EFEMÉRIDE – António Ferreira Gomes, religioso católico português, bispo da Diocese do Porto de 1952 a 1982, morreu em Ermesinde no dia 13 de Abril de 1989. Nascera em Milhundos, em 10 de Maio de 1906. Era filho de abastados agricultores da região de Penafiel. Esteve exilado por ordem de Salazar entre 1959 e 1969.
Em 1916, começou o curso preparatório do Seminário do Porto onde, em 1925, se licenciou em Teologia. Rumou então para Roma e aí se doutorou em Filosofia na Universidade Gregoriana. Foi ordenado presbítero em Setembro de 1928. No ano seguinte foi nomeado professor (desempenhando depois funções de prefeito, vice-reitor e reitor) no Seminário de Vilar, no Porto.
Em 1936, com 30 anos, foi nomeado cónego capitular da Sé do Porto. Exerceu ainda, nesta cidade, as funções de assistente da Liga Católica Masculina e da Liga Universitária Católica (Secção de Engenharia). Em Janeiro de 1948 foi eleito bispo titular de Rando e coadjutor do bispo de Portalegre, a quem sucedeu por morte deste em 1949.
Em Outubro de 1952 fez a entrada solene na Sé do Porto, como seu bispo. Conhecedor profundo de latim, grego, francês e inglês, era dotado de grande cultura, interessando-se não só por questões históricas mas também por problemas sociais. No Porto, como antes em Portalegre, promoveu a organização dos arquivos e a defesa do património artístico das igrejas.
Coincidindo com a campanha da candidatura presidencial de Humberto Delgado em 1958 e, no exercício do magistério episcopal e em defesa da doutrina social da Igreja Católica, teve a coragem frontal de, numa carta dirigida a Salazar, tecer críticas contundentes relativas à situação político-social e religiosa do País, o que lhe veio a custar o exílio.
Enquanto esteve exilado, residiu em Espanha, na República Federal Alemã e em França, tendo sido nomeado pelo Papa João XXIII membro da Comissão Pontifícia de Estudos Ecuménicos para a preparação do Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965. Neste concílio teve intervenções sobre a nomeação dos bispos e sobre o Ecumenismo.
Após o afastamento político de Salazar, ocorrido em 1968, e no seguimento da denominada “primavera marcelista”, regressou a Portugal em Junho de 1969, tendo retomado o governo da diocese portucalense onde procedeu a uma ampla e dinâmica reestruturação.
Tendo sido o fundador do semanário “Voz Portucalense” e do boletim da Igreja Portucalense, foi também, nos anos 1970, responsável pela criação da Secção Diocesana da Comissão Pontifícia “Justiça e Paz” e pela instituição do Gabinete de Opinião Pública.
Em Setembro de 1978, cinquenta anos após a sua ordenação, iniciaram-se as comemorações das suas bodas de ouro sacerdotais. O pedido de resignação da diocese, formulado nos princípios de 1981, foi atendido pela Santa Sé em Fevereiro do ano seguinte, tendo cessado funções em Maio, com perto de 35 anos de episcopado.
Procurou o anonimato para recolhimento e estudo, retirando-se para uma casa diocesana em Ermesinde. Foi agraciado pela Câmara Municipal do Porto, em homenagem pública, com a Medalha de Honra da Cidade e, também, a Câmara Municipal de Penafiel lhe conferiu a Medalha de Ouro da Cidade, tendo ambas as edilidades perpetuado o seu nome em artérias citadinas. Foi ainda galardoado com a Grã-Cruz da Ordem de Liberdade (1976) e com a Ordem Militar de Cristo (1983), depois de ter sido alvo de um voto de homenagem aprovado pela Assembleia da República que evocou e elogiou a sua personalidade (1982).
Por testamento de Agosto de 1977, criou a “Fundação Spes”, «instituição de natureza perpétua, de fins benéficos, educativos e culturais sob inspiração cristã», cuja acção «se desenvolverá em toda a Diocese portucalense, com preferência para as cidades do Porto e Penafiel, Vila Nova de Gaia e seus termos».
Além de colaboração diversa no diário “Comércio do Porto”, na “Voz do Pastor”, no jornal “Novidades” e nos órgãos de comunicação social que criou, publicou: “Herói e Santo” (peça de teatro), diversas “Pastorais” e vários livros de índole religiosa e social. Encontra-se sepultado no cemitério paroquial de Milhundos. A sepultura é encimada por uma cruz, tendo no centro uma rosa, símbolo da aspiração cristã de Beleza e de Amor (como fez questão de determinar no artigo décimo do seu testamento).
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