EFEMÉRIDE – João Domingos Bomtempo, compositor, pianista, oboísta e pedagogo português, nasceu em Lisboa no dia 28 de Dezembro de 1775. Faleceu, também na capital portuguesa, em 18 de Agosto de 1842, vítima de apoplexia. O pai, que viera para Portugal no tempo de D. José, era oboísta na Corte de Lisboa e foi o seu primeiro professor de música.
Fez estudos no Seminário Patriarcal e, aos 14 anos, foi admitido na Irmandade de Santa Cecília como cantor da Capela Real da Bemposta. Aos vinte anos tomou o lugar do seu pai, que entretanto morrera.
Em 1801 decidiu ir para Paris, onde encontrou um bom ambiente para desenvolver a sua vocação musical, tendo convivido com vários exilados adeptos das novas correntes filosóficas e políticas, que se reuniam à volta do poeta Filinto Elísio. Iniciou então a carreira de pianista, ao mesmo tempo que apresentava as suas primeiras composições. Data dessa época, a “Grande Sonata para Piano” dedicada a “Sua Alteza Real, a Princesa de Portugal”.
As suas obras eram muito apreciadas pelos parisienses. Em 1804 atingira já uma fama notável, apresentando-se, entre outros locais, na Salle Olympique como pianista e compositor.
Entretanto, em Portugal, as tropas de Napoleão sofriam pesadas derrotas infligidas pelo exército luso-inglês e a sua situação em França começou a tornar-se delicada. Partiu para Londres em 1810, onde foi muito bem recebido pela comunidade portuguesa. Algumas famílias da aristocracia inglesa contrataram-no como professor de piano.
Publicou a maior parte das suas obras na editora do também músico Clementi, seu amigo desde os tempos de Paris.
Em 1813 o embaixador de Portugal em Londres realizou um grande festival para uma dupla celebração: o aniversário daquele que viria a ser o rei D. João VI e a expulsão do exército francês do território nacional. Influenciado pela euforia do momento, João Domingos Bomtempo compôs uma cantata intitulada “Hino Lusitano”. No festival apresentou-se perante uma audiência de personalidades, que incluía a quase totalidade do Conselho de Ministros britânico.
Em 1815 regressou a Portugal e uma das ideias que trazia em mente era fundar uma sociedade de concertos ao estilo da “Philharmonic Society” londrina. O ambiente que se vivia em Portugal não era no entanto dos melhores, o que o obrigou a regressar a Londres, onde continuou a publicar inúmeras composições.
Em 1816 passou por Paris, vindo a Lisboa quando da morte de D. Maria I no Brasil. Em 1817 o General Gomes Freyre foi enforcado no Forte de S. Julião da Barra e este ambiente de repressão levou-o de novo a Paris onde, no entanto, a crispação política já não era também muito propícia às artes. De regresso a Portugal, dedicou-se à composição da que é considerada a sua obra-prima, o “Requiem” dedicado a Camões, que é talvez o requiem mais importante composto entre o de Mozart (1791) e o de Berlioz (1837).
João Domingos Bomtempo voltou a sair do país para, em Março de 1821, apenas alguns meses depois da Revolução de 1820, oferecer ao Soberano Congresso, uma nova missa de homenagem à regeneração política portuguesa. Esta missa foi cantada na Igreja de S. Domingos no dia 28 de Março, seguida de um Te Deum. Alcançou a estima de D. João VI e dirigiu as exéquias fúnebres de D. Maria I quando os seus restos mortais chegaram a Lisboa. Conseguiu obter finalmente as condições que lhe permitiram fundar em 1822 a ambicionada Sociedade Filarmónica. No entanto, a política interpôs-se uma vez mais no seu caminho, quando a reacção miguelista lhe proibiu a realização de concertos. Este foi um período difícil na sua vida, em que até a integridade física esteve seriamente ameaçada. Acabou por se refugiar no Consulado da Rússia, onde se manteve durante cinco anos, até à chegada a Lisboa das forças liberais de D. Pedro.
Com o Constitucionalismo, J. D. Bomtempo pôde enfim retomar a sua actividade artística e foi nomeado professor da rainha D. Maria II. Em 1835 compôs, por ocasião do primeiro aniversário da morte de D. Pedro IV, uma “Segunda Sinfonia” e um “Libera Me”. Em 1836 foi criado o Conservatório Geral de Arte Dramática, sendo entregue a Bomtempo a Direcção da sua Escola de Música, mantendo-se como chefe da Orquestra da Corte e acumulando também com as funções de professor de piano.
Do seu espólio musical fazem parte sonatas, concertos para piano, sinfonias, várias obras corais e uma ópera inacabada.
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