Alves Redol, criado no Ribatejo, presenciou desde jovem as
precárias condições de vida do homem rural, o que - mais tarde- iria reflectir
de forma preponderante na sua escrita.
Filho de um comerciante de
pequeno porte, na infância sonhava tornar-se médico mas,
influenciado pelo seu avô e dada a admiração que foi
nutrindo pelos jornalistas e escritores, passou a aspirar uma vida dedicada
às letras. O pai, no entanto, pretendia para o filho uma carreira no comércio, mandando António Alves Redol frequentar o Curso
Comercial, no Colégio Arriaga. Por volta dos 14 anos, começou a enviar as suas prosas para os jornais.
Aos 15 anos passou a trabalhar
como vendedor de mercearias e, mais tarde, de tecidos.
Ao fim de pouco mais de um ano, corria o ano de 1929, partiu para Angola,
exercendo, primeiramente, a função de operário em Luanda e depois na
agricultura, numa fazenda do interior, com o objectivo de conseguir novas e melhores perspectivas de vida futura. Contudo,
depara, viveu nessa região uma intensa situação de miséria e pobreza que
o faz regressar à metrópole.
Quando regressa a Portugal,
emprega-se numa casa comercial de automóveis, pneus e lubrificantes. Ao mesmo
tempo, leccionou Língua Portuguesa a título
particular. Começou a conviver com intelectuais de esquerda e aderiu aos ideais do Partido Comunista Português,
do qual se torna militante no início dos anos 1940, e do Movimento de
Unidade Democrática, contrapondo-se, veemente, à conjuntura política da época, trazendo à tona
diversas questões “esquecidas”.
Em virtude
da sua convivência com as péssimas condições de vida das camadas rurais e
de vivenciar duplamente essas
condições (na infância e na juventude), volta o seu olhar para a dimensão social, mais especificamente, para as questões
de reivindicação de mudança social. A essa altura,
reafirma a sua vocação para a escrita. Cria a Secção “De
sol a sol”, no jornal “O Diabo”, em que passa a publicar textos
voltados para as tensões sociais, contrapondo-se, assim,
aos ideais de exploração
dos regimes totalitários.
“Fillus
2002” sinaliza o facto de a crise económica da década de 1920 ocasionar
uma serie de problemáticas
sociais, tais como: desemprego, fome, miséria e, sobretudo, a crise do
capitalismo. Diante desse quadro, eclodem os regimes
totalitários (no solo português, o Salazarismo), iniciando uma
intensa repressão, censura e exploração das classes
minoritárias.
Tendo como pano de fundo esse
contexto, surge o Neo-realismo, uma literatura de cunho
político, que se opõe, veementemente, à opressão
dos regimes totalitários. Eclode, assim, um novo
conceito de arte numa perspectiva de consciencialização, acompanhada de novo
papel social para o artista enquanto defensor da
sociedade que busca melhorias
a partir da ampliação da visão de mundo.
Isso entra
em sintonia com “Fillus 2002”, pág.127, que diz «movimento
neo-realista corresponde a uma nova tomada de consciência da sociedade
portuguesa». Dentre
os autores que defendem uma criação literária de denúncia das condições de
exploração do povo (em sua
grande diversidade), está Alves Redol
“Figueiredo
2005” sinaliza
o facto de a obra de Redol
estar directamente ligada às questões económicas, políticas, sociais e
culturais respeitantes ao mundo do autor. Ou seja, os seus escritos voltam-se para uma
perspectiva de cunho social, primando, sobretudo,
pela crítica ao regime de Salazar, transformando as suas obras em instrumento
de intervenção social. Um aspecto que ilustra esse viés
é o facto de esse autor não se restringir ao uso de histórias de ficção,
mas, acima de tudo, lançar mão de histórias que focam na realidade
social circundante. Algumas dessas temáticas eram
até então ignoradas.
Em vista disso, Redol sofre
repressão da ditadura militar, chegando até a ser preso e torturado. Ao lançar
mão dessa postura de preocupação social, ele toma como base alguns ideais do marxismo e do socialismo,
empregando na sua escrita os pressupostos de autores
revolucionários clássicos tais como: Marx, Engels, Lenine, Lefebvre,
Bukharin e Georges Friedmann. E, à luz desses escritores
adeptos do Marxismo e do Socialismo, Redol passa a abordar as
condições de vida dos trabalhadores que viviam à margem da sociedade por conta de uma exploração desumana.
Para tanto, ele retrata os diversos profissionais
rurais e urbanos (destacando os seus inúmeros grupos),
suas práticas corriqueiras
do dia a dia e, sobretudo, as suas péssimas condições de vida em decorrência do
capitalismo.
Muitos críticos literários e
autores expressaram as suas opiniões sobre Redol,
entre eles, Mário Dionísio que prefaciou a obra “Barranco de Cegos”.
A autora
de contos e poesias para o público adulto e infantil, Matilde Rosa Araújo disse:
«Julgo que toda
a obra de Alves Redol
vive na raiz de um profundo respeito de amor pelos direitos do Homem. E,
necessariamente, pelos direitos da criança».
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