Gabrielle era filha de Eugénie
Jeanne Devolle, uma lavadeira, solteira quando ela nasceu, tendo a estilista
nascido num hospital de caridade dirigido pelas Irmãs da Providência",
em Saumur, no interior da França. Ela era a segunda filha de Eugénie. O pai,
Albert Chanel, era um vendedor ambulante, que comercializava roupas de trabalho
e roupas íntimas, viajando por diferentes cidades, tinha contactos esporádicos
com a sua família, que era sustentada por ele e vivia numa humilde pensão. Em
1884, Albert casou-se com Eugénie, após ser pressionado pela família dela a
oficializar a união, visto que era uma desonra uma mulher viver junto com um
homem e ter filhos com ele, sem se casar no civil, sendo considerada uma
concubina. Tiveram cinco filhos.
Em 1895, quando Gabrielle tinha
doze anos, a mãe morreu de tuberculose aos trinta e um anos. O pai de Gabrielle
colocou as duas filhas num internato católico para raparigas, chamado Colégio
Nossa Senhora da Misericórdia, enquanto os dois filhos (um falecera à
nascença) trabalhavam com ele numa quinta. Aos dezoito anos, embora pudesse
permanecer em Aubazines, Chanel decidiu morar numa pensão reservada para jovens
católicas, na cidade de Moulins.
Aos 18 anos, deixou o orfanato em
Aubazines, sendo transferida para o Institut Notre-Dame de Moulins, uma
pensão para raparigas, mantida por religiosas católicas. Lá se aperfeiçoa como
costureira e reencontrou a sua tia, irmã mais nova de sua mãe, Adrienne, que
também passou a vida em pensionatos. Ambas têm quase a mesma idade e, sobretudo,
a mesma ambição de sair da condição de pobreza. Em 1903, consideradas aptas a
manejar a linha e a agulha, as duas jovens foram encaminhadas pelas freiras para
Maison Grampayre, um atelier de costura especializado na confecção de
enxovais. Então, financeiramente independentes e trabalhando como costureiras
no atelier, decidem deixar o pensionato e passam a dividir um quarto alugado,
em Moulins.
Por volta de 1907, muito
cortejada, Chanel faz as suas primeiras aparições no La Rotonde, um
café-concerto, frequentado por oficiais de um regimento de cavalaria
estacionado em Moulins. Ali, ela apresenta-se como cantora sonhando com o music-hall.
O seu apelido, Coco, surgido nessa época, foi-lhe dado pelos oficiais,
possivelmente a partir de uma canção, que ela interpretava. Cercada por vários
jovens oficiais, muitos deles ricos ou aristocráticos, ela acaba por seduzir um
deles, Etienne Balsan (1880/1953), um socialite, herdeiro de uma fábrica
de tecidos que fazia uniformes do exército. Com ele, teve o seu primeiro relacionamento
sério. Balsan acabara de deixar o exército para se dedicar à criação de
cavalos. Ele, então, hospedou-se no em seu castelo, perto de Compiègne. Durante
um ano, ficaram juntos, mantendo-se amigos por toda a vida.
O namoro com Balsan propiciou-lhe
frequentar um ambiente de alta classe onde, por volta de 1909, ela conheceu o
milionário inglês Arthur Capel, que seria o grande amor da sua vida. Capel
ajudou-a a sair do atelier de costura e a abrir a sua primeira loja de chapéus,
que faria Chanel tornar-se um sucesso e logo apareceria nas revistas de
moda mais famosas de Paris. O romance com Arthur Capel, que era casado, durou
dez anos. A história terminou tragicamente, quando ele morreu num desastre de
carro, em 1919. Abalada com o sucedido, vendeu a sua loja de chapéus e abriu o seu
primeiro atelier de costura, onde descobriu o seu dom para desenhar,
comercializando também chapéus. Nessa mesma casa, começou a vender roupas
desportivas, que ela mesma desenhava e confeccionava, roupas estas que serviam
tanto para ir à praia quanto para montar a cavalo. Pioneira, também desenhou e
produziu as primeiras calças femininas.
Em 1920, iniciou um
relacionamento com o compositor Ígor Stravinski, que era casado. Exilado e
pobre, Stravinsky aceitou a hospitalidade de Coco em sua casa, perto de
Paris, levando a mulher Katarina e os quatro filhos. Coco, portanto,
convivia diariamente com a família de seu amante e, mesmo depois de um ano,
quando se foram embora, continuaram com o romance proibido. Eles foram amantes durante
sete anos.
Logo após o término, Chanel
apaixonou-se pelo jovem grão-duque da Rússia no exílio, Dmitri Pavlovich
Romanov (1891/ 1941), que havia fugido de seu país logo após a Revolução.
Eles namoraram cinco anos. A sua relação com Dmitri fê-la desenhar roupas com
bordados do folclore russo e, para isso, contratou 20 bordadeiras. Neste
período, Chanel conheceu muitos artistas importantes, tais como Pablo Picasso,
Luchino Visconti e Greta Garbo.
As suas roupas passaram a vestir
as grandes actrizes de Hollywood e o seu estilo ditava a moda em todo o mundo.
Os seus tailleurs são referência até hoje. Além de confecções, desenvolveu
perfumes com a sua marca. Em 1920, cria o perfume que iria convertê-la numa
grande celebridade, o Chanel Nº 5. O nome se deve ao facto de ter sido a
quinta fragrância apresentada a ela, para que escolhesse e porque o 5 era o seu
algarismo da sorte. Depois desse perfume, veio o nº 17, mas não teve o
mesmo sucesso.
Durante a Segunda Guerra
Mundial, Chanel fechou a casa de costura, mas, como várias outras
celebridades francesas, a exemplo de Edith Piaf, Maurice Chevalier, Jean
Cocteau e François Mitterrand, permaneceu no seu país. No período da ocupação
alemã (1940/ 1944), após outros relacionamentos casuais ao longo dos anos com
homens da alta-sociedade, envolveu-se romanticamente com o alemão Hans
Dincklage, um profissional da Abwehr (inteligência militar alemã) que
operava na França desde o final dos anos 1920. O casal ficou seis anos
juntos. Reabriu a sua casa em 1954. No final da guerra, os franceses condenaram
aquele romance e deixaram de frequentar a sua casa. Chanel passou a ter
dificuldades financeiras, por conta disso, e decidiu terminar o namoro, para
manter a sua carreira profissional em ascensão. Para manter o seu atelier
aberto, ela começou a vender as suas roupas para o outro lado do atlântico,
passando a residir temporariamente na Suíça, onde se relacionou amorosamente
com banqueiros, empresários, condes, duques e políticos. Em razão da admiração
da ex-primeira-dama Jackie Kennedy, ela reapareceu nas revistas de moda com os seus
tailleurs. Dois anos depois, voltou a residir na França.
Coco Chanel era feminista e optou por não se casar nem ter filhos. Sempre independente, a carreira profissional era a sua prioridade. Devido à idade avançada, passou a residir em hotéis, onde não se sentiria tão sozinha, tendo sempre pessoas por perto para poder conversar. Chanel faleceu no seu quarto, vítima de um infarto, em 1971, no Hotel Ritz, onde vivia há vários anos. O seu funeral foi assistido por centenas de pessoas que vestiam as suas roupas, como forma de homenageá-la.
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