quinta-feira, 16 de setembro de 2010

EFEMÉRIDEVíctor Lidio Jara Martínez, professor, director de teatro, poeta, cantor, compositor, músico e activista político chileno, morreu em Santiago no dia 16 de Setembro de 1973. Nascera em Lonquén, em 28 de Setembro de 1932.
Oriundo de uma família de camponeses pobres, Jara tornou-se um reconhecido director de teatro, dedicando-se ao desenvolvimento da arte no país, dirigindo uma vasta gama de obras locais, assim como clássicos da cena mundial. Simultaneamente, desenvolveu uma carreira no campo da música, desempenhando um papel central entre os artistas que estabeleceram o movimento da Nueva Canción Chilena, que gerou uma revolução na música popular de seu país durante o governo de Salvador Allende. Também era professor, tendo leccionado Jornalismo na Universidade do Chile.
Aos seis anos de idade, Víctor já trabalhava no campo, para ajudar a família constituída pelos pais e cinco filhos. O pai tornou-se alcoólico e violento, abandonando a família quando Victor ainda era criança. A mãe criou os filhos insistindo na ideia de que todos deveriam frequentar a escola.
Em consequência de um grave acidente no lar sofrido por uma irmã de Víctor, a família foi morar para a capital do país, Santiago, à procura de melhores condições de vida. Víctor ingressou no Liceu Ruíz-Table, onde se destacou como bom estudante e completou os estudos primários.
O duro trabalho da mãe trouxe algum progresso económico para a família, mas obrigou-a a dedicar pouco tempo aos filhos. A mudança para o bairro de “Chicago Chico” deu ao jovem Víctor a possibilidade de se relacionar com outros jovens da mesma origem e condição, agrupando-se na altura em torno do Partido Democrata Cristão. Cantavam, escutavam música clássica, saíam em excursões, jogavam futebol e formaram um coro. Os estudos religiosos faziam parte da sua formação. Durante os estudos secundários, no chamado “Instituto Comercial”, parece ter existido em Víctor o sonho secreto de seguir a carreira de padre. Em 1950, a mãe morreu repentinamente.
Mudaram-se para Población Nogales e deixou os estudos para trabalhar numa fábrica de móveis. Seguindo os conselhos do padre Rodríguez, ingressou depois no seminário e na Congregação dos Redentoristas, em San Bernardo.
Dois anos mais tarde, em 1952, abandonou o seminário, ao constatar a sua falta de vocação, mas lembraria positivamente o canto gregoriano e as interpretações litúrgicas. A saída do seminário coincidiu com a ida para a tropa.
Aos 21 anos entrou no coro da Universidade do Chile, participando na montagem de “Carmina Burana” e começou o seu trabalho de pesquisa e compilação folclórica. Três anos mais tarde, fez parte do grupo de teatro “Compañía de Mimos de Noisvander” e começou a estudar "Actuação e Direcção" na Escola de Teatro da Universidade do Chile.
Em 1957 faz parte do grupo de cantos e danças folclóricas “Cuncumén”, onde conheceu Violeta Parra, que o encorajou a continuar na profissão.
Com 27 anos dirigiu a sua primeira obra de teatro “Parecido a la Felicidad”, encenando-a em vários países latino-americanos. Como solista do grupo folclórico, gravou o seu primeiro disco, “Dos Villancicos”. No ano a seguir, participou como assistente de direcção na montagem de “La Viuda de Apablaza” e dirigiu “ La Mandrágora”.
Em 1961, como director artístico do grupo “Cuncumén”, viajou pela Holanda, França, União Soviética, Checoslováquia, Polónia, Roménia e Bulgária.
Em 1961 compôs a sua primeira canção, “Paloma Quiero Contarte”, continuando o seu trabalho como assistente de direcção e director de várias peças teatrais. Começou a trabalhar como director na Academia de Folclore da Casa da Cultura de Ñuñoa, função que desempenhou até 1968. Nessa época, e até 1970, faz parte da equipa residente de directores do Instituto de Teatro da Universidade do Chile. Entre 1964 e 1967 foi professor de Actuação na Universidade.
Recebeu o prémio “Laurel de Oro” de Melhor Realizador, o “Prémio da Crítica do Círculo de Jornalistas” pela Melhor Direcção, com “La Maña”, e um Disco de Prata da discográfica EMI-Odeón.
Com a canção “Plegaria a un labrador” ganhou o 1º prémio do “Primeiro Festival da Nova Canção Chilena” e viajou até Helsínquia para participar num Comício Mundial de Jovens pelo Vietname.
Em 1970 participou em Berlim na Convenção Internacional de Teatro e em Buenos Aires no Primeiro Congresso de Teatro Latino-Americano. Envolveu-se na campanha eleitoral da Unidade Popular e editou o disco “Canto Libre".
Foi nomeado Embaixador Cultural do Governo da Unidade Popular e entrou para o Departamento de Comunicações da Universidade Técnica do Estado. Na editora Dicap, editou o disco “El Derecho de Vivir en Paz”, que foi premiado com um “Laurel de Oro”.
Trabalhou como compositor de música na Televisão Nacional do Chile desde 1972 até 1973, foi à URSS e a Cuba e dirigiu a homenagem a Pablo Neruda pela obtenção do Prémio Nobel.
Participou em trabalhos voluntários para impedir a paralisação do país, que as forças reaccionárias queriam conseguir mediante a greve dos camionistas. Respondendo ao apelo de Pablo Neruda, participou como director e cantor num ciclo de programas da TV contra a guerra e contra o fascismo.
O golpe de estado de Pinochet, em 11 de Setembro de 1973, surpreendeu Jara na universidade. É detido, juntamente com outros alunos e professores, e conduzido ao Estádio Chile, convertido em campo de concentração. Torturado, cortaram-lhe os dedos com um machado, como parte do “castigo” dos militares, pelo seu trabalho de consciencialização social junto dos sectores mais desfavorecidos do povo chileno. Seguidamente pediram-lhe para cantar e ele virando-se para os outros detidos cantou o Hino da Unidade Popular que, em breve, se tornaria num coro imenso. Morreu então crivado de balas. Jara era membro do Partido Comunista do Chile e, antes de ser preso e assassinado, integrava o Comité Central das Juventudes Comunistas do Chile.
Em Setembro de 2003, trinta anos após o seu assassinato, o Estádio Chile foi rebaptizado como Estádio Victor Jara, em homenagem ao cantor e à sua família.
O seu enterro definitivo só teve lugar em 2009, depois de três dias de homenagens populares, no Cemitério Geral de Santiago. À cerimónia assistiu a viúva, as suas duas filhas, a Presidente do Chile Michelle Bachelet e mais de 5000 pessoas.

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