazar, transformando as suas obras em instrumento de intervenção social. Um aspecto que ilustra esse viés é o facto de esse autor não se restringir ao uso de histórias de ficção, mas, acima de tudo, lançar mão de histórias que focam na realidade social circundante. Algumas dessas temáticas eram até então ignoradas.

Em vista disso, Redol sofre repressão da ditadura militar, chegando até a ser preso e torturado. Ao lançar mão dessa postura de preocupação social, ele toma como base alguns ideais do marxismo e do socialismo, empregando na sua escrita os pressupostos de autores revolucionários clássicos tais como: Marx, Engels, Lenine, Lefebvre, Bukharin e Georges Friedmann. E, à luz desses escritores adeptos do Marxismo e do Socialismo, Redol passa a abordar as condições de vida dos trabalhadores que viviam à margem da sociedade por conta de uma exploração desumana. Para tanto, ele retrata os diversos profissionais rurais e urbanos (destacando os seus inúmeros grupos), suas práticas corriqueiras do dia a dia e, sobretudo, as suas péssimas condições de vida em decorrência do capitalismo.

Muitos críticos literários e autores expressaram as suas opiniões sobre Redol, entre eles, Mário Dionísio que prefaciou a obra “Barranco de Cegos”.  

A autora de contos e poesias para o público adulto e infantil, Matilde Rosa Araújo disse: «Julgo que toda a obra de Alves Redol vive na raiz de um profundo respeito de amor pelos direitos do Homem. E, necessariamente, pelos direitos da criança».

Alves Redol foi director do semanário ribatejano “Goal” (1933) e também se encontra colaboração da sua autoria no semanário “Mundo Literário” (1946/1948).

Sem comentários:

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
- Lisboa, Portugal
Aposentado da Aviação Comercial, gosto de escrever nas horas livres que - agora - são muitas mais...